Pisando em monstrinhos

Que tal seria, por um momento, sentir-se como uma criatura gigante, superior e destruidora? Seria alucinante para você? Faça o seguinte: vá a praia, pise firme na areia molhada, o bastante para que seu pé afunde mais de 10 centímetros e pronto, você se tornará uma espécie de Godzilla. Não entendeu nada, não é mesmo? Acompanhe o texto então.

Imagine uma praia, onde cenas comuns são de pessoas caminhando descalço na areia molhada, e ainda, crianças cavando buracos e brincando de fazer castelos. Aparentemente, nada de especial. Aparentemente! Isso porque, grande parte das pessoas ali certamente desconhece que há algo mais naquela areia -surpreendente- que os olhos humanos não alcançam: monstrinhos, sim, milhões de monstrinhos nos reduzidos espaços entre os grãos da areia, um fascinante mundo de estranhos bichinhos com menos de 1 milímetro, os meiofauna.

É por isso que, quando ao pisar na areia molhada da praia, você pode se considerar, de certa forma, um gigante destruidor, provocando pânico entre esses habitantes da areia, animais absolutamente adaptados, estimados em mais de 40 mil espécies. A maioria são cegos, mas em compensação, dotados de órgãos sensoriais que os auxiliam, orientando-os na busca de alimentos.

A importância de se conhecer sobre esses bichos, não esta em passar a pisar com cuidado na areia, muito menos em temê-los, uma vez que não nos fazem mal qualquer, mas sim, em ter uma maior visão da biodiversidade do nosso planeta e conscientizar-nos de que a poluição das praias é uma ameaça a tantos animais muitos dos quais nem imaginamos existir, e que pode causar um desequilíbrio em um perfeito sistema.

Os meiofauna são bons recicladores de lixo, em abundância temos os nematodas e copepodas. Eles não podem salvar o mundo, mas desempenham papel relevante, podemos dizer que eles fazem o trabalho sujo, limpam o ambiente comendo restos de animais em decomposição, mantendo a praia livre de mal cheiro, e de quebra, contribuem com a cadeia alimentar, uma vez que transformam a matéria orgânica decomposta em nutrientes para outros animais.

Estou aqui pensando em uma frase que li dia desses:

"O Homo sapiens é simplesmente uma entre milhões de espécies. Nascemos há 5 milhões de anos, um segundo evolucionário comparado aos 4 bilhões de anos das bactérias. Não fazemos nenhuma falta à vida na Terra durante praticamente toda a existência dela e, se um dia formos extintos, nenhuma formiga, cigarra ou besouro chorará a nossa ausência. A evolução continuará seu caminho inexorável de competição e seleção natural."

A imensidão de vida discorrerá tranquila e harmoniosamente, inclusive entre os grãos de areia.

Fonte: Super Interessante.