![]() | Em 1949, o empresário Frank McNamara estava prestes a pagar o jantar quando percebeu algo terrível: havia esquecido a carteira. Embora esse cenário não seja tão incomum, a reação de Frank foi. Determinado a garantir que nunca mais ficaria sem dinheiro, ele inventou o Cartão Diners Club, um pedaço de papelão do tamanho de uma carteira que permitia aos portadores jantar em restaurantes associados e quitar suas contas no final de cada mês. Frank não foi o primeiro a codificar esta espécie de pagamento. |

Com efeito, há evidências de sistemas de pagamento diferido que remontam à antiga Mesopotâmia. No Velho Oeste americano, fazendeiros e agricultores usavam placas de metal como marcadores de crédito.
E poucos anos antes do desastre gastronômico de Frank, muitas lojas de departamento e companhias aéreas já haviam começado a implementar programas de recompensas e cartões de crédito. Mas o Cartão Diners Club era diferente.
Enquanto os acordos de crédito anteriores viam uma empresa autorizando crédito para uma pessoa, o cartão de Frank concedia aos usuários crédito em mais de duas dúzias de empresas não associadas.
Esse crédito descentralizado foi revolucionário e, em apenas um ano, o Cartão Diners Club conquistou 10.000 usuários.
Logo, vários bancos americanos recrutaram comerciantes locais e lançaram seus próprios programas de crédito. Para esses comerciantes, os cartões de crédito proporcionaram aumento de negócios e financiamento inicial.
Para os consumidores, os cartões ofereciam flexibilidade financeira, permitindo-lhes fazer compras maiores, desde que pudessem pagá-las no final de cada mês. E os bancos lucravam com pequenas taxas em cada transação.
Mas logo, os bancos encontraram outra maneira de ganhar dinheiro com esses cartões. Eles começaram a permitir que os titulares dos cartões pagassem suas dívidas mais lentamente por uma taxa adicional chamada pagamento de juros.
Basicamente, os titulares do cartão podiam optar por pagar apenas parte da fatura mensal, e o banco adicionaria uma porcentagem do valor não pago à fatura do mês seguinte. Mesmo naqueles primórdios, esse sistema não era isento de problemas.
Em 1958, o Bank of America enviou 60.000 cartões de crédito não solicitados para moradores de Fresno, Califórnia.
Embora essa promoção tivesse como objetivo atrair novos clientes, ela levou principalmente ao roubo desenfreado de cartões e ao não pagamento de contas.
Os bancos também tiveram dificuldades para processar toda a documentação de pagamento gerada por esses cartões. Naquela época, a cobrança em um cartão de crédito envolvia carimbar os detalhes do cartão em relevo em papel carbono e enviar esses comprovantes de cobrança para processamento manual. Uma trabalheira danada!
Mas, com o crescimento do uso do cartão de crédito, os bancos ficaram com estoques de comprovantes de cobrança não processados, criando atrasos que os impediam de cobrar juros.
Apesar dessas perdas iniciais, os bancos americanos permaneceram dedicados aos cartões de crédito. Naquela época, era ilegal para bancos abrirem agências fora de seu estado de origem, então enviar cartões de crédito pelo correio era a melhor aposta para atrair clientes de fora do estado.
E, uma vez que conquistassem esses novos clientes, podiam vender-lhes itens de alto valor, como financiamentos imobiliários e de automóveis.
Isso levou os bancos a dobrarem a aposta em cartões de crédito. Eles investiram pesadamente nos primeiros computadores para processar boletos e começaram a veicular anúncios que prometiam um padrão de vida mais luxuoso.
Essas campanhas publicitárias mudaram a atitude americana em relação ao crédito, de uma atitude de vergonha e dependência financeira para uma celebração da liberdade financeira.
No entanto, a realidade desses sistemas de empréstimo era muito mais exploradora. De 1956 a 1967, a dívida do consumidor aumentou 133%, e as preocupações com a segurança do consumidor levaram a uma onda de ativismo anticrédito ao longo da década de 1960.
Esse movimento sofreu um golpe devastador em 1968, quando a Suprema Corte removeu o teto das taxas de juros estaduais, permitindo aumentos massivos de juros ao longo da década de 1970.
Novas complicações surgiram no final dos anos 80 com a invenção dos escore de crédito, que reforçaram os preconceitos raciais, de gênero e de classe que já impactavam os pedidos de cartão de crédito.
Hoje, os cartões de crédito representam uma indústria de US$ 500 bilhões. Os bancos consideram essas linhas de crédito ao decidir se aprovam ou não empréstimos, incentivando os clientes a manter vários cartões de crédito.
E como a maioria dos usuários não paga suas contas integralmente todos os meses, eles acumulam dívidas e pagamentos intermináveis de juros.
Até o final de 2023, a dívida de cartão de crédito somente nos EUA ultrapassava US$ 1 trilhão. Portanto, embora os primeiros cartões de crédito possam ter sido os mais limitados, eles podem ter sido, na verdade, os melhores para os bolsos dos usuários.
Em dezembro de 2024, mais de 73 milhões de brasileiros estavam endividados, e 27,5% dessas dívidas eram de cartão de crédito.
É importante notar que o número total de endividados no país ultrapassou 70 milhões, com 68,11 milhões de pessoas negativadas em outubro de 2024, sendo o cartão de crédito a principal modalidade de dívida para muitos brasileiros, com um aumento na sua utilização.
O crescimento do endividamento no ano de 2024 impulsionou o uso do cartão de crédito e de outras formas de crédito para os consumidores, especialmente os de renda mais baixa.
Apesar do cartão de crédito oferecer comodidade e a possibilidade de parcelamento, ele se tornou um dos principais vilões da inadimplência, afetando a saúde financeira de muitos brasileiros.
Os dados nacionais também apontam o maior vilão do cenário: o cartão rotativo. O crédito rotativo é acionado quando a pessoa não paga o valor total da fatura do cartão e quita apenas o mínimo. A diferença entre o valor total e o que foi pago entra automaticamente no rotativo.
O juro é alto, cerca de 446% ao ano, porque funciona como um empréstimo sem garantia. Como os bancos nunca perdem nada, colocam juros altos para compensar esse risco.
A diferença percentual entre a taxa de juros que o banco cobra dos tomadores de crédito e a taxa de juros que ele paga aos depositantes e investidores para captar recursos no Brasil é uma das maiores do mundo, justamente porque os bancos embutem nas taxas de juros a inadimplência e margem de lucro. Uma dívida de R$ 500 chegaria a R$ 2 mil em 12 meses.
O cartão de crédito é uma coisa boa, mas a falta de educação financeira e o uso do crédito como extensão da renda são fatores que contribuem para o endividamento excessivo.
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