De moleque que tomava surra, cheguei a adulto deficiente físico - Parte II

... continuando a saga de um moleque que só queria aprontar! Foi assim que mudamos pra São Paulo em 1970, e minha mãe foi obrigada a trabalhar fora. Minha avó materna tomava conta da gente, mas não batia. A cagueta passava toda noite um relatório para minha mãe.

Então vocês imaginem o acúmulo de c@g@das que eu aprontava o dia inteiro, chegando nas mãos de minha mãe a noite. Tome sova!!! A psicopata da minha mãe ainda trouxe umas 3 varinhas de marmelo de Marília, pois aqui em Sampa não tinha varinha de marmelo assim tão fácil (ainda vou fundar a FEVAMBRA – Fundação pela Extinção das Varinhas de Marmelo do Brasil).

Quando estava de mudança pra Sampa, minha avó paterna me aconselhou o seguinte:

- "Quando você aprontar e tua mãe for te bater, você diga a ela, 'Perdoe-me pela minha peraltice querida mamãe, não voltarei mais a fazer estas traquinagens'".BELEZA!!! Vovó Albina sabia das coisas. Puta vó gente fina... devia ser canonizada!!!

Mudei para a Zona Norte de Sampa, mais precisamente pro bairro da Santa Inês. Um bairro ainda em formação, com ruas de terra em processo de pavimentação, casas sendo construídas, muita mata ainda e lagoas e mais lagoas.

Aí eu pergunto pra vocês, não poderíamos ter mudado para um apartamento? Não!!! Tinham que me colocar logo num centro de diversões pra moleques!!! Fudeu de vez!

A primeira de grande porte que aprontei, foi quando me ensinaram a fazer cerol. Fiz a primeira vez pelo método tradicional, mas esperto para caraleo deduzi que se fizesse a receita de cerol na panela de pressão iria ficar imbatível, coisa de primeiro mundo. Cola de madeira, lâmpadas moídas, pó de mármore, etc. Tudo junto e misturado na panela de pressão... fogo lento. A sorte do planeta Terra é que minha avó viu a merda e desligou o fogo rapidinho. Minha mãe voltou do trabalho e encontrou a panela de pressão naquele estado. Veio pra cima de mim, não com uma, mas com duas varinhas de marmelo.

Eu, já em desespero, na hora lembrei dos sábios conselhos de minha vovózinha Albina querida e comecei a gritar:

 - "PERDOE-ME PELA MINHA PERALTICE QUERIDA MAMÃE...POWW!!!...NÃO FOLTAREI MAIS A FAFER EFAS TRAQUINAFENS!!!"

Na metade da singela frase, já levei uma porrada bem dada na fuça. Perdi meus dentinhos de leite frontais e não pude terminar tão comovente frase como deveria. Acho que pela perda dos dentinhos, não conseguia balbuciar também algumas consoantes, o que levou a minha mãe a não compreender totalmente a súplica. Resultado? Ela não se comoveu, o pau comeu e meu pai economizou barbante que usaria para extrair meus lindos dentinhos. (Dentista para dente de leite??? Naquela época??? Tá brincando!)

Lá pelos 11 anos de sofrida vida:
Tínhamos mudado pro Tucuruvi e minha mãe montou uma oficina de costura em um quartinho anexo a casa. Não tenho irmã e meu irmão já trabalhava fora naquela época, sendo assim, quem dava um tapa no barraco era eu.

Minha mãe solicitou que eu esquentasse a comida para almoçarmos e me disse:

 - "José Augusto (esse é meu nome de batismo, ainda vou escrever um post a respeito do ódio que eu tenho de nomes compostos) filho amado... tem duas panelas de feijão no fogão, um azedou e o outro ta bacana. Jogue fora o azedo e esquente o que ta bom".

Dei uma fungada nas panelas e achei que o que tava azedo era o bom e vice versa. Joguei fora o feijão bom. Quando minha mãe veio almoçar notou a minha falha e só jogou a panela de feijão azedo no chão, me deu um esporro e mandou eu limpar a merda do feijão que ela (sim...ela) tinha espalhado pelo chão. Nem retruquei, até porque a porrada não comeu solta. Aleluia, irmãos!!!...ela não me socou!!!

Rapidinho limpei o feijão do chão. Nem joguei água e passei um pano. Para ser mais rápido, passei um rodinho e recolhi com uma pazinha. Espertão eu... mamãe deveria ter orgulho de um filhinho assim tão "intiligenti".

Dona Lulu veio almoçar de novo, me perguntou se eu tinha limpado direito e entre ela perguntar e parar para verificar a limpeza, escorregou em uma fina camada de feijão (imperceptível eu diria), que estava por sobre todo o piso de cimento queimado.

Eu, mesmo possuído pelo medo, pavor da surra que ia levar, paúra do futuro esbordoamento...CAGUEI DE DAR RISADA!!! Vendo minha mãe lá, estatelada no chão, pernão aberto, calcinha a mostra e feijão azedo até o zóio. Sei lá gente. Simplesmente me mijei de rir... simples assim.

Malandro! Quando a véia levantou... PQP!!! Eu vi o sangue em seus lindos olhos castanhos, ela procurando a panela de feijão e finalmente localizando a desgraçada, me mirando como uma águia mira um pintinho e finalmente me juntando.

PUTAQUELAMERDA...MEUJESUISCRISTU!!! Aquilo não foi surra, aquilo foi uma aberração contra esta pobre criaturinha. O que se gastou de sal grosso pra baixar os calombos pelo corpo, dava pra salgar um boi no rolete.

Se naquela época existisse o Resgate, chamariam para me socorrer. Levei uma surranela, uma surra de panela. Até hoje tenho sonhos horríveis, lembrando da fisionomia de minha querida mãezinha naquele fatídico dia.

Bueno, acho que me estendi demais nos detalhes, e não vai dar pra terminar a saga hoje. Vai ter continuação da epopéia de Little Zeca sobre a face da Terra.


Parte I.

Zequinha Cypriano.