![]() | - "Não sabíamos o que esperar. Ele poderia ter o genoma mais comum do planeta, mas acabou sendo incrível." Como se a promessa de novas (e mórbidas) revelações sobre Hitler não fosse suficiente para capturar a atenção do mundo, essa declaração de Turi Emma Turi, renomada geneticista, gerou enorme repercussão em torno do documentário "O DNA de Hitler" mesmo antes de seu lançamento. Compreensivelmente. Afinal, o filme é baseado em pesquisas científicas que sugerem que o líder nazista sofria de uma doença genética que afetava sua sexualidade. |

Segundo uma pesquisa inovadora, o ditador nazista tinha síndrome de Kallmann, que impede a puberdade normal e o desenvolvimento dos órgãos sexuais.
O século XX foi prolífico em guerras, marcos e figuras históricas, mas provavelmente poucos evocam o fascínio de Adolf Hitler. Isso se deve ao seu papel sinistro como Führer, mas também ao enorme número de teorias da conspiração e boatos que o cercam.
Tantas páginas foram escritas sobre sua morte, seus hábitos e gostos, sua suposta ascendência judaica e seus igualmente supostos descendentes, que seriam suficientes para forrar (várias vezes) o bunker onde ele cometeu suicídio em 30 de abril de 1945, com um gole de cianeto e/ou um tiro.
Por isso, não é surpresa que qualquer nova revelação sobre ele gere grande expectativa. Especialmente uma como a prometida por "O DNA de Hitler", um documentário que se vangloria de ter estudado minuciosamente o DNA do ditador nazista.
O documentário estreou no sábado passado, mas seus criadores já vinham divulgando suas principais conclusões antecipadamente para gerar entusiasmo. E embora alguns questionem sua retórica ou a solidez de algumas de suas afirmações, uma coisa é certa: eles não se saíram mal em sua empreitada.
O DNA de Adolf Hitler? Isso mesmo. Para entender como os produtores obtiveram uma amostra genética de Hitler, precisamos voltar a maio de 1945, pouco depois do suicídio do líder nazista.
Entre os soldados aliados que tiveram acesso ao Führerbunker, havia um soldado particularmente astuto, Roswell P. Rosengren, que teve uma ideia: por que não coletar uma amostra do próprio sofá onde o ditador havia tirado a própria vida?
Dito e feito. O oficial americano cortou um pedaço de tecido manchado de sangue e levou para casa. A amostra foi guardada por sua família até 2014, quando foi transferida para o Museu de História de Gettysburg.
Foi aí que os produtores do Channel 4 encontraram a amostra e enfrentaram o próximo desafio: aquele era realmente o sangue de Hitler? Existiria alguma maneira de estabelecer a ligação, além do relato de Rosengren?
A resposta foi sim, embora isso os tenha obrigado a dar outro salto no tempo (desta vez muito mais curto) até 2008, quando o jornalista Jean-Paul Mulders obteve uma amostra de DNA de um parente de Hitler, uma pessoa com quem ele compartilhava ascendência paterna.
O objetivo de Jean-Paul era investigar o rumor sobre o suposto filho ilegítimo de Hitler, mas, no fim das contas, serviu aos cineastas do documentário comparar a amostra com o sangue encontrado no sofá. O resultado: uma correspondência perfeita. Uma dupla verificação que reforçou a convicção de que o tecido continha o DNA de Hitler.
A próxima missão era sequenciar esse DNA para descobrir tudo o que ele escondia sobre seu dono, outra tarefa nada simples. Não tanto pela complexidade técnica em si, mas pela enorme controvérsia em torno de Hitler.
De fato, vários laboratórios se recusaram a colaborar com o documentário. A professora Turi Emma Turi, geneticista responsável pela pesquisa, também teve reservas quando a proposta lhe foi feita.
- "Pensei muito sobre isso", disse a cientista, conhecida por ter identificado os restos mortais do Rei Ricardo III anos atrás. Ela decidiu embarcar no projeto por dois motivos: primeiro, porque não fazê-lo, enquanto o DNA já está sendo usado para pesquisas históricas, daria a Hitler um papel de destaque; segundo, porque estava convencida de que, mais cedo ou mais tarde, alguém o faria.
- "Queríamos garantir que fosse feito de forma metódica e rigorosa", disse ela.
Assim, Turi decidiu se juntar ao outro especialista de renome no projeto, o Dr. Alex Kay, especialista em Alemanha Nazista e professor da Universidade de Potsdam.
Esclarecendo as incógnitas. O experimento não decepcionou. Como Turi reconhece, a equipe corria o risco de não obter resultados convincentes ou algo substancial que justificasse o esforço.
Aconteceu justamente o contrário: a análise de DNA revelou algumas conclusões surpreendentes que ajudam a desmistificar crenças e ampliar o conhecimento sobre o líder nazista.
- "Não sabíamos o que iríamos encontrar. Poderia ter sido o genoma mais tedioso do planeta, mas acabou sendo incrível", relatou Alex.
Uma das descobertas mais interessantes é que os rumores sobre a ascendência judaica de Hitler parecem ser apenas isso: rumores. Houve uma época em que se especulou que o avô paterno do ditador poderia ter sido judeu (o pai de Hitler, Alois, era ilegítimo), uma teoria tão arraigada que, em 2022, chegou a ser compartilhada publicamente pelo Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Ele estava errado.
A análise do Channel 4 revela que Hitler era descendente de austro-alemães e corrobora a árvore genealógica nazista.
Se há uma revelação que gerou interesse e ganhou manchetes, é aquela que aborda um aspecto muito mais pessoal de Hitler: sua fisiologia. Cientistas afirmam ter encontrado evidências sólidas de que Hitler sofria de alguma forma de síndrome de Kallmann, uma doença genética que afeta o desenvolvimento durante a puberdade e dos órgãos sexuais.
A síndrome causa mais comumente hipogonadismo -produção insuficiente de testosterona durante a adolescência-, mas, como a imprensa britânica tem feito questão de nos lembrar recentemente, ela tem outra peculiaridade: até 10% dos portadores da doença apresentam micropênis.
Além do óbvio sensacionalismo dessