A história de uma jiboia descolada

No filme Jurassic Park, o parque era povoado unicamente por fêmeas. Os cientistas tomaram esta medida de segurança para evitar que as criaturas se reproduzissem por seus próprios meios. E no entanto "a vida abriu caminho" e chegaram novas gerações de sáurios nascidos por partenogênese. Qualquer biólogo teria contado com essa possibilidade, mas aí já é outra história. Hoje vou falar de uma jiboia constritora que vem assustando os cientistas com sua condição tão inusitada quanto incrível.

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte publicaram um estudo na Biology letters sobre sua descoberta de que as jiboias fêmeas também podem criar clones de si mesmas e dar a luz "sem conhecer um macho". Há alguns anos ocorreu algo assim em um zoológico com uma fêmea de dragão de Komodo.

A história desta serpente é mesmo uma surpresa porque a partenogênese não é muito comum entre répteis, e ademais, no estudo das 2 cobrinhas que nasceram assexuadamente desta mamãe descolada que decidiu por uma produção independente, descobriram que ambas portavam uma raridade em seu cromossoma que os pesquisadores criam impossível em répteis. Os machos destes primitivos répteis mostram um duplo cromossoma Z, o normal é que as fêmeas possuam um Z e outro W. No entanto, os filhotes de nossa protagonista portam dois cromossomas W!

Os pesquisadores devem agora comprovar que esta raridade não é devido a um defeito genético da mãe já que é a primeira vez que se observa um réptil com dois cromossomas W, algo que acreditavam que era exclusivo dos peixes e anfíbios e que os cientistas só criam possível em répteis mediante engenharia genética.

O autor do estudo, Warren Booth, acha que a reprodução assexuada é uma espécie de salvo-conduto carcerário para as serpentes.

- "Se não há machos pelas cercanias... por que perder os preciosos ovos, quando ela têm o potencial de criar clones de si mesma? Ainda que terá tempo de voltar à reprodução sexuada clássica quando tenha disponibilidade de acasalamento".

Mas uma vez mais, o caso dessa fêmea é peculiar já que ela contava com machos a disposição para reproduzir sexuadamente. Aliás nossa amiga serpente não era "virgem" nesta arte, e já havia sido mãe à maneira clássica em outras oportunidades. No entanto, durante os dois últimos anos nossa "super-mamãe" foi mãe duas vezes por partenogênese, trazendo sempre clones seus com cromossoma W-W.

Isto terminou por desconcertar os biólogos. Por que teria decidido agora ignorar os machos e criar clones de si mesma? Por enquanto não há respostas ainda que as suspeitas recaiam no vilão do momento: as mudanças que vem acontecendo no meio ambiente.

De todas as formas o interessante será controlar às jovens fêmeas nascidas deste modo, e ver se no futuro optam pela reprodução sexual ou se preferem seguir prescindindo dos machos.

Se eu fosse uma jiboia macho estaria preocupado... muito preocupado.

Fonte: Physorg.