![]() | Segundo o ponto de vista da linguística: - "...não existe sotaque 'feio', 'bonito', 'correto' ou 'neutro'. Todos os sotaques são variações linguísticas válidas e fazem parte da identidade cultural de uma região." Segundo os linguistas, o que existe é um preconceito linguístico, que é o julgamento de uma forma de falar com base em fatores sociais, econômicos ou regionais, e não em critérios objetivos da linguagem. Interessante isso, mas tal consideração tem mais de correção política do que qualquer outra coisa. E já vou explicar o motivo. |

Gramaticamente, os sotaques estão cheios de barbarismos -o uso incorreto de uma palavra em relação à sua pronúncia, grafia, morfologia ou semântica-. Falar "peneu", "ixcola", "muié", "mermo", "ocê", "vorta" é feio sim, tão feio como escrevê-las da mesma forma.
Isso é meio complicado, sobretudo para o razoamento de uma criança em suas primeiras lições de ortografia, aprendendo as regras da forma correta de escrever as palavras, mas depois descobre que estas mesmas regras não se aplicam à fonética.
Linguistas afetados também costumam dizer que os rankings de "sotaque mais feio" refletem opiniões populares e "preconceito linguístico" que se manifestam nas redes sociais e em discussões informais.
Para começar, pesquisa de opinião ainda é pesquisa. Por exemplo, se 80 pessoas em 100 dizem preferir o Polo ao Berlingo, isso indica que alguma característica técnica do Berlingo está abaixo do padrão e não por causa de um "preconceito automobilístico".
Eu recorri ao Gemini e ao Grok quais sotaques são mais frequentemente citados negativamente ou geram mais discussões e a resposta foi unânime:
1. Sotaque Carioca
Em primeiro, o Sotaque Carioca é muito citado como o "mais irritante" ou "mais feio", frequentemente associado ao chiado do "s" (como "sh" ou "x"). Eles, os cariocas, acham lindo e ficam bastante irritados quando descobrem que quase ninguém gosta.
O curioso é que os cariocas não falavam assim antes. O "Ishqueci o ishqueiro e o bishcoito na ishquina da ishcola" começou em 1808 com a chegada da corte portuguesa afugentada de Napoleão e o motivo é ridículo: uma hipótese é que chiado pegou no Rio de Janeiro por estar associado a um jeito de falar mais elitizado, nobre, ligado à Corte, ou seja, imitação.
O engraçado da coisa é que o chiado só começou a aparecer no sul de Portugal no fim do século 17. As razões para isso ainda não são claras, mas parece que foi por influência do francês falado em Paris, ou seja, imitação.
2. Sotaque Paulista
O Paulistano também é frequentemente mencionado como "insuportável" ou "irritante", especialmente variações como o sotaque "caipira" com seu característico "r" retroflexo) ou o sotaque da capital, às vezes caricaturado como o "meo" e o "r" puxado em certas palavras.
3. Sotaque Sulista
O Gaúcho é citado por algumas pessoas, com foco especial no sotaque de Porto Alegre ou na pronúncia do "l" final de forma mais "dura" (alveolar) em algumas regiões.
Algumas pessoas também acham irritante o uso das interjeições para expressar uma variedade de emoções: "Bah!" (de "barbaridade" e "Tchê!" (do espanhol "Che" dos pampas argentinos).
Com a polarização política, os dois outros estados do sul hoje também ganharam status de sotaque feio.
4. Sotaque Nordestino
Lógico, não existe um único sotaque nordestino, mas sim uma grande variedade dentro da própria região. Estados e até cidades diferentes têm sotaques distintos.
Mas ele é considerado o mais polêmico devido a opinião do mainstream achar que tudo que vem do nordeste é "lindo". Se alguém disser que o sotaque é feio, vai apanhar até no céu da boca.
A diferença que mais caracteriza o sotaque é a ditongação, o processo também usado pelo Sotaque Mineiro de adicionar uma vogal em ditongos, como em "treis" ("três"), "nóis" ("nós") ou "arroiz" (arroz).
Em alguma regiões também é comum a falta de palatização o pronunciar as letras "t" e "d". Ainda que neste caso todos os outros sotaques estejam errados ao pronunciar "tchia" ou "djia em vez da pronúncia correta "tia" e "dia"
Foi se o tempo em que a influência da mídia enfiava goela abaixo que o sotaque de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro era considerado o padrão "neutro" ou "correto". A Globo ainda é a maior emissora de TV do país, mas poucos hoje são reféns de suas manipulações.
Na atualidade existe uma percepção um pouco mais correta do que o Sotaque Capixaba é o mais neutro e correto do país. Novamente o linguista afetado acha que isso é o resultado do senso comum, pois, linguisticamente, todo falante tem sotaque.
O que destaca o sotaque do Espírito Santo é que ele possui características que se aproximam mais do dialeto padrão com fonemas que não judiam tanto da ortografia.
Ajuda também que a ausência de marcas regionais fortes, o Sotaque Capixaba não possui traços fonéticos imediatamente reconhecíveis ou estigmatizados em nível nacional, fazendo com que ele passe "despercebido" por falantes de outras regiões.
A coisa mais estranha sobre o sotaque é que você quase sempre mantém o de nascença. Quando saí de Minas e fui morar em Campinas no meu primeiro emprego adquiri alguns trejeitos do sotaque paulista e comecei a pensar como o mineirês era feio.
Desde então morei em São Paulo, Rio, Curitiba e, por fim, Joinville. Hoje praticamente não tenho nenhum sotaque, mas quando volto a minha cidade natal, Passa quatro, não são necessários mais que 10 minutos para eu começar a falar cantado, encurtando palavras e frases e vendo "trem" em todo e qualquer lugar. - "Nó, cadiquê hein?"
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