Os Dezoito

Nas orlas do lago Natron, na Tanzânia, sobre um leito de cinza vulcânica, o pesquisador Brian Richmond, da Universidade de Washington, assegura ter descoberto as impressões humanas fossilizadas de um grupo de 18 homo sapiens que caminhavam por este lugar há 120 mil anos para um destino desconhecido. A descoberta foi divulgada dias atrás durante o encontro anual da Sociedade de Paleoantropologia.

As primeiras impressões humanas na zona sul do lago, Ngare Sero, foram descobertas em 1998 pelas tribos masai da região. A partir de 2010 várias equipes de pesquisadores foram para o local e identificaram até 350 impressões de nossos antepassados mais recentes, os primeiros homo sapiens que caminhavam pela África.

As equipes que já tinham pesquisado o local, como o de Cynthia Liutkus da Appalachian State University, descobriram impressões isoladas que, a julgar pela forma, a direção e a velocidade estimada de deslocação, pertenciam a indivíduos diferentes que se moveram em algum momento de nosso passado por este local. A particularidade da descoberta de Richmond é que as pegadas pertencem a um grupo: deslocam-se juntos e na mesma direção, para o oeste. Desta forma, é possível que estes dezoito indivíduos formassem a primeira comunidade nômade de homo sapiens em movimento da qual temos conhecimento.

Para obter mais informação sobre este misterioso grupo, Richmond e sua equipe compararam as impressões fossilizadas com moldes de pegadas criadas ao efeito por habitantes da zona movendo-se em diferentes velocidades. Baseando nestas comparações, a equipe conclui que o grupo dos dezoito estava composto por homens, mulheres e crianças, e que tinha mais mulheres que homens.

As famosas impressões de Laetoli.

O registro fóssil de impressões humanas é bastante escasso e oferece muitíssima informação sobre que faziam nossos antepassados. A jazida mais conhecida, as famosas impressões de Laetoli na Tanzânia, pertencem a vários Australopitecus afarensis e ficaram impregnadas no solo há vários milhões de anos. Em 2009, também no Quênia, descobriram as impressões do que se creem Homo ergaster ou primitivos Homo erectus ao redor de um milhão e meio de anos de antiguidade. O mais parecido a este descoberta são as famosas "pegadas de Eva", descobertas na África do Sul em 1995, com uma antiguidade de 117 mil anos e consideradas como as impressões mais antigas de humanos anatomicamente modernos. Deste período não se descobriram mais de três dúzias de pegadas, mas nunca de um grupo tão numeroso.

Estes dezoito indivíduos de Ngare Sero são antepassados bastante recentes, os primeiros homo sapiens que caminharam pela África e similares fisicamente a qualquer de nós. Não sabemos quem eram, nem o que buscavam ao caminhar de encontro ao por do sol, mas seu rastro ficou para sempre neste pequeno rincão do planeta no qual até agora nenhum sapiens contemporâneo tinha dado a devida atenção.

Fonte: Scientif American.