![]() | A Bolívia "vendeu" o Acre para o Brasil para resolver disputas de fronteira e a independência de fato da região, que teve origem em um grande fluxo de seringueiros brasileiros que ignoraram o controle boliviano. Em troca do território, o Brasil pagou à Bolívia 2 milhões de libras esterlinas em duas parcelas, indenizou o consórcio americano-boliviano e se comprometeu a construir a Ferrovia Madeira-Mamoré para dar à Bolívia, país sem litoral, acesso ao Rio Amazonas, garantindo seu acesso ao comércio internacional. |

Segundo o Banco da Inglaterra, 2 milhões de libras de 1903 totalizariam hoje 213 milhões de libras, 1,5 bilhões de reais, por 142.800 km² de puro mato.
o governo da Bolívia foi incapaz de controlar o vasto território pouco povoado, o que permitiu uma migração em larga escala de seringueiros brasileiros, impulsionados pelo ciclo da borracha, mas isso levou ao controle de fato pelos brasileiros e à resistência à autoridade boliviana.
Tudo começou em 1890, quando José Manuel Pando , um funcionário público boliviano, alertou seu governo para o fato de que mais de trezentas plantações de seringueiras haviam sido desenvolvidas na bacia do Jura, e a maioria estava ocupada por brasileiros no que era nominalmente território boliviano. A penetração brasileira avançou para oeste do meridiano 64º até além do 72º, em uma extensão de mil quilômetros, apesar das fronteiras já estarem estabelecidas. O Tratado de 1867 limitou o Brasil às terras acima da confluência dos rios Beni e Mamoré.
Em 1895, foi criada uma nova comissão para definir as fronteiras. O representante brasileiro, Gregório Taumaturgo de Azevedo, renunciou após verificar que a ratificação do Tratado de 1867 prejudicaria os seringueiros brasileiros já estabelecidos em território boliviano.
Em 1899, os bolivianos estabeleceram um posto administrativo em Puerto Alonso, cobrando impostos e taxas alfandegárias sobre as atividades brasileiras. No ano seguinte, o Brasil reconheceu a soberania da Bolívia na região, ao reconhecer oficialmente as antigas fronteiras na confluência dos rios Beni e Mamoré.
Distantes do processo diplomático, os trabalhadores da borracha consideraram que seus interesses haviam sido violados e iniciaram movimentos insurrecionais. Parte disso foi uma resposta ao tratamento brutal e aos abusos sofridos por parte das forças controladas pelas principais empresas de borracha. No mesmo ano em que a Bolívia estabeleceu a administração em Puerto Alonso ocorreram duas revoltas sérias.
Em abril, um advogado cearense, José Carvalho, liderou um movimento armado que culminou na expulsão das autoridades bolivianas. Pouco depois, a Bolívia iniciou negociações com uma empresa anglo-americano, o Sindicato Boliviano, a fim de promover, com força excepcional -cobrança de impostos, força armada- a incorporação política e econômica do Acre em seu território.
O governador do Amazonas, Ramalho Júnior, informado do acordo por um funcionário do consulado boliviano em Belém, Luis Gálvez Rodríguez de Arias, enviou contingentes militares para ocupar Puerto Alonso .
Luis proclamou a independência do Acre, na forma de uma república. Tornou-se seu presidente com a aquiescência dos seringueiros. Sob protestos da Bolívia, o presidente Campos Sales aboliu a efêmera república em março de 1900.
Por fim, o governo boliviano assinou um contrato com o Sindicato Boliviano em julho de 1901, que expulsou os brasileiros à força. O congresso brasileiro, chocado com a arbitrariedade do ato, tomou medidas, cancelando acordos comerciais e de navegação entre os dois países e suspendendo o direito de viagem à Bolívia.
Ao mesmo tempo, os brasileiros organizaram um grande ataque armado à área disputada. As operações foram lideradas por um ex-aluno da Escola Militar do Rio Grande do Sul, José Plácido de Castro.
