Singularidades extraordinárias de animais ordinários: o verme

Resulta irônico que um insulto comum entre nós seja chamar alguém, que consideramos desprezível, de verme, afinal ele é um dos animais de maior protagonismo na história do mundo. Sem sombra de dúvidas o mundo está cheio de vermes, e não é no mau sentido: mais da metade do reino animal é composto de vários tipos de verme. A massa viva do mundo é fundamentalmente vermiforme.

Por exemplo, há tantos
nematódeos, ou ascarídeos, vermes parasitas que vivem em praticamente todos os lugares, desde o leito oceânico até os intestinos humanos, que não é possível escrever o número aproximado com números senão com notação científica: 4 x 10¹⁸. Isto é, um 4 seguido de 18 zeros.

Ainda que estes vermes tenham uma forma meio nojenta e medem de alguns poucos milímetros até 8 metros de comprimento, seu DNA parece-se com 75% do DNA humano.

Não é de estranhar que Charles Darwin fosse fascinado pelos vermes e passasse dias contando minhocas em seu jardim. Em uma terra boa podem ser encontradas um milhão de minhocas em cada 4.000 metros quadrados.

Ainda que não tenha olhos, nem dentes, nem pulmões... tem 10 corações distribuídos em 5 pares. De fato, inclusive se arrancamos o cérebro de uma minhoca seu comportamento não mudaria muito (como acontece com algumas pessoas que parecem frangos destroncados nas danceterias).

As minhocas são essenciais para a vida porque arejam a terra, o que favorece o crescimento das plantas. Sem elas nos morreríamos de fome antes que o galo cantasse. Cleópatra declarou as minhocas sagradas: eliminar uma no Egito era um delito punível com a morte.

Existem vermes realmente estranhos. Por exemplo, o nematódeo Caernorhabditis elegans, que é um dos animais mais simples que existem, mas se converteu no primeiro animal do que obtivemos a primeira seqüência do genoma.

Ou os onicóforos, que vivem em folhas velhas e troncos em decomposição e paralisam os animais e liquefazendo-os com saliva. Ou os nemertinos, que comem a si próprios se não encontram comida, e podem ingerir até 95 % de seu próprio corpo e ainda assim permancer vivos.

Todos os vermes, exceto os políquetos Phyllodoce lamelligera, são hermafroditas. Por exemplo, um platelminto que vive a 18 metros de profundidade em águas de Queensland, Austrália, se acasala desta singular maneira: um casal de vermes passa quase uma hora tentando injetar-se esperma mutuamente. O que ganha a competição será o macho.