Lago da Lua Crescente, um oásis no Deserto de Gobi

O deserto de Gobi é um dos maiores do mundo, situado ao norte da China e sul da Mongólia, rodeado pelas montanhas Altai e as estepes mongóis, a meseta do Tibete e a planície do norte da China. São precisamente as Altai as que provocam a sombra orográfica que está na origem do deserto, fazendo com que as precipitações ocorram no norte, deixando passar ao sul apenas ar seco. O deserto de Gobi é tão grande que tem diferentes regiões geográficas e ecológicas, cada uma com suas próprias características climáticas bem distintas entre si.

Hoje em dia é possível atravessá-lo através da ferrovia Transmongoliano, desde Ulan Bator até Pequim, mas em épocas passadas cruzá-lo supunha todo um desafio. Não obstante por ali passavam as caravanas da rota da seda, graças à existência de numerosos oásis e cidades interconectadas ao longo e largo do deserto.

Um desses oásis, talvez o mais famoso atualmente, é o de Yueyaquan (Lago da Lua Crescente), denominado assim pela peculiar forma da lagoa que o forma desde a época da dinastia Qing.

Está situado a uns 6 quilômetros ao sul da cidade de Dunhuang, a antiga Shachou, famosa pelas Grutas de Mogao, na província de Gansu. Sua sobrevivência ao longo dos séculos só é explicada, em parte, por sua escassa altitude e sua posição, que evita com que se encha de areia das dunas circundantes por formar uma depressão eólica natural.

O oásis foi popularizado no ocidente pelo livro "Deserto de Gobi", escrito pelas missionárias protestantes Mildred Cable e Francesca French, que dedicaram mais de 10 anos percorrendo o deserto e o centro da China em companhia da irmã de Francesca, Evangeline:

- "Cinco vezes atravessamos todo o deserto e no processo nos tornamos parte de sua vida", disse ela certa vez.

Durante suas viagens visitaram o oásis, onde chegaram em um momento crucial, segundo seu próprio relato:

- "Ao nosso só podíamos ver altíssimos montes de areia, testemunhas de nossa inútil busca. Até que, com um desesperado esforço final, subimos um grande morro e olhamos para abaixo. Vimos um lago, e sua beleza era cativante."

Na década de 1960 realizaram medidas, estabelecendo a profundidade do lago em 4–5 metros, com um máximo de 7,5. Provavelmente em tempos antigos fosse bem mais profundo e extenso. As estimativas é que tenha uns 2.000 anos. Porque ao longo dos últimos anos do século XX foi progressivamente secando, até que no começo dos 90 só tinha 5.500 metros quadrados de superfície, e sua profundidade mal chegava a um metro.

Em 2006 iniciaram os trabalhos para recuperá-lo, e desde então o tamanho e profundidade da lagoa continua crescendo pouco a pouco. Atualmente tem uns 218 metros de comprimento por 54 de largura.

Hoje é tão popular que organizam visitas em camelo, ônibus e fora-de-estrada que partem de Dunhuang, e inclusive é possível ir até lá caminhando, via prévio pagamento de uma entrada válida para três dias. No oásis há uma pagode tradicional e numerosas lojas de souvenires.

Não obstante, e ainda que em outros tempos o oásis encontrava-se literalmente no meio do deserto, na atualidade nos anos de esforços do governo chinês com seu plano para criar uma muralha verde que ponha freio nas tempestades de areia têm dado seu fruto, e o oásis se acha a poucos metros de uma extensa região arborizada e verde, transbordante de vegetação.

Os oásis sempre foram de importância crítica para rotas de comércio e caravanas em regiões desérticas. As caravanas seguem rotas pré estabelecidas de acordo com a necessidade de água ou comida. O controle militar político de um oásis significa, em muitos casos, controle do comércio ou da rota em particular. Alguns oásis situados na Líbia, por exemplo, têm sido vitais para ambas as rotas Norte-Sul e Leste-Oeste e comércio no deserto do Saara.