Susan Boyle, celebridade em um instante

Ela foi vista por mais de 100 milhões de pessoas no YouTube em apenas uma semana, recorde absoluto. Demi Moore e Ashton Kutcher falaram dela, virou post obrigatório dos blogueiros, os paparazzi perseguem-na como loucos e os jornalistas querem saber tudo sobre ela.

Mas por enquanto, Susan Boyle, trabalhadora voluntária na igreja do bairro onde mora, cuja interpretação de "I dreamed a dream" em um programa de televisão britânico de caça talentos converteu-na em uma celebridade instantânea, está tratando de recuperar o fôlego.

Susan está descansando até a sua próxima apresentação no programa Britain's Got Talent, um concurso no qual a pouca glamurosa Boyle, de quarenta e sete anos, derrubou um sem número de estereótipos, demonstrando a um público de sábado a noite que tinha uma voz esplendorosa. Parte do prazer de ver sua atuação é notar a mudança do olhar depreciativo e distante nos rostos de Simon Cowell e Piers Morgan, dois dos jurados do programa, e advertir a mudança do público, desde a discreta condescendência até a admiração e o aplauso.


Ruptura

Boyle é solteira (e "nunca beijada", disse no programa), está desempregada, vive com seu gato, e até o momento só havia cantado na igreja do seu bairro nos arredore de Blackburn, Escócia. Mas converteu-se em uma heroína não somente para as pessoas que sonham em catapultar-se da escuridão à fama, senão também para os que apreciam seu triunfo sobre a aparência e a idade, em um mundo que valoriza sobretudo a juventude e a beleza.

O programa está ainda em suas primeiras etapas, com participação de concursantes de diversas regiões do Reino Unido, e o próximo aparecimento de Boyle será em 23 de maio, na semifinal. Segundo o acordo que todos os participantes assinam, Boyle pode falar com potenciais agentes ou negociar, por exemplo, um contrato de gravação somente quando o programa termine.

A revelação de Boyle lembra bastante um episódio da primeira temporada, em 2007, quando Paul Potts, um rechonchudo dentuço e quase doentemente tímido vendedor de telefones celulares, subiu ao palco e declarou que queria cantar ópera.

Os jurados fizeram cara de desdém, mas Potts começou a cantar a ária "Nessum dorma" de Puccini, obrigando-os a mudar de opinião e surpreendendo o público. A atuação de Potts já foi vista (e ouvida) por quase 100 milhões de pessoas no YouTube, e depois de ganhar o programa gravou um álbum que já vendeu dois milhões de cópias.

Potts tinha um pouco de experiência e treinamento. A aparente total falta de formação de Boyle coloca-a mais precisamente no centro da narrativa arquetípica dos "concursos de caça talentos": Desconhecida Chegada de Nenhuma Parte Revela Virtudes Extraordinárias e Assombra o Mundo.

A atuação de Boyle foi igualmente significativa no sentido de que provocou um inesperado debate sobre o preconceito contra os não tão lindos ou não tão jovens. As contradições na situação resumem-se nas declarações da jurada Amanda Holden, encantadora e encantada, 38 anos, que não conseguiu disfarçar o olhar assombrado enquanto cantava e depois disse que Boyle devia "resistir a que a submetessem a um maquiagem tipo Hollywood".

Boyle reluz como um patinho feio. Falta-lhe tudo o que supostamente deve ter uma estrela pop. E isso é bacana, agrega uma saudável correção ao habitual desfile de tipos prontos com talento para a autopromoção. Suas respostas às perguntas sobre si mesma se reduziram ao mínimo: "Faço tudo com calma" ou "Simplesmente faço o melhor que posso, como todo mundo".



Comovidas

Na semana passada, com um novo corte de cabelo e as sobrancelhas mais depiladas, parecia um pouco aturdida, quase monossilábica e com dificuldades para manter os olhos abertos no programa "The Early Show" da CBS. Porém quando começou a cantar"a capella "I dreamed a dream" olhou para a câmera, e sua personalidade mudou completamente.

Em seu blog a escritora feminista Letty Cottin Pogrebin conta que que enviou por e-mail múltiplas cópias do clip original do You Tube, com uma linha que dizia "a discriminação por razões de idade deve ser condenada". Muitas mulheres que viram o clip reconhecem ter chorado.

- "Eu apostaria que muitas de nossas lágrimas de felicidade foram impulsionadas pela lição de moral implícita na história de Susan: não se deve julgar um livro por sua capa", sustenta Pogrebin. "Os juízes e o público estavam ao princípio cegos pelos estereótipos da idade, a classe, o gênero e os critérios de beleza ocidentais, até que o livro se abriu e todos viram o que tinha dentro".

Se a incorporação do vídeo via Youtube estiver desativada, para vê-lo clique aqui.