![]() | Há algo meio preocupante acontecendo no mundo dos cânceres. Quer dizer, é câncer, tudo preocupante. Cada vez mais pessoas com menos de 50 anos estão sendo diagnosticadas com câncer colorretal. Em alguns países, o número de casos até dobrou nas últimas décadas. O que é estranho, já que o câncer colorretal é tipicamente uma doença que afeta adultos mais velhos. E o que é ainda mais estranho é que esses jovens parecem não ter nenhum dos fatores de risco usuais para câncer colorretal, como uma mutação genética herdada. |

Além disso, mesmo depois de perceberem, o dano pode já ter sido feito. Mas, depois de alguma investigação, os cientistas podem ter uma resposta... na forma de uma bactéria intestinal comum.
Embora nem todos os países tenham registrado aumentos uniformes no câncer colorretal de início precoce, pelo menos 27 deles apresentaram um aumento. No Brasil, houve um aumento preocupante dos casos de câncer colorretal em jovens.
Atualmente, um em cada cinco casos de brasileiros diagnosticados com a doença que vitimou Preta Gil ocorre em pessoas com menos de 50 anos, o que representa um aumento de 11% nessa faixa etária nas últimas duas décadas.
De fato, em muitas nações de alta renda, a incidência geral de câncer colorretal diminuiu. O que torna o aumento entre os jovens ainda mais dramático.
E se o número de casos em jovens continuar aumentando, os pesquisadores acreditam que o câncer colorretal poderá se tornar a principal causa de morte relacionada ao câncer entre adultos jovens até 2030! Isso é em breve.
Pesquisadores têm se esforçado para encontrar uma causa para prevenir essas mortes, mas, em grande parte, não encontraram nada.
Mas, graças a um metaestudo de 2025 publicado na revista Nature, eles podem ter encontrado uma resposta. Os autores sequenciaram o genoma completo de quase 1.000 amostras de câncer de casos de início precoce e tardio, de 11 países, em quatro continentes. O que é bastante abrangente para o cenário atual.
O que eles observaram foi um padrão específico de mutações no DNA que se assemelha ao padrão deixado por uma toxina bacteriana chamada colibactina. E essas mutações foram 3, 3 vezes mais comuns em casos de início precoce -o que aqui significava adultos com menos de 40 anos- do que naqueles diagnosticados após os 70 anos.
Os pesquisadores já sabiam que a colibactina está associada a certos casos de câncer colorretal, mas esta é a primeira vez que demonstram uma ligação entre ela e casos iniciais. E eles acreditam que essas mutações no DNA se acumulam no início da vida.
Por exemplo, estamos falando da infância. O que basicamente os coloca décadas à frente do cronograma para o desenvolvimento de câncer colorretal. Então, o que é colibactina e como ela leva ao câncer?
A colibactina é o que chamamos de genotoxina, uma toxina que danifica o DNA. Ela é produzida por certas cepas da bactéria Escherichia coli.
E embora você possa ouvir falar de Escherichia coli em contextos assustadores, como intoxicação alimentar ou infecções do trato urinário, ela é frequentemente encontrada como um residente geralmente inofensivo do seu intestino.
A Escherichia coli produz colibactina para combater outras bactérias. O problema é que ela não danifica apenas o DNA bacteriano, mas também é bastante prejudicial ao DNA humano.
Até 2020, não sabíamos muito sobre como a colibactina danifica nosso material genético. Isso porque essa toxina sorrateira é difícil de estudar: ela não dura muito tempo em laboratório e é quase impossível separá-la de outras substâncias produzidas pela Escherichia coli, algumas das quais são realmente benéficas para o nosso corpo!
Foi somente quando outros cientistas criaram mini modelos de órgãos em placas de Petri, chamados organoides, e aprimoraram técnicas matemáticas para analisar mutações, que os pesquisadores conseguiram descobrir o que a colibactina estava fazendo.
Em um estudo de 2020, biólogos infectaram esses mini-órgãos com Escherichia coli produtora de colibactina e observaram como o DNA nessas células se alterava.
O que eles descobriram foi uma assinatura mutacional, uma espécie de cartão de visita que a colibactina deixa para trás quando reage com o DNA. O mesmo cartão de visita foi detectado pelos pesquisadores no estudo de 2025.
