O que aconteceu com a metade desaparecida do Coliseu Romano?

O que aconteceu com a metade perdida do Coliseu? Pode ser uma pergunta sobre a Roma antiga que você tinha medo de perguntar na escola. Ou talvez, depois de ver o perfil irregular da enorme ruína antiga toda a sua vida, você nunca pensou muito na forma do Coliseu. Apesar de atualmente receber mais visitantes por ano do que a Fonte de Trevi e a Capela Sistina juntas, o monumento ao pão e circo da Roma imperial sofreu grave negligência no milênio e meio depois de ter sido usado como arena de gladiadores. Foram cerca de 1.500 anos de negligência e projetos de construção aleatórios sobrepostos uns aos outros.

Usado como pedreira após o século VI, durante a maior parte de sua longa e decadente vida, o anfiteatro e seu "hipogeu" -o intrincado sistema de túneis e terraplanagem por baixo- foram totalmente esquecidos. Ou seja, durante a maior parte de sua história, os humanos ignoraram o Coliseu. Mas a curiosidade sobre sua história compensa:

Ao longo dos séculos, as pessoas encheram o hipogeu com terra e entulho, plantaram hortas, estocaram feno e despejaram esterco animal. Após o colapso do Império Romano, o Coliseu foi tomado pela igreja. Ali eles construíram uma pequena capela na estrutura do anfiteatro, transformando a arena em cemitério, com os espaços sob os assentos para habitação.

Estas casas foram alugadas até ao século XII e abrigavam sapateiros, ferreiros, padres, coladores e cambistas, além de uma fortaleza dos Frangipani, os senhores da guerra daquele tempo. Até então, lendas locais e guias de peregrinos descreviam o anel em ruínas das paredes do anfiteatro como um antigo templo ao sol. Necromantes iam lá à noite para convocar demônios.

No final do século 16 -antes dos papas desfilarem pela arena para homenagear os cristãos devorados por leões- o Papa Sisto V, o construtor da Roma renascentista, tentou transformar o Coliseu em uma fábrica de lã. A empreitada fracassou e logo depois a enorme variedade de plantas silvestres começou a atrair botânicos, que catalogaram cerca de 337 espécies diferentes.

O hipogeu, o mecanismo arquitetônico que outrora alimentava os espetáculos no andar de cima, só foi limpo na década de 1930 por Benito Mussolini em sua glorificação da Roma clássica.

A restauração do Coliseu não começou até a década de 1990 e os visitantes só puderam ver o funcionamento interno da ruína em 2011, quase 2000 anos desde que foi construído entre 72 e 80 d.C. Originalmente chamado de Anfiteatro Flaviano, o nome do edifício foi alterado para refletir sua proximidade com o Colosso de Nero, um monumento à arrogância imperial que há muito desapareceu.

Então, e aquela metade que falta? A resposta curta é: terremotos e papas, nessa ordem.

A resposta mais longa, como você pode imaginar, é muito mais colorida e sangrenta, envolvendo eventos como a celebração de 123 dias do imperador Trajano de sua vitória na Dácia, no decorrer do qual 5.000 pares de gladiadores lutaram e 11.000 animais foram mortos.

Graves danos foram infligidos ao Coliseu pelo grande terremoto em 1349, causando o colapso do lado sul externo, situado em um terreno aluvial instável. No entanto, muitas das pedras que desmoronaram do prédio durante o terremoto foram reutilizadas para construir palácios, igrejas, hospitais e outros edifícios. Muitos dos edifícios circundantes do Coliseu foram construídos ou reformados com as pedras antigas, incluindo as catedrais de São Pedro e São João de Latrão.

Após o terremoto devastador, o Coliseu continuou a ser saqueado de seus materiais. A pedra foi retirada do interior do anfiteatro e os grampos de bronze foram cortados das paredes do prédio. Essa pilhagem continuada deixou cicatrizes severas nas paredes do Coliseu, que ainda são visíveis hoje.

De qualquer forma, depois de 500 anos daquele "esporte" sangrento (e outras diversões) e outros 1.500 anos de deterioração, eu diria que o Coliseu resistiu notavelmente bem, uma homenagem à engenharia arquitetônica romana, a única coisa que o Império Romano parecia amar mais do que a violência.