![]() | No outono de 1589, a cidade de Bedburg, na Alemanha, realizou um julgamento amplamente divulgado. O agricultor Peter Stumpp foi acusado de vários crimes horríveis, incluindo assassinato, agressão e canibalismo. Mas talvez a acusação mais sinistra de todas tenha sido a dele ser um lobisomem. Em sua confissão, Peter afirmou que o diabo havia lhe dado uma cinta mágica, que lhe permitia se transformar em lobo e realizar seus atos horríveis. Histórias de lobisomens existiam bem antes desse julgamento, e continuam até hoje. |

Elas são especialmente notáveis na literatura e folclore europeus, e costumam ser encontradas em culturas onde o lobo é o maior predador natural. Com o passar dos anos, a imagem do lobisomem evoluiu continuamente, muitas vezes refletindo os medos e preconceitos da época.
Na literatura antiga, os lobisomens eram às vezes pintados como figuras simpáticas: vítimas de maldições que desejavam retornar à sua forma humana. Na história de Gilgamesh, um dos primeiros relatos escritos de lobisomens é de mais de 4 mil anos, um pastor se apaixona pela deusa do amor, Ishtar, que o transforma em lobo quando ela se cansa de sua afeição.
Nesta e em várias outras histórias que se seguiram, os lobisomens geralmente eram homens vítimas de mulheres enganosas e sedutoras. Na história medieval "Bisclavret", um cavaleiro é preso na forma de lobo pela astúcia de sua esposa, que o abandona para fugir com outro homem. Outras histórias antigas exploram os medos do lado sombrio da natureza humana, incluindo temas tabus como canibalismo e assassinato.
Na mitologia grega antiga, o rei Licaonte foi transformado em lobo por Zeus depois de tentar enganar o deus para que ele comesse carne humana. Conforme o catolicismo se espalhou pela Europa, os lobisomens se tornaram cada vez mais ligados à magia, feitiçaria e crença pagã. No século 16, muitos não conseguiam separar a ficção de lobisomens dos fatos.
Agitações políticas, econômicas e religiosas deram origem aos infames julgamentos das bruxas na Europa. E embora as bruxas fossem os principais alvos, em algumas áreas, supostos licantropos, como Peter Stumpp, também foram julgados e executados. Hoje, alguns historiadores creem que os julgamentos eram motivados pelo medo de estranhos, bem como as primeiras tentativas da sociedade de compreender crimes brutais.
Embora a crença pública nos lobisomens tenha diminuído no século 17 com o avanço da medicina e da psicologia, o mito ressurgiu na literatura. No Período Vitoriano, os lobisomens haviam se transformado novamente, muitas vezes incorporando o medo da decadência moral e psicológica. Em "Wagner, the Wehr-Wolf", de George Reynolds, o protagonista faz um pacto com o diabo para alcançar a juventude eterna.
Mas, em troca, ele se transforma em um violento lobo uivante no final de cada mês. Em meados do século 20, os lobisomens encontraram um novo lar para assombrar: a tela prateada. Ali, o lobisomem começou a assumir sua forma moderna. Por exemplo, a ideia de que a maldição fosse transmitida por meio de mordidas e desencadeada pela lua cheia foi popularizada pela primeira vez com o filme "O Lobisomem de Londres", de 1935.
Produzido nos Estados Unidos, o filme identifica a infecção dos lobisomens como originária do Oriente, especificamente do Tibete. Isso refletia os temores xenófobos da época: de que imigrantes do Leste Asiático na América do Norte e na Europa ameaçassem a estabilidade e o poder do Ocidente. Os caçadores de lobisomens adotaram a prata como sua arma preferida após seu uso em "O Lobisomem", de 1941.
Escrito pelo escritor judeu Curt Siodmak, o filme é visto por muitos estudiosos como uma alegoria da brutalidade nazista. No filme, um pentagrama aparece na palma da próxima vítima do lobisomem, o que se acredita aludir aos emblemas obrigatórios da Estrela de Davi encontrados na Europa durante as décadas de 1930 e 1940.
