![]() | Em um artigo de 2021, falávamos como no rescaldo da passagem do furacão Maria por Porto Rico, o primeiro furacão de categoria 4 a atingir a ilha em quase 85 anos, uma comunidade de moradores saiu praticamente ilesa: cerca de 1.500 macacos-rhesus (Macaca mulatta) que vivem a 1,6 km da costa leste de Porto Rico, na ilha Cayo Santiago, conhecida como Ilha dos Macacos. Os pesquisadores que estudam esses macacos pensaram que retornariam a um cenário de caos e tragédia em massa, mas apenas dois macacos morreram durante a tempestade. |

Mas desde então algumas coisas estranhas aconteceram na ilha, que levaram os pesquisadores a avaliar e estudar um fenômeno, ainda não bem entendido pela ciência, conhecido como "número de consequências.
Após tragédias, uma ampla gama de consequências pode ocorrer, impactando indivíduos e comunidades em níveis físico, mental e social. O que geralmente também ocorre é que mais pessoas morrem no rescaldo do desastre do que no próprio.
Mas vamos explicar primeiro como uma ilha de Porto Rico tornou-se o lar improvável de macacos indianos. No final da década de 1930, o primatologista Clarence Carpenter levou cerca de 450 macacos-rhesus para a ilha de 38 acres para estudar seus comportamentos sociais e sexuais.
Desde então o local se tornou uma referência no estudo de primatologia. A ilha hoje parece completamente diferente. A maioria das estruturas artificiais está em ruínas.
A colina da ilha hoje totalmente exposta costumava ser completamente coberta por floresta. Até mesmo o istmo que costumava conectar a ilha grande e a ilha pequena foi completamente levado pelas águas do furacão.
E apesar de tudo isso, de alguma forma, apenas dois macacos morreram durante a passagem de Maria, mas então, nos anos seguintes ao furacão, morreram cinquenta macacos a mais.

Macacos estressados com sistemas imunológicos enfraquecidos sucumbiram a doenças. Fêmeas traumatizadas deram à luz filhotes que morreram logo após o nascimento.
E com mais da metade das árvores da ilha destruídas, os macacos ficaram subitamente muito mais expostos, levando a mais doenças e mortes relacionadas ao calor.
Os macacos não foram os únicos primatas afetados pelo furacão Maria; o furacão também atingiu o continente de Porto Rico e os humanos que vivem lá.
Estima-se que cerca de 100 pessoas tenham morrido como resultado direto da tempestade. Mas, assim como aconteceu com os macacos, muitas mortes também aconteceram posteriormente.
A rede elétrica ficou sobrecarregada e os hospitais ficaram sem energia, causando a morte de pessoas por infecções. Estradas foram bloqueadas ou destruídas, de modo que outras pessoas nem conseguiam chegar aos hospitais, causando a morte de doenças como enfisema e pneumonia.
E os carregamentos de insulina não conseguiam passar, causando a morte de pessoas por diabetes.

Pesquisadores estimam que cerca de 3 mil pessoas a mais morreram como resultado desses impactos indiretos de longo prazo da tempestade; isso representa 30 vezes mais pessoas do que as que morreram durante a própria tempestade.
Essa proporção que podemos chamar de "número de consequências", é notavelmente semelhante à da Ilha dos Macacos, que foi de 25.
Todos os furacões têm esse tipo de morte persistente. E outros desastres também têm mortes resultantes.
Grandes inundações causam ataques cardíacos em agricultores sobrecarregados, que precisam replantar seus campos encharcados.
Terremotos frequentemente levam a surtos de doenças, rompendo tubulações de esgoto e criando condições insalubres.
Os cientistas ainda estão tentando descobrir o que determina o número de consequências de um desastre específico.
Desastres como terremotos tendem a ter números de consequências menores para o mesmo total de mortes, porque mais mortes ocorrem durante o desastre.
Mas o fato de existirem mortes por consequência, e de alguns desastres serem tão numerosos, significa que provavelmente precisamos prestar tanta atenção, ou até mais, aos efeitos persistentes de um desastre quanto ao desastre em si.
E quando você ouve que um furacão em algum lugar do mundo matou, digamos, 5 pessoas, você deve multiplicar esse número mentalmente por cerca de 200 para entender o verdadeiro número de mortes do furacão.
E isso nos leva de volta à Ilha dos Macacos. Após o furacão Maria, os macacos começaram a se limpar, despiolhar e lamber um ao outro com mais frequência do que antes, tipo, com muito mais frequência. Até duas vezes mais que uma outra colônia de macacos.
Os macacos se limpam principalmente para fortalecer laços sociais, fazer amigos, manter a higiene e resolver conflitos. A limpeza é um comportamento social fundamental em muitas espécies de primatas, servindo a múltiplos propósitos além da simples limpeza.
Os pesquisadores acreditam que, coletivamente, os macacos estavam se higienizando mais como uma forma de diminuir seus níveis de estresse, e, inadvertidamente, seu número de consequências. Esse é o tipo de consequência e cuidados com os demais que todos deveríamos almejar.
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