Ao final, bactéria do arsênico era uma fraude

Em algum tempo a Agência Espacial Americana era referência, sobretudo, dos ensaios científicos, mas, ao que parece, o corte no orçamento do governo Obama despertou o pior do pessoal da NASA, que decidiu se enrolar nas frentes de projetos que fazem muito barulho mas que tem pouco a oferecer. O caso é que em dezembro de 2010 anunciaram com toda a pompa um estudo sobre bactérias extremófilas conhecidas como GFAJ-1 que vivem no lago Mono da Califórnia que supostamente eram capazes de usar arsênico em vez de fósforo em seus processos vitais.

Esta afirmação era quanto menos surpreendente, pois o arsênico, que é quimicamente similar ao fósforo, é normalmente venenoso precisamente porque é capaz de tomar o lugar deste nas moléculas orgânicas e envolver tudo. Mas segundo o estudo em questão estas bactérias não só tinham incorporado o arsênico em sua bioquímica celular senão que inclusive tinham feito em seu DNA.

Uma afirmação tão extraordinária naturalmente provocou um monte de dúvidas e perguntas, tanto que 5 dias depois cientistas questionavam o estudo, enquanto equipes de todo mundo tentavam reproduzi-lo.

Ao final, neste fim de semana, a Science, a mesma revista que publicou o estudo original, publica dois trabalhos que refutam o resultado deste: Ausência de arsênico detectável no DNA do GFAJ-1 e GFAJ-1 é um organismo dependente de fosfato.

Dizem basicamente que o arsênico não é encontrado no DNA destas bactérias e que elas seguem vivendo do fósforo ainda que sejam capazes de resistir a altas concentrações de arsênico.

Alguns setores retrógrados comemoram o fiasco, pelo fato de que sua ignorãncia não permita entender que é assim que funciona a Ciência e o método científico: alguém afirma algo, expõe os dados e observações nos quais se baseou para formular e depois outros tentam reproduzir estas afirmações. Se algo não resultar, há que começar tudo de novo. E isto é uma diferença fundamental com respeito àqueles que fazem afirmações extraordinárias sem dar uma prova sequer a respeito.

De qualquer forma fico triste que uma referência científica como a NASA se prostitua, como mal necessário, para agregar investimentos. Já no caso de nosso país, a Ciência não pode nem se dar ao luxo de se prostituir, senão que mendiga de pires na mão, relegada ao ostracismo. E o pior é que, se fizermos uma enquete popular sobre o que preferiam ver nos programas básicos de investimento governamental, todos já sabemos o resultado: 1) futebol, 2) lazer(BBBs), 3) bolsas-esmola, 4) Saúde e apenas a partir daí, talvez e somente talvez, alguém se lembre de educação e Ciência. Depois não sabem o porque desta tamanha desigualdade social que o governo diz tentar diminuir escalpelando a classe média.

Fonte: NASA Watch.