Eles conseguem identificar essa característica porque ela apresenta duas mutações-chave. Uma, chamada SBS88, frequentemente troca um dos quatro blocos de construção do DNA, uma timina, por um diferente, geralmente citosina.
Outra mutação, chamada ID18, insere ou remove uma pequena seção do DNA. Isso leva ao que é chamado de mudança de quadro. Basicamente, isso significa que o DNA não é lido da maneira que deveria ser.
Imagine que você tem a frase "a pia pinga, o pinto pia". Agora, livre-se dos "as", mas mantenha o espaçamento. Resulta em "pi ping, o pinto pi". Não faz mais sentido.
Da mesma forma, se o espaçamento do código genético for alterado, o maquinário da célula não consegue lê-lo corretamente. O quadro de leitura é alterado.
Essas duas mutações são mutações driver, o que significa que impulsionam ou estimulam o desenvolvimento do câncer. Especificamente, o que pode estar acontecendo com o câncer colorretal é que a colibactina -com todo o seu corte e troca de DNA- pode estar desativando uma cópia de um gene chamado APC.
O APC é um gene supressor de tumor, ou seja, um gene realmente importante para manter o câncer sob controle. E é especialmente importante quando se trata de câncer colorretal.
Ok. Mas o que isso tem a ver especificamente com os casos iniciais? Não está claro. Os autores do estudo de 2025 propõem que a colibactina das cepas produtoras de Escherichia coli podem ter se tornado mais comuns na segunda metade do século XX, levando a uma maior concentração da toxina em nossos intestinos.
O que é realmente importante aqui, e assustador, é que essas mutações tendem a ocorrer cedo na vida. Assustadoramente, um dos pesquisadores sugeriu que isso poderia representar uma vantagem de até 20 anos para o câncer, desenvolvendo-se aos 40 anos em vez de aos 60.
Portanto, não é como se você pudesse começar a tomar probióticos aos 30 anos para afastar as bactérias, já que o dano já foi feito.
Ainda há muita coisa que não sabemos. Tipo, como as crianças estão sendo expostas a essas bactérias?
É algo que podemos prevenir? E você tem maior probabilidade de ser exposto se tiver um determinado estilo de vida ou morar em um lugar específico?
Pesquisadores estão agora iniciando estudos para tentar responder a essas perguntas. E eles estão desenvolvendo testes de detecção precoce que buscam mutações relacionadas à colibactina em amostras de fezes para detectar possíveis cânceres antes que eles se agravem.
Mas, até que tenhamos mais respostas, há coisas que você também pode fazer. Precaução e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Se você tem 45 anos ou mais, pode fazer o exame, ou antes, se tiver algum sintoma preocupante. O exame significa uma colonoscopia; eu já fiz umas cinco.
Antigamente era desagradável, mas hoje você toma profopol antes e nem vai ver nada acontecer. Só vai sentir a garganta arranhada depois. Também peça a um amigo ou familiar que o leve ao exame, pois vai ficar meio grogue depois.
É mais importante do que nunca que os jovens estejam atentos a possíveis sinais precoces de câncer colorretal.
Então, aqui estão eles: alterações nos hábitos intestinais que duram mais do que alguns dias, sangramento retal ou sangue nas fezes, urgência para urinar que não alivia ao urinar, dor abdominal, fraqueza e fadiga, ou perda de peso indesejada.
Agora, tudo isso pode ser explicado por outras coisas também. Mas é bom saber, para que, se você estiver passando por isso, possa consultar um médico, especialmente se houver mais de uma dessas situações. Se não for nada, você descobrirá que não é nada e se sentirá melhor!
Não há momento melhor para mim do que depois de uma colonoscopia, quando eles dizem que você não tem câncer de cólon. É uma boa notícia que os pesquisadores estejam progredindo nesse mistério, embora ainda haja muito trabalho a ser feito. Entender a causa é sempre o primeiro passo.
Infelizmente, levará tempo para colocar esse entendimento em prática, então, enquanto isso, informe-se, consulte seu médico se algo estiver estranho e continue torcendo por esses cientistas.
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