Tiãozinho: Sete anos, mendigo com cinco anos de experiência, experiente em bater pernas pelas ruas com ou sem sapatos, hábil na arte de driblar o tráfego caótico do centro de Joinville e tremendamente criativo. |
Vinte e quatro de dezembro. Tiãozinho acordou como sempre às sete da manhã. Hoje queria ficar um momento mais brincando com seus dois irmãos: João de 10 anos e Claudinha de seis. Mas sua madrasta arrastou-o com puxões.
Quando abria a torneira da amarelada pia para lavar o rosto, sentiu como se a orelha estivesse sendo rasgada e arrancada pela raiz. A madrasta achava que a cara suja dava mais pena e que as esmolas seriam maiores.
No trajeto até ao centro da cidade, era obrigado literalmente a correr para acompanhar o passo de uma mulher adulta, robusta e de péssimo caráter. A volta para casa era sempre a pior parte, caminhar seis quilômetros com o corpo moído após uma jornada de catorze horas.
Isabel se encarregava de calcular minuciosamente as arrecadações, e atribuir a cota correspondente à cada um dos filhos; na realidade só Claudinha era sua filha, motivo pelo qual desfrutava de alguns pequenos privilégios. Estabelecido o montante, era fácil estabelecer o castigo por não cumpri-lo.
Na véspera de natal, o horário de sua mendicância estendia-se por várias horas a mais do que o habitual. Isabel também fazia previamente o cálculo das esmolas pelas horas extras.
Enquanto caminhava entre a multidão entrando e saindo de lojas, pensava nos homens fantasiados de vermelho que encontrava à cada passo. Sabia que eram cidadãos comuns contratados para chamar a atenção dos possíveis clientes; mas a existência real de um verdadeiro Papai Noel, significava para Tiãozinho um verdadeiro labirinto.
Não podia compreender a existência de um personagem teoricamente bom e praticamente cruel. Estava convencido de que Papai Noel era um invento dos ricos, para os ricos.
O dia não foi bom; muita chuva e pouca gente generosa. Tiãozinho tinha fome, mas não era possível gastar as moedas da cota estabelecida por Isabel.
Quando conseguia algum superávit com as esmolas, o menino guardava as moedas a mais no bolso esquerdo; as do direito eram para entregá-las à madrasta. Nunca teve muita sobra, o dinheiro que conseguia a mais, mal dava para saciar a fome duas ou três vezes à semana.
Quando anoiteceu, o menino estava esgotado. Não era possível regressar para casa, isso significaria uma consabida surra, ademais o jejum obrigatório. O sistema estabelecido era simples: Isabel contava duas vezes o dinheiro, se estava de acordo a suas expectativas, autorizava o garoto a fuçar as panelas e comer. Se faltavam moedas, castigava-o com uma vara e ordenava que fosse para a cama de barriga vazia. Era preferível vagar por um tempo a mais e tentar a sorte entre o turbilhão enlouquecido no leva e traz de presentes, pacotes, álcool e insensibilidade.
Deteve-se em frente a uma imensa vidraça e contemplou assombrado um senhor gordo e grande que parecia comprar tudo que via pela frente. Pensou que homem precisaria de um caminhão para transportar suas compras até sua casa. Eram tantos os pacotes enfeitados e tantas as notas que o senhor gordo entregava ao caixa, que Tiãozinho mal acreditava no que via. Eram notas com grandes números que o menino só tinha visto na televisão.
Até que o senhor saiu, seguido de vários ajudantes que carregavam tudo o que podiam. Idas e vindas, atividade intensa, ofegavam entre o tumulto. Uma caminhonete repleta de presentes! Teria tantos filhos? A caminhonete se foi.
Tiãozinho ficou absorto e tropeçou numa volumosa caixa: o senhor gordo tinha esquecido um presente. Seria este pacote que tantos sonhos lhe trouxe? Era um presente, mas não tinham lhe presenteado; dizem que Papai Noel não se esquece dos presentes, que os deixa de propósito e a domicílio. Dizem que Papai Noel...
