Estudo canadense deu $7.500 a pessoas sem teto. O que fizeram com o dinheiro?

Ao redor de 235.000 canadenses ficam sem lar a cada ano e este número deve disparar em 2020 devido a pandemia do novo coronavírus. O que aconteceria se o governo lhes desse certa soma em dinheiro sem exigir nada em troca? Foiisso o que tentou averiguar em 2018 o estudo New Leaf Project realizado pela organização beneficente Foundations for Social Change em colaboração com a Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, Canadá.

O estudo identificou 50 pessoas que tinham ficado sem moradia em Vancouver durante os últimos dois anos e deu 7.500 dólares canadenses a cada um (o equivalente a uns 32 mil reais). Então disseram aos "voluntários que podiam fazer o que quisessem com o efetivo.

- "Fui com um dos representantes do programa a um banco e abrimos uma conta bancária para mim", disse Ray, um dos beneficiários. - "Inclusive após o depósito do dinheiro, demorei uma semana em assimilar e fazer uma retirada."

A organização realizou depois um rastreamento dos indigentes, perguntando-lhes periodicamente como gastavam o dinheiro e em que situação estavam suas vidas. Já que participavam em um ensaio controlado, seus resultados foram comparados a um grupo de controle: 65 pessoas sem lar que não tinham recebido dinheiro em numerário.

As pessoas que receberam a grana acabaram alugando uma moradia e poupando suficiente dinheiro para manter uma segurança financeira mais rápido que os que não. Contrariamente aos estereótipos e preconceitos, a despesa com drogas, fumo e álcool reduziu em média 39%. A despesa com comida, roupa e aluguel aumentou, segundo informaram os próprios beneficiários.

Além de conseguir uma moradia, Ray usou o efetivo para pagar os cursos que precisava para poder trabalhar atendendo pessoas com vícios. Tanto os receptores do dinheiro como as pessoas do grupo de controle tiveram acesso a oficinas e coaches focados em desenvolver planos e habilidades para sua vida.

- "A investigação mostrou que se você der às pessoas uma soma considerável de efetivo adiantado, se desencadeia um pensamento em longo prazo, em vez de simplesmente mantê-los em modo de sobrevivência", explicou Claire Williams, a diretora da fundação. - "Ninguém pode se matricular em um curso para melhorar sua vida quando não tem suficiente dinheiro nem para pôr comida na mesa."

O New Leaf Project surgiu para defender a ideia da renda básica universal. O estudo tenta desmitificar que as pessoas pobres sejam más na tomada de decisões e no autocontrole. O normal é que não sejam intrinsecamente culpados de sua situação e não gastem seu dinheiro em drogas, ao menos quando levam menos de dois anos vivendo na rua.