O comediante Rowan Atkinson, o Mr. Bean, quer cancelar a 'cultura do cancelamento'

Rowan Atkinson, famoso por interpretar os personagens Mr. Bean e Johnny English, mais uma vez estampou as manchetes por criticar o surgimento da destrutiva cultura do cancelamento. Em uma entrevista à Radio Times do Reino Unido, Atkinson descreveu os guerreiros da justiça social online, tentando banir tudo, como o equivalente digital de um turba medieval vagando pelas ruas em busca de alguém para queimar. Grande defensor da liberdade de expressão, ele também culpou a mídia social pelos linchamentos online.

- "O problema que temos online é que um algoritmo decide o que queremos ver, o que acaba criando uma visão simplista e binária da sociedade", disse ele. - "Torna-se um caso de você estar conosco ou contra nós. E se você está contra nós, você merece ser 'cancelado'", enfatizou o comediante britânico.

Ele observou que está na mira da multidão de trolls, não apenas devido a algumas das esquetes de Mr. Bean, muitas das quais foram escritas há 30 anos, mas também por causa de sua longa história de defesa da liberdade de expressão.

- "É assustador para quem é vítima dessa multidão e me enche de medo sobre o futuro", declarou Atkinson.

Atkinson se opôs à introdução das chamadas leis de "discurso de ódio" em 2005, descrevendo a legislação como sendo "uma marreta para quebrar uma noz". Ele também se opôs à introdução de cláusulas homofóbicas de "discurso de ódio" na lei do Reino Unido em 2009. Na época, ele profetizou que estavam criando "uma cultura da censura."

Já em 2012, Atkinson protestou ainda mais contra o comportamento "insultuoso" ser classificado como crime.

- "O problema claro de proibir o insulto é que muitas coisas podem ser interpretadas como tal. Crítica e sarcasmo, meramente afirmando um ponto de vista alternativo à ortodoxia, pode ser interpretado como um insulto", afirmou Atkinson na época durante uma defesa da liberdade de expressão.

Sua crítica vem depois de um ano em que uma infinidade de celebridades foram torpedeadas por alegações, comentários ou ações supostamente preconceituosos. Em um exemplo memorável, a carreira de J.K. Rowling foi cancelada nas redes sociais depois que a autora de "Harry Potter" fez uma série de comentários considerados intolerantes.

Vários outros comediantes protestaram contra a ascensão da cultura do cancelamento, incluindo a estrela do "Monty Python, John Cleese, Ricky Gervais, Joe Rogan e Adam Carolla, bem como Bill Burr e a estrela do politicamente incorreto Dave Chapelle, para citar apenas alguns. Aqui no Brasil, um dos grandes alvos do cancelamento é Danilo Gentili. Só não conseguiram ainda porque ele é muito presente nas redes sociais.

Deveras, a comédia é o principal alvo da cultura do cancelamento, fazendo alguns comediantes se autocensurarem para apaziguar a multidão. Entretanto há sinais de que seus tentáculos estão penetrando profundamente em todos os aspectos da sociedade.

Um estudo recente realizado pelo think tank Civitas, voltado para a educação, revelou que a liberdade de expressão nas principais universidades do mundo está sendo corroída a um ritmo alarmante. O estudo descobriu que nos últimos três anos, mais de 68% das universidades no Reino Unido viram a liberdade de expressão severamente restringida, com acadêmicos incapazes de discutir significativamente as nuances de questões como etnia e gênero.

No ano passado, 150 dos maiores intelectuais, autores e ativistas do mundo assinaram uma carta aberta condenando a cultura do cancelamento, a censura e a marcha totalitária da "conformidade ideológica". A carta advertia que cancelar a cultura está criando um clima de aversão ao risco que impede qualquer pessoa de discordar do consenso monolítico da retórica da justiça social, criando uma atmosfera sufocante que acabará por prejudicar as causas mais vitais de nosso tempo.