Os seringueiros ocuparam a vila de Xapuri, no Alto Acre, em agosto de 1902, e prenderam autoridades bolivianas. Finalmente, as forças de Plácido de Castro sitiaram Puerto Alonso, proclamando o Estado Independente do Acre, após a capitulação das tropas bolivianas em fevereiro de 1903.
José Plácido de Castro foi proclamado governador do novo Estado Independente do Acre, e teve de discutir a questão das fronteiras na esfera diplomática. O Barão de Rio Branco, que acabara de assumir o cargo de Ministro das Relações Exteriores do Brasil, abriu imediatamente canais que deveriam pôr fim à questão.
O problema mais simples, com o Sindicato Boliviano, foi resolvido pelo Brasil pagando cento e dez mil libras para que a empresa renunciasse ao contrato. Em seguida, as relações comerciais foram restabelecidas com a Bolívia, enquanto uma parte do território no alto Purús e Juruá, militarmente ocupado em março de 1903, foi declarada litigiosa.
A Bolívia finalmente concordou em ceder ao Brasil uma área de 142.800 km², em troca de dois milhões de libras esterlinas, pagas em duas parcelas.
O Brasil comprometeu-se com a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim, na confluência dos rios Beni e Madeira.
Essas ações foram ratificadas no Tratado de Petrópolis, de 17 de novembro de 1903, por meio do qual o Brasil adquiriu o futuro território, hoje estado do Acre.
O Peru também reivindicava soberania sobre todo o território do Acre e parte do estado do Amazonas, com base em títulos coloniais históricos. Após conflitos armados entre brasileiros e peruanos no alto Purús e Juruá, uma administração conjunta foi estabelecida nessas regiões em 1904. s estudos para determinar as fronteiras prosseguiram até o final de 1909, quando foi assinado um tratado que completou a integração política do Acre ao território brasileiro.
Toda esta confusão para que anos mais tarde alguém roubasse mudas de seringueiras que foram levadas para o Sudeste Asiático, onde plantações concorrentes foram estabelecidas, reduzindo a importância da Amazônia na produção.
Durante a Segunda Guerra Mundial , as forças japonesas tomaram posse dos seringueirais da Malásia Britânica e o Acre foi convocado para produzir borracha para o esforço de guerra dos Aliados. Os "Soldados da Borracha" aumentaram a produção e forneceram suprimentos essenciais aos Aliados.
A construção da ferrovia Madeira-Mamoré, mais tarde conhecida como "Ferrovia do Diabo", se estendeu entre 1907 e 1912, mas nunca foi concluída, devido à morte de milhares de operários da construção civil, vítimas de doenças tropicais e da violência.
Não existem números precisos sobre a quantidade de vidas perdidas durante a construção da ferrovia. As estimativas variam entre 7.000 e 10.000.
A perda de vidas pode parecer baixa em comparação com outros projetos de construção complexos em terrenos de difícil acesso. Em comparação, a construção do Canal do Panamá ceifou 30.609 vidas.
No entanto, grande parte da lenda da "ferrovia do diabo" se baseia nas tentativas fracassadas e muito mais mortais do engenheiro e geógrafo George Earl Church e no próprio ciclo da borracha no Brasil, que custou dezenas de milhares de vidas.
O boom da borracha na América do Sul chegou ao fim devido à concorrência dos produtores asiáticos e da borracha sintética, e a ferrovia tornou-se redundante.
Inicialmente, o governo brasileiro foi obrigado a manter as instalações supérfluas devido às suas obrigações sob o Tratado de Petrópolis. No entanto, em 1972, o Brasil concluiu a BR-364, ligando a Bolívia às regiões navegáveis da Amazônia, e a ferrovia foi abandonada.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig: 461.396.566-72 ou luisaocs@gmail.com
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288




Faça o seu comentário
Comentários