![]() | Em dias ensolarados, os cidadãos romanos de Óstia podiam ser encontrados em um longo banco de pedra perto do Fórum. Amigos e vizinhos trocavam notícias e fofocas animadamente enquanto, simultaneamente, cuidavam de assuntos mais... urgentes. Essas latrinas públicas podiam acomodar até 20 romanos por vez, drenando os dejetos em condutos de água abaixo (sim eles "cagavam" um de frente ao outro). Hoje, a maioria das culturas considera as idas ao banheiro uma ocasião mais reservada. |

Mas mesmo quando vamos sozinhos, nossa infraestrutura compartilhada de esgoto é uma das invenções mais importantes da história da humanidade.
Embora muitos textos religiosos antigos contenham instruções para manter os dejetos longe da água potável e dos acampamentos, a gestão de resíduos assumiu uma forma mais familiar já em 3000 a.C.
Os antigos assentamentos mesopotâmicos frequentemente possuíam estruturas de barro feitas para permitir que se sentasse de cócoras ou sentado no cômodo mais privado da casa.
Estas estruturas eram conectadas a canos que usavam água corrente para levar os dejetos para os canais da rua e fossas sépticas.
Infraestruturas hídricas como essa floresceram na Idade do Bronze e, em algumas partes do Vale do Indo, quase todas as casas tinham um vaso sanitário conectado a um sistema de esgoto que abrange toda a cidade. Os antigos palácios cretenses ofereciam até mesmo a opção de descarga manual.
Os pesquisadores não sabem ao certo o que inspirou esses primeiros sistemas de esgoto, mas sabemos que a gestão de resíduos é essencial para a saúde pública.
Esgoto não tratado é um ambiente propício para microrganismos perigosos, incluindo aqueles que causam cólera, disenteria e febre tifoide.
Levariam-se vários milênios até que os cientistas compreendessem completamente a relação entre esgoto e doenças. Precisaríamos avançar até 1850, quando Louis Pasteur criou a teoria microbiana das doenças, trabalho posteriormente estendido por Robert Koch na década de 1880.
Mas os odores nocivos do esgoto já registravam associações com doenças desde 100 a.C. E por volta de 100 d.C., soluções de saneamento mais complexas estavam surgindo.
O Império Romano possuía aquedutos de fluxo contínuo dedicados a transportar resíduos para fora dos muros das cidades.
Dinastias chinesas do mesmo período também possuíam banheiros públicos e privados, exceto que seus resíduos eram imediatamente reciclados.
A maioria dos banheiros domésticos alimentava pocilgas, e coletores especializados em coletar resíduos de latrinas públicas para vender como fertilizante.
Na China, essa tradição de gerenciamento de resíduos continuou por séculos, mas na Europa, a queda do Império Romano levou o saneamento público para a Idade das Trevas.
Latrinas de fossa chamadas "gongos" tornaram-se comuns, e penicos eram frequentemente despejados na rua na frente das casas. Castelos despejavam resíduos de janelas altas em fossas comunitárias.
À noite, os chamados "agricultores de gongo" carregavam os resíduos antes de viajar para além dos limites da cidade para despejar sua carga.
A abordagem insalubre da Europa persistiu por séculos, mas os próprios banheiros passaram por algumas mudanças importantes.
No final da Idade Média, a maioria das famílias ricas tinha bancos sanitários (casinhas): caixas de madeira com assentos e tampas. E na corte real da Inglaterra, as cômodas com vaso eram controladas pelo Lacaio do Banco.
Além de monitorar a saúde intestinal do rei, o relacionamento íntimo do Lacaio com a monarca o tornou uma figura surpreendentemente influente.
O próximo grande avanço na tecnologia de vasos sanitários ocorreu em 1596, quando o cortesão, autor e tradutor Sir John Harrington projetou o primeiro vaso sanitário moderno com descarga para a Rainha Elizabeth.
O uso de alavancas para liberar água e uma válvula para drenar a bacia ainda influencia os designs modernos.
Mas a invenção de Harrington fedia a esgoto. Felizmente, em 1775, o inventor escocês Alexander Cumming adicionou uma curva no cano de esgoto para reter água e limitar odores.
Este chamado sifão em forma de "S" foi posteriormente aprimorado para o moderno sifão em forma de U por Thomas Crapper, embora o termo "crapper" ("cagalhão") seja anterior ao inventor em vários séculos.
Na virada do século XIX, muitas cidades haviam desenvolvido infraestrutura moderna de esgoto e estações de tratamento de águas residuais, e hoje, os vasos sanitários têm uma ampla gama de recursos, do luxuoso ao sustentável.
Mas segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 2,2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm serviços de saneamento básico, o que inclui acesso a um banheiro ou latrina privativos, colocando essas comunidades em risco de inúmeras doenças.
De fato, em 2022, apenas 57% da população global (4,6 bilhões de pessoas) usava um serviço de saneamento "gerenciado com segurança", ou seja, um banheiro não compartilhado com outras famílias, que trata ou descarta resíduos no local, armazena-os com segurança para tratamento externo ou se conecta a um esgoto.
Ademais, uma parcela das pessoas sem saneamento básico compartilha banheiros ou latrinas com outras famílias, e um número significativo (892 milhões) pratica a defecação a céu aberto, principalmente em áreas rurais.
No Brasil, cerca de 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto, o que representa aproximadamente metade da população. Além disso, mais de 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável.
Esses dados revelam um cenário preocupante de desigualdade no acesso a serviços básicos de saneamento no país. A falta de saneamento adequado afeta diretamente a saúde da população, aumentando o risco de doenças infecciosas e outras enfermidades.
Para resolver esse problema, precisaremos inventar novas tecnologias de saneamento e abordar as questões comportamentais, financeiras e políticas que produzem desigualdade em todo o sistema de saneamento.
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