Na ponta da língua

Quem é que nunca se viu na situação de querer recordar o nome de um ator, a rua onde vive um amigo ou o apelido de um velho colega de colégio? E justo quando essa palavrinha está por sair de nossos lábios... puffff!!! A memória falha. "Uchhh, eu sabia, como era? Peraí, começa com P... não não não... começa com S. Tá aqui na ponta da língua"... mas não, a memória brinca com a gente e nos achamos incapazes de recordar esse maldito nome, ainda que nos fique a impressão de que o sabemos dando voltas na mente durante horas.

Este fenômeno tem um nome e é conhecido como TOT (top of the tongue, ponta da língua em inglês) e é um exemplo muito comum do que Daniel L. Schacter chama de bloqueio, um dos sete pecados da memória. Esse bloqueio caracteriza-se pela sensação de que a memória esta alí pronta para agarrar a lembrança e, apesar disso, por alguma razão não conseguimor anuir. Muitas vezes recordamos, a lembrança que esta bem ao lado: o nome de outro colega, o outro ator ou vemos com inusual clareza a rua na qual mora o amigo. Os estudos mostram que apesar de nosso desespero inicial a maior parte da vezes a mente não costuma demorar mais de um minuto em se desbloquear. A outra parte das vezes pode demorar dias e dias, quando então o melhor é tentar esquecer, já que por mais que nos esforcemos, mais distantes ficaremos da lembrança. A partir do momento que se deixa de dar importância o subconsciente cobra e a lembrança volta.

Um aspecto interessante deste fenômeno tão usual é a relação que os pesquisadores encontraram com a sinestesia. A sinestesia é uma condição onde as pessoas tem os sentidos "cruzados", por exemplo podem experimentar os números como cores, imagens como sons ou até podem sentir o gosto têm as palavras. Este último caso, que é uma forma de sinestesia léxico-gustatória proporciona uma oportunidade para estudar o TOT de uma forma diferenciada.

Durante uma experiência induziram o TOT em alguns participantes, mostrando-lhes fotos de objetos ou coisas não muito habituais, como um ornitorrinco. Em alguns casos conseguiram produzir o TOT e enquanto a pessoa lutava por encontrar a palavra que descrevia o objeto da foto perguntaram se sentiam algum gosto em particular. Uma mulher disse ter sentido gosto de atum tratando de recuperar a palavra ostra. Para provar que não tinha sido uma associação possivelmente falsa o teste foi feito às mesmas pessoas um ano depois e suas respostas seguiram sendo as mesmas.

A experiência ao final sugere que esta conexão entre palavras e gostos poderiam estar em todos os seres humanos, ainda que a um nível inconsciente.