O «paradoxo das predições do futuro», na qual o próprio Arthur Clarke caiu ao vaticinar em 1964

- "Tentar predizer o futuro é uma desalentadora e perigosa tarefa, porque o profeta enfrenta invariavelmente duas opções que são verdadeiras armadilhas", disse Arthur C. Clark. - "Se suas previsões soarem razoáveis, pode estar seguro de que em vinte ou, no máximo, cinquenta anos, o progresso da ciência e a tecnologia lhe farão soar ridiculamente conservador. Por outro lado, se por algum milagre puder descrever o futuro exatamente como vai ocorrer, suas previsões soariam tão absurdas e disparatadas que todo o mundo desprezaria. Isto resultou ser verdade no passado, e sem dúvida será ainda mais no próximo século."

Assim Arthur C. Clark começa sua explanação no programa Horizon da BBC, lá por 1964. É curioso ver como em suas predições ele cai exatamente no paradoxo que descreve no começo: ou soam absurdamente óbvias ou estúpidas.

Por um lado, resulta assustador a precisão com a qual detalham alguns dos inventos do futuro; por outro, soa completamente ridículo ao explicar alguns outros conceitos que seguem parecendo impossíveis, ainda que... quem sabe?!?

Aí vai a lista do que conta em tão só dez minutos:

Cidades das futuro;
• Comunicações instantâneas graças aos satélites;
• Teletrabalho;
• Telemedicina;
• O fim das viagens de trabalho e dos trajetos ao escritório;
• Bioengenharia e domesticação de novos "serviçais animais";
• Grandes símios inteligentes; super-chimpanzés;
• Inteligência artificial e robótica;
• Gravação de sonhos e, no inverso, "aprendizagem instantânea";
• Extinção de más lembranças;
• Criogênese, animação suspensa e imortalidade;
• Viagens interestelares em hibernação;
• Primeiro contato com civilizações inteligentes;
• Bases e cidades na Lua;
• Terraformação e reconstrução dos planetas do sistema solar;
• Replicadores.

Uma boa parte soam a futuros de filmes de ficção e nem todos acabam bem. Na verdade, não imagino super-chimpanzés servindo humanos -para começar porque as leis já os protegem como seres sencientes- e sabemos pelo "Planeta dos Macacos" que a coisa acaba mau.

Também não me imagino abrindo os olhos com conhecimentos que jamais tive, mas temas como a eliminação de lembranças ruins e algo parecido à gravação de sonhos poderiam não ser fisicamente impossíveis.

Outros inventos são, como disse na introdução, quase óbvios. Ainda que sua ideia dos satélites dos comunicações em órbita geoestacionária é de 1945, quando foi necessário quase 20 anos para demonstrar a validade do conceito com o Telstar 1. O Intelsat I foi em 1965 o primeiro satélite comercial deste tipo. Clarke tinha claro que essas comunicações dariam lugar a grandes redes e sistemas de comunicação, ainda que não imaginasse que as pessoas usariam WhatsApp ou Telegram para se enviar piadas e vídeos de gatinhos.

Com respeito às viagens interestelares, a colonização do Sistema Solar e o contato com civilizações inteligentes há que reconhecer que estamos lentos, provavelmente porque é algo caro e não há dinheiro para tudo, nem público nem privado. Mas como suas previsões eram para o próximo século temos até 2064 para que possamos ver se realmente vai acontecer.

A verdade é que as únicas coisas que podemos estar seguros sobre o futuro é que será absolutamente fantástico ou, pelo andar da carruagem, os humanos não farão parte dele.