Ratzinger e a justiça divina

Logo após eu publicar aquela notícia sobre a rede de prostituição dentro do próprio Vaticano, recebi emails desaforados amaldiçoando até a minha quinta geração, como se eu fosse o culpado e como se realmente eu me preocupasse com isso, com as maldições. O que realmente me tira do centro é ver as pessoas pedindo para continuarem nesta condição no melhor estilo do pior cego: o que não quer ver.

Pois aconteceu novamente, desta vez descobriram que o próprio Ratzinger, em 1996, quando ainda dirigia a Congregação para a Doutrina da Fé -congregação esta que decide pelas expulsões e canonizações- decidiu encobrir os crimes de Lawrence C. Murphy, que abusou de 200 crianças surdas em Wisconsin durante mais de 20 anos. Ao invés de castigar e expulsar Murphy, Ratzinger decidiu transferi-lo de diocese depois que o padreco enviou uma carta dizendo que estaria muito doente e que queria viver seus últimos dias na dignidade do sacerdócio. O vagabundo sem vergonha morreu em 1998, 24 anos depois, sem que nada tenha lhe acontecido e adivinhem: trabalhando somente com crianças.

O que vem acontecendo na ICAR é muito grave e não dá mais para varrerem o pó para debaixo do tapete e nem para mantermos a viseira religiosa como desculpa. Quando Ratzinger se elegeu Papa todos já sabiam que ele era o diretor (ou prefeito, sei lá) de tal congregação e encarregado de zelar pela obediência aos termos do Crimen Solliciatonis que é basicamente uma cartilha para ensinar os bispos como lidar com acusações contra padres pedófilos. Lógico que esta sujeira um dia iria aparecer

Vejam por exemplo os recentes casos de abuso envolvendo os padres da Igreja irlandesa que obrigaram, na passada semana, a que Ratzinger emitisse uma pastoral pedindo desculpas aos católicos do país. A reação teria sido a correta se ele listasse também as centenas de países onde aconteceram e que com certeza ainda acontecem os sérios problemas. Sua homilia, do dia 23 de março onde diz que "temos que aprender a ser intransigentes com o pecado, começando pelos nossos, e indulgentes com o pecador", é pura ambiguidade. Quer dizer que podemos condenar os fatos, mas devemos ser contrários à condenação dos delinquentes? Má estratégia para resolver um sério problema de reputação.