O menino pegou a caixa e correu ao encontro do automóvel, não tinham deixado o presente para ele, e assim não servia. O tráfego lento favorecia, uma quadra e meia de corrida e pronto. O senhor gordo esperava impaciente a mudança de cor do semáforo quando o menino bateu na sua janela. Não prestou atenção pensando que o garoto só queria uma esmola. Tiãozinho parou na frente do automóvel mostrando a caixa que já pesava muito. Então o senhor recebeu o pacote, agradeceu com um rosnado e partiu sem dizer mais nada.
Tiãozinho empreendeu cabisbaixo o caminho para casa. Estava resignado. Não teria presente, não tinha completado a cota de esmola, não teria jantar e as surras não enchem o estômago. Pensou em como desviar-se das "varadas" da madrasta; pensou em seu pai, bêbado como um gambá, falando besteiras; em seus irmãos jantando e dormindo.
De repente alguém se deteve em frente a ele, era um senhor gordo, mas outro. Este usava aquela fantasia vermelha e branca, linda barba, bochecha rosada e um doce olhar. O senhor buscou em seu bolso e depois estendeu a mão sorridente, entregou um pirulito desses que têm chiclete dentro, acariciou a cabeça do menino e desapareceu na escuridão.
Quando Tiãozinho saiu de seu assombro, prosseguiu a caminhada lentamente, despreocupado. Pôs o pirulito no bolso esquerdo e decidiu que o desfrutaria quando os demais dormissem.
Abriu a porta trêmulo e entrou devagar, cabeça baixa. Quando levantou o olhar ficou perplexo; a mesa estava posta, Isabel servia a refeição, papai estava sóbrio, todos compartilhavam. E não teve surra, e tinha chocolate e tinha panetone, até toalha rendada tinha! No canto da cozinha, cinco pequenos pacotes de presentes. Tiãozinho saiu ate o quintal, deu um pulo espetacular e soltou um agudo grito ouvido possivelmente até no polo norte:
- Ele existeeeeeeeeeee...
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Comentários
tenço .-.
+ ou -
pois é. prefiro aquela que conta a história dos dois carros que estavam na frente da casa de manhã qdo acordam. hehe
Putz...ô historinha trouxa ,credo!O certo, ou real, seria o moleque terminar com a cabeça cheia de crack.Cruel, mas real.Uma fada jogou um pó mágico, sim, era cocaína euhuehuehueuheuheuheu
q emocionante!!!
ele acreditou
bjus...
Gostei do conto,mas tbm nao entendi o final.
De vez em quando visito o blog. Tem coisas interessantes. Os comentaristas são muito influenciáveis. Repetem-se. Sem imaginação.
Caras o blog não é o jardim de infância.
Isso é uma história de Natal! Gostei bastante. Emocionante.
Diferente da anterior, esta história faz sentido.
Merry Christmas to all and to all a good night.
Essa história, na minha opinião, foi a melhor das de natal que foram publicadas neste ano aqui no MDig.
Emocionante
... poutz história linda
isso sim é um conto natalino de respeito!
mto bom!
Ooooh, que legal *-*
Muito bom!
gostei muito admin.... parabéns..... muito legal
Kaoruchan,
Nihon ni irundeska?
Contrario ao conto anterior, em que houve algumas reclamacões, discordando que o conto nada tinha a ver com o título...Este tem tudo a ver, Papai Noel está na parada!!!!! Luisão na missão quase impossível em agradar a gregos e troianos.
Own, gente, que história linda!
Me emocionei aqui :3
Adoreii, muito emocionante.
Muito bom, quase posso ver as cenas se desenrolando na na minha frente. Parabéns e feliz natal para você também Admin e a todo o pessoal do MDig.
Choreeei
Só pode ser da cabeça dele né Sara?
Show Luisão, muito bom.
Feliz Natal a todos!
depois eu leio
muito bom!! muito bom mesmo!!
que bom seria se em muitos lares isso acontecesse!
interessante... de onde você tira esses contos, Admin?
Na boa, emocionante, eu chorei
Que pena que é só uma vez no ano!!!
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