Desde a década de 1950, os lobisomens cinematográficos têm infectado um novo grupo de vítimas: o adolescente. Ali lobisomens costumam ser símbolos da agressão masculina e da incerteza da adolescência. No final do século, alguns filmes começaram a usar a transformação animalesca para explorar temas da puberdade, ocasionalmente com uma perspectiva distintamente feminista.
Agora, misturando ação com terror, foi lançado o trailer de "Werewolves", estrelado por Frank Grillo, o filme tem previsão de estreia para 06 de dezembro. No roteiro uma superlua acabou ativando um gene mutante nas pessoas, transformando todos em lobisomens sanguinários. Um ano após o caos, que resultou na morte de bilhões, a superlua está prestes a acontecer novamente, e os sobreviventes se preparam para encarar a noite mais violenta de suas vidas.
O conceito de lobisomem no Brasil um elemento profundamente enraizado e difundido no folclore nacional. A lenda é onipresente, com variações regionais, e o medo que ela representa ainda persiste em áreas rurais.
O cerne da lenda brasileira do lobisomem gira em torno de uma maldição, geralmente relacionada à linhagem, em vez de uma mordida ou infecção como nos contos de Hollywood. A crença mais comum é que o Lobisomem seja o sétimo filho nascido em uma linhagem ininterrupta de meninos.
O indivíduo amaldiçoado se transforma em um lobo, ou em um híbrido de homem e animal, como um cachorro ou um porco, geralmente com pelagem preta e olhos vermelhos. A transformação normalmente ocorre em uma sexta-feira à noite (às vezes quinta-feira) em um cruzamento ou chiqueiro.
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Em sua forma humana, os Lobisomens são frequentemente descritos como pálidos, magros e com aparência doentia, com orelhas grandes e mãos calejadas por andarem de quatro à noite. Diz-se que a criatura vagueia à noite, em busca de sangue, especialmente de animais recém-nascidos e crianças. Ela não consegue controlar seus movimentos durante a transformação e se torna uma fera feroz e perigosa.
Ao contrário da bala de prata do folclore europeu, o Lobisomem nos contos brasileiros pode ser ferido ou morto ao se derramar seu sangue, às vezes usando métodos específicos como uma bala mergulhada em cera de vela de altar, ou sendo espancado com um cordão de tabaco.
Embora a lenda em si seja a mais famosa, diversas obras culturais e locais específicos se tornaram bastante conhecidos. Por exemplo, Joanópolis, São Paulo é a cidade é conhecida como a "Capital Brasileira do Lobisomem" devido às inúmeras histórias e avistamentos locais, uma reputação que a cidade abraça para o turismo.
"O Coronel e o Lobisomem, um romance renomado do escritor brasileiro José Cândido de Carvalho, publicado pela primeira vez em 1964 e posteriormente adaptado para o cinema, é considerado um clássico da literatura brasileira e uma interpretação consagrada da lenda.
O Lobisomem permanece presente na cultura pop brasileira, aparecendo em programas de TV, novelas e filmes, o que reflete sua forte influência no imaginário nacional.
Já Peter Stumpp teve um final horrorosamente brutal em 31 de outubro de 1589, ao lado de sua filha, Beele, e a amante, Katherine: ele foi colocado em uma roda, onde foi queimado continuamente com pinças em brasa. Então seus membros foram quebrados com o lado cego de uma cabeça de machado antes de ser decapitado e seu corpo queimado em uma pira.
Sua filha e amante já haviam sido esfoladas e estranguladas, e foram queimadas junto com o corpo de Stumpp. Como um aviso contra comportamento semelhante, as autoridades locais ergueram um poste com a roda de tortura e a figura de um lobo, e no topo, colocaram a cabeça decepada de Peter Stumpp.
No entanto, como todos os grandes monstros, o lobisomem ainda vive, e continuará se adaptando para atender às necessidades de seu futuro público. Mas, por enquanto, talvez seja melhor estocar prata, seguir a estrada e tomar cuidado com a lua cheia.
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