Fones de ouvido que podem hackear seu cérebro

O segredo, a reserva, é parte consubstancial da natureza humana, necessária inclusive para sua saúde mental e ainda para um tipo de sobrevivência prática e cotidiana. Paralelamente, no entanto, sempre existiram em todas as épocas uma força que vai em sentido oposto tentando arrancar esses segredos, conhecê-los, forçar a entrada e violar as fechaduras para saber o que só você sabe, mas que outro quer saber também.

Neste sentido, os mecanismos pelos quais tentam abater o sigilo também cobrem um espectro amplo que vai do mais sutil até a tortura. Mas as novas tecnologias oferecem recursos que talvez ninguém tenha imaginado antes, particularmente um dispositivo que hackeia as ondas cerebrais e pode obter assim informação pessoal como códigos PIN, senhas, números de cartões de crédito e outros dados afins.

Esta espécie de fones de ouvido transcranianos, desenvolvido por pesquisadores das universidades de Oxford, Califórnia (Berkeley) e Genebra, foram testados em pessoas que viam imagens de caixas automáticos, cartões de crédito, mapas, pessoas e números aleatórios.

- "A resposta do dispositivo foi correta em 20% dos casos para o experimento com o PIN, cartões de crédito e senhas de caixas automáticos. O mês de nascimento foi adivinhado em quase 60% dos usuários", escrevem os pesquisadores no artigo.

No caso particular do PIN, o teste consistiu em mostrar aos voluntários, em uma tela, números do 0 a 9 a esmo, um por um e repetindo 16 vezes, durante 90 segundos. Simultaneamente registrou-se a evolução de suas ondas cerebrais, pondo especial atenção aos picos destas, um indicador de que o estímulo recebido é de algum modo significativo para a pessoa.

Agora, entrando no perigoso terreno das conspiranoias, não dá para fazer vistas grossas ao fato de que alguns fones de ouvido tenham se popularizado enormemente, sobretudo entre gamers e pessoas com entretenimentos ou ocupações onde são de suma utilidade, o que, em combinação com aplicativos de terceiros oferecidos pelas mesmas empresas, poderia convertê-los em verdadeiras portas primeiraa ao cérebro de seus usuários.

De acordo com Mario Frank, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, alguém pode desenhar um aplicativo malicioso, na qual uma pessoa confia, mas cujo objetivo é apoiar ativamente todos os passos de calibragem do dispositivo para que o software funcione.

Levando em conta que, segundo as estimativas do mesmo pesquisador, em 5 ou 10 anos poderíamos ter um par destes fones de ouvido em todos os lares, há bastante potencial para fazer algo ruim para tornar esta tecnologia contra o usuário.

- "A simplicidade de nossos experimentos sugere a possibilidade de ataques mais sofisticados [...] como a qualidade dos dispositivos é sempre crescente, a taxa de sucesso dos ataques provavelmente melhorará", concluem os pesquisadores, ominosamente.

Fonte: Wired.