Por que ainda não temos evidências de vida extraterrestre?

Quando criança, eu costumava me intrigar com muitas coisas. Por exemplo, enquanto brincava com me cão Pierrô, me perguntava como seria se eu fosse um cachorro? Quando ia tratar dos meus peixinhos no aquário, perguntava-me se aquele era o momento que eles me viam pela primeira vez, com base no mito -naquela época não era- da memória de 2 segundos dos peixes. O Big Bang foi apenas um acidente? Deus existe? E se existe, como temos tanta certeza de que é um Ele e não uma Ela? Por que tantas pessoas e animais inocentes sofrem coisas terríveis?

Com a passagem dos anos estas questões ficaram mais profundas e filosóficas. Existe realmente um plano para a minha vida? O futuro ainda está por ser escrito, ou já está escrito e nós simplesmente não conseguimos vê-lo?

O que me deixava bastante frustrado é que estas perguntas não tinham respostas. Afinal, eu tenho livre arbítrio? Quem sou eu, afinal? Sou apenas uma máquina biológica? Mas então, por que sou consciente?

Quer dizer, eu meio que presumia que algum dia me dariam as respostas para todas essas perguntas. Afinal, alguém deveria saber, certo? Hum. Adivinha? Ninguém sabe.

A maioria dessas perguntas me intriga mais agora do que nunca. Recorrentemente me flagro perguntando "Por que ainda não temos evidências de vida extraterrestre?"

A falta de evidências de vida extraterrestre, apesar da alta probabilidade estatística de sua existência, é conhecida como o Paradoxo de Fermi.

Existem muitas hipóteses propostas para esse "Grande Silêncio", amplamente categorizadas em três possibilidades: a vida inteligente é rara, nossos métodos de busca são insuficientes ou civilizações extraterrestres têm razões para não nos contatar.

Ainda assim "hipóteses" não são "respostas", na verdade nos deixam ainda mais encucados. Na sequência listo algumas delas:

1. A hipótese do "Grande Filtro" diz que é possível que as condições específicas necessárias para a vida -especialmente a vida complexa e inteligente- evoluir e persistir sejam incrivelmente raras.
   
   Esse conceito é frequentemente chamado de "Grande Filtro", por avaliar um grande obstáculo evolutivo que a maioria das formas de vida nunca supera.
2. A abiogênese é extremamente improvável, ou seja, o salto inicial da matéria não viva para organismos autorreplicantes pode ser um evento altamente improvável que ocorreu apenas uma vez, na Terra.
3. A hipótese da "Terra rara" sugere que a combinação perfeita de fatores que tornam a Terra habitável -uma órbita estável, uma lua grande, tectônica de placas, etc.- é excepcionalmente incomum no universo.
4. Uma civilização avançada o bastante pode inevitavelmente desenvolver os meios de sua própria destruição, por exemplo, guerra nuclear, colapso ambiental, IA descontrolada, antes de conseguir realizar viagens ou comunicações interestelares.
5. Limitações nos esforços de busca humana.
   Podemos simplesmente não estar procurando nos lugares certos, da maneira certa ou por tempo suficiente.
6. O universo é inimaginavelmente vasto e as distâncias entre as estrelas são enormes. Mesmo a velocidades próximas à da luz, a viagem interestelar levaria milhares de anos, e os sinais que transmitimos viajaram apenas cerca de 100 anos-luz no espaço.
   
   Civilizações podem surgir e desaparecer sem nunca se sobreporem no tempo e no espaço o suficiente para estabelecer contato.
7. A humanidade busca principalmente por ondas de rádio, mas uma civilização avançada pode usar métodos de comunicação que ainda não entendemos ou não conseguimos detectar, como neutrinos modulados, lasers ou comunicação quântica.
8. Nossa busca muitas vezes é tendenciosa em relação à vida como a conhecemos -baseada em carbono, dependente de água-. A vida alienígena pode ser radicalmente diferente, talvez baseada em máquinas ou vivendo em ambientes que consideramos hostis, como oceanos subterrâneos profundos em luas geladas.
9. Pode até existir vida alienígena avançada, mas e se ela estiver evitando intencionalmente o contato com a humanidade?
10. A hipótese do zoológico sugere que a Terra está sendo observada como uma reserva de vida selvagem ou um "zoológico", e civilizações avançadas têm uma política de não interferência, semelhante à "Primeira Diretriz" em Star Trek, para permitir que a civilização humana evolua naturalmente.
11. A teoria da "Floresta Escura, diz que civilizações podem permanecer em silêncio para evitar a detecção por espécies potencialmente hostis, já que divulgar sua presença poderia ser visto como uma ameaça existencial.
12. Ou é simples falta de interesse? Uma civilização superinteligente pode considerar a humanidade primitiva ou desinteressante demais para justificar a comunicação com um bando de songo-mongo.

Os esforços para solucionar o Paradoxo de Fermi também suscitaram debates filosóficos e éticos sobre o lugar da humanidade no cosmos. Deveríamos enviar mensagens ativamente a potenciais civilizações alienígenas, ou seria mais seguro permanecer em silêncio? Que responsabilidades teríamos se descobríssemos vida inteligente?

O Paradoxo de Fermi nos desafia a confrontar questões profundas sobre a existência, a tecnologia e o futuro da humanidade. Independentemente de encontrarmos ou não extraterrestres, a própria busca expande nossa compreensão do universo e do nosso lugar nele.

Em última análise, devemos emular Carl Sagan: "A ausência de evidências não é evidência de ausência". Só porque você não encontrou provas de algo, não significa automaticamente que isso não exista; isso significa apenas que você ainda não encontrou provas.

A expressão "limites do conhecimento e da pesquisa", popularizada por Sagan para alertar contra conclusões precipitadas, especialmente na ciência e na filosofia, adverte contra assumir que a falta de evidências prova uma negativa, como presumir que dragões não existem porque nenhum foi visto, quando a busca pode simplesmente estar incompleta ou o objeto ser difícil de detectar.

Ao longo da história, muitas coisas antes consideradas impossíveis ou absurdas tornaram-se realidade. Assim como o caso da ovelha Dolly, que provou que células adultas podiam clonar mamíferos, em 1997.

O exemplo mais clássico está entre nós há apenas 164 anos: a Teoria dos Germes, inicialmente ridicularizada, revolucionou a medicina, mostrando-nos que o que parece inacreditável e ausente muitas vezes está apenas à espera de ser descoberta para formar seu corpo de evidências.