Quando finalizava o artigo anterior, decidi contar uma história, fora de contexto, sobre este prazer meio mórbido que as pessoas têm de ver alguém se dando mal no volante. Quando a rodovia estadual chegou no povoado do interior de Minas onde nasci, a execução da obra deixou uma curva muito perigosa, com mais de 120° e inclinação negativa, que jogava o carro para fora da curva. O passatempo de alguns moradores, então, era ficar sentado no barranco, logo acima da curva, para ver os poucos carros que passavam.

Perto da cidade de Gmünd, no estado austríaco da Caríntia, fica a Igreja Dividida (Geteilte Kirche am Kreuzbichl), assim chamada porque é dividida em duas por uma estrada que a atravessa. De um lado da estrada fica a capela-mor e do outro lado uma galeria de dois andares onde os visitantes da igreja podem sentar-se e ouvir o sermão da capela-mor do outro lado da rua. Este arranjo é bastante único neste mundo. No local onde hoje se encontra a igreja existia originalmente um santuário à beira da estrada chamado "Kreuz am Bichl" (cruz das colinas).

A Grécia é uma das campeãs em fatalidade no trânsito e tem a maior taxa de mortes na União Europeia devido a colisões de veículos, que representam mais de 40% das mortes na Grécia. Dez anos atrás, esses números eram duas vezes mais sombrios. Em parte, a culpa é da geografia, que é coberta principalmente por montanhas que exigem que as estradas sejam praticamente esculpidas em terrenos íngremes.

Quando escrevia o artigo sobre a perigosa estrada localizada no Himalaia hoje, fui verificar se havia mudado alguma coisa no Camino a Los Yungas, mais conhecida como a Estrada da Morte, que interliga a cidade andina de alta altitude de La Paz aos vales subtropicais de Yungas e às planícies amazônicas além. Um passeio pela infame estrada boliviana leva os viajantes a um mundo onde dois recursos provocam fascínio, mal-entendidos e controvérsias há séculos: a coca e o ouro.