Emily Rosa, a história de uma garota que desmascarou uma pseudociência

Dias desses vi, em um posto de saúde, uma enfermeira com as mãos impostas sobre um paciente. Pensei: - "Que merd@ é esta? Será que as enfermeiras agora também dão passe?". Curioso decidi perguntar do que se tratava: toque terapêutico, me disseram. Continuei sem entender nada, mas quando cheguei em casa decidi pesquisar sobre o assunto e descobri que é um método de cura que utiliza o movimento das mãos sobre a área afetada. É por assim dizer um passe metido a besta.

O tal do toque terapêutico, que é avalizado por áreas relacionadas à enfermagem, é algo parecido ao que fazem as antigas benzedeiras de sempre com seus galhos de arruda. A pessoa deve mover as mãos ritmicamente por cima do corpo do paciente, a uma distância entre 5 e 15 centímetros, com o fim de reequilibrar o campo magnético humano que supostamente envolve a todos.

Eu não vou me estender mais sobre esta bobagem o toque, vamos dar sentido ao título deste post que é relacionado a Emily Rosa, uma menina de 9 anos de Loveland, Colorado, que queria obter uma boa nota na matéria de ciências do colégio. De modo que criou uma experiência para verificar a veracidade de uma pseudociência como trabalho. Adivinhem qual o tratamento de medicina alternativa escolheu para submeter ao exame? Isso mesmo, foi o toque terapêutico -não confundir com massagem-, porque ela achava que havia pouco sentido que as pessoas pudessem se curar com o simples movimento das mãos.

Emily entendeu que aceitar algo assim supunha reescrever uma boa quantidade das páginas de seu livro de ciências, de modo que creu oportuno comprovar se realmente o toque terapêutico poderia ser uma revolução científica que acabaria por outorgar o Prêmio Nobel a sua descobridora.

O experimento realizado pela pequena Emily acabou sendo capa do New York Times de 1 de abril de 1998, e também foi publicado no The Journal of the American Medical Association. Ademais recebeu vários prêmios e foi convidada a aparecer em dezenas de programas de TV.

Emily criou um experimento simples para comprovar se os praticantes do toque terapêutico sentem realmente um "campo humano de energia", tal como afirmam. A terapeuta e Emily sentaram-se em uma mesa, uma em frente à outra, separadas por uma tapume, cuja base recortaram dois buracos. A terapeuta colocava as mãos neles, cobertas por uma toalha. Antes da cada série de testes, aguardavam algum tempo para a "concentração" ou para que a terapeuta fizesse as preparações mentais que julgasse necessárias. Emily então jogava uma moeda ao ar e, de acordo com o resultado, situava sua mão direita ou esquerda a uns dez centímetros acima de uma mão da terapeuta. Então perguntava que mão estava mais próxima a sua; a terapeuta dispunha do tempo que quisesse para decidir.

Acho que já podem imaginar o resultado do experimento. Dos 280 testes com 21 terapeutas, 44% das vezes escolheram a opção correta, uma percentagem ligeiramente mais abaixo que o da adivinhação a esmo.

Na verdade, a experiência foi um tanto ingênua e criticável em alguns detalhes -por exemplo, o número de amostras foi pequeno-, mas ainda assim resulta muito louvável que uma menina de 9 anos do primeiro grau tenha se portado com mais senso comum que milhares de praticantes adultos do toque terapêutico.

Mais tarde foram feitas novas experiências mais rigorosas cujos resultados foram igualmente negativos. O toque terapêutico é uma charlatanice capaz de cooptar pessoas com crédito acadêmico, mas com diminuta disciplina intelectual. Algo que deveriam aprender com a pequena Emily.