Piero Manzoni, o artista que ficou famoso por vender seu próprio cocô enlatado

Pergunte a alguém se pagaria algum centavo pelo cocô de outra pessoa, e ele certamente dirá: - "Lógico que não!" Mas tudo muda quando a referida caca se torna uma obra de arte. Neste caso, "Artist's Shit", uma coleção de latas de excremento selecionada de 30g supostamente contendo os dejetos das entranhas do artista italiano Piero Manzoni. Os colecionadores de arte estão comprando estas latas exclusivíssimas por centenas de milhares de dólares.

Quando Piero Manzoni teve a idéia de poder usar o suas matérias fecais, em 1961, ele provavelmente não tinha idéia de que seus recipientes de metal de 30g venderiam um dia por preços astronômicos.

Em 2007, a galeria de arte Tate em Londres, comprou uma das 90 latas da Manzoni por absurdas 22.350 libras esterlinas, algo em torno de 94 mil reais, e ainda que isso possa parecer muito para o que literalmente é apenas uma porcaria enlatada, eles realmente fizeram um ótimo negócio.

Em 2007, outra lata de "Merda de Artista" foi leiloada em Milão, por exorbitantes 81 mil libras (340 mil reais). Maluquice, certo? Na verdade, apenas outro bom negócio, porque as latas de cocô de Manzoni valem atualmente em torno de 940 mil reais cada; isso mesmo quase 32 mil reais por cada grama de caca. A essa taxa, elas em breve valerão milhões.

Então, quem era Piero Manzoni? Aparentemente, ele não cagava ouro e sim era originalmente um artista aristocrático italiano especializado em pintura convencional, mas tudo mudou um dia em janeiro de 1957, quando visitou uma exposição de pinturas azuis de Yves Klein na Galleria Apollinaire em Milão. A exibição de singelas telas após tela com tinta azul teve um enorme impacto em Manzoni, de 23 anos, mudando completamente sua percepção da arte.

Em 1958, o jovem artista exibiu suas primeiras obras de arte de vanguarda, uma série de imagens completamente brancas, "acromáticas" (diziam os entendidos), e um ano depois fez outra exposição com algumas folhas em branco seladas em caixas que tinham a sua assinatura. Era considerado um trabalho verdadeiramente imaterial e invisível e se o selo fosse quebrado, deixava de ser arte, segundo conta Tony Godfrey em "Phaidon's Conceptual Art Book".

Manzoni ainda realizou outras "obras de arte" não convencionais, como uma série de ovos cozidos assinados com impressão digital, uma série de balões inflados por ele, chamados "Respiração de um artista", e em maio de 1961, ele criou o trabalho que lhe tornaria mais famoso, a "Merda de Artista". Quase todas elas são uma herança direta da galeria "Entartete Kunst" ("Arte Degenerada"), que reunia "peças horríveis", promovida por Adolf Ziegler, em 1937, como um contraponto a uma outra exposição realizada em paralelo chamada "Große Deutsche Kunstausstellung" ("Grande exposição de arte alemã"), que juntava "peças belas" do regime. Aconteceu que a primeira fez um grande sucesso e a outra, não.

Aproveitando a fábrica de latas de seu pai, Manzoni criou uma coleção de 90 latas, todas assinadas por ele e rotuladas com "Merda de artista, recém-preservada, produzida e enlatada em maio de 1961". Cada uma continha 30g de cocô e seu preço equivalia originalmente ao mercado de ouro na época, o que significava que Manzoni estava literalmente vendendo seus dejetos a peso de ouro.

Mas há um contexto em toda esta diarreia artística: com "Artist's Shit" Manzoni queria destacar e satirizar a credulidade dos colecionadores de arte pós-Segunda Guerra Mundial, que, alimentados pelo boom econômico do país, gastariam muito dinheiro em praticamente qualquer coisa, mesmo em cocô. Mas o próprio Manzoni não poderia ter previsto que suas latas acabariam sendo vendidas por centenas de milhares de dólares.

Piero Manzoni morreu em 1963, com apenas 29 anos, e nunca conseguiu aproveitar o sucesso de sua peça mais polêmica, em toda sua extensão. Aqueles que o conheceram disseram que ele tinha todos os tipos de projetos ultrajantes alinhados, ao estilo pour épater la bourgeoisie, mas (in)felizmente nunca teve a oportunidade de compartilhá-los com o mundo.

As latas de "Merda de Artista" realmente contêm os dejetos de Manzoni ou de outra pessoa, poderia perguntar alguém mais curioso? De acordo com Agostino Bonalumi, que trabalhou com o artista italiano, os recipientes são preenchidos com gesso:

- "Posso assegurar a todos que os conteúdos são apenas gesso tingido de marrom", disse Bonalumi ao Corriere della Sera. - "Se alguém quiser verificar isso, basta apenas abrir a lata e se certificar."

Mas, lógico, ninguém irá abrir uma das latas para ver o conteúdo por si mesmo, não com elas custando uma fortuna como obras de arte. Ninguém quererá jogar centenas de milhares de dólares no lixo já que violar a tampa de uma das 90 latas compromete seu valor como item de colecionador, e muitos acreditam que o mistério é realmente uma grande parte do "charme" da obra de arte.

Ao mesmo tempo, o conteúdo das latas desperta as questões de autenticidade no mundo da arte. Se uma obra de arte não é o que deveria ser, ela realmente merece toda a atenção que recebe, e o dinheiro gasto com isso? É um dilema interessante, com certeza, um que ainda não foi resolvido.

Então, se você um dia já se perguntou qual é o toroço mais caro e procurado, agora você sabe.

Fonte: Oddity Central.