Ray Tomlinson e Martin Cooper, gente que faz

Quando na década dos 60, o famoso humorista estadunidense Mel Brook criou a série para televisão "Super Agente 86" (uma paródia dos filmes de James Bond) dotou seu protagonista Maxwell Smart ? interpretado por Dom Adams ? de todo um conjunto de gadgets hilariantes entre os quais se destacava o sapatofone. Nada fascinava tanto então aos fãs do gênero de espionagem como a tecnologia de comunicação sem fio.

Escravos como eram nossos pais dos cabos da conexão telefônica, os meninos nascidos nos anos 70 imaginavam um futuro de liberdade no qual o telefone fosse com eles a todos os locais, ou no bolso ou escondido na sola do sapato; e enquanto esperavam que o milagre tecnológico tornasse estes desejos em realidade, confortavam-se com os limitados e ruidosos Walkie-Talkies.

A World Wide Web nasceu no início da década de 1990 da mão de Tim Berners-Lee, mas pouca gente sabe que muito, muito tempo antes do nascimento da web, teve um engenheiro formado no MIT chamado Ray Tomlinson, que no seio da ARPANET – rede militar estadunidense considerada a precursora de nossa atual Internet – inventou um programa chamado SNDMSG (acrônimo de "send message") para o envio de mensagens escritas entre os diferentes nós ligados à rede.

Em 1971, ocorreu a Tomlinson que um bom modo de enlaçar o nome do usuário com o da máquina através da qual se ligava à rede, era usar o caractere arroba "@" já que todos os teclados o incluíam, ainda que não fosse usada para nada. O primeiro e-mail que o mundo conheceu foi enviado por Tomlinson para ele mesmo (usando dois computadores diferentes); e a histórica mensagem foi um típico: "1, 2, 3 testando...".

Com esta simples mensagem nasceu o formato atual de e-mail que é utilizado por milhares de milhões de usuários em todo o planeta. Muitos perguntamos o que teria acontecido se Tomlinson tivesse patenteado seu desenvolvimento? Mas ele não quis fazê-lo porque não acreditou que seu singelo e bobo invento iria ser usado em massa –crasso erro-. Atualmente ele afirma que basta o reconhecimento que o mundo lhe deu a posteriori, e isso já o deixa-o muito honrado.

O caso de Martin Cooper, o inventor do celular e antigo funcionário da Motorola, ocorreu quase ao mesmo tempo. Em 1972 Cooper tinha preparado o primeiro protótipo de telefone sem fio, que chamavam jocosamente de "tijolão" por causa das 800 gramas de peso; sem dúvida não tão "elegante" como o sapatofone de Dom Adams, mas igualmente funcional.

Cooper conta que o primeiro telefonema que fez com aquele aparelho foi para o diretor da ATT (a operadora telefônica mais importante dos Estados Unidos, que exercia então quase um monopólio) que gerenciava o programa móvel da poderosa companhia. O telefonema triunfante de Cooper foi um simples:

- "Olá Joel, estou falando com você de um celular". Do outro lado... silêncio total. Cooper é hoje em dia um simpático octogenário que resiste a abandonar o mercado de trabalho e que ainda conserva em sua casa vários daqueles tijolões. Sem dúvida, faria um bom dinheiro no e-bay se decidisse leiloá-los.

Para concluir: eu só resolvi falar sobre estes dois pois o esforço e talento de Tomlinson e Cooper não corresponde a nenhuma categoria do Nobel, ou seja, jamais serão homenageados mundialmente e devidamente premiados. Por isso resta nos guardar em algum canto da memória um agradecimento para estes dois caras que iniciaram uma espécie de revolução no mundo atual, tornando o mais pequeno e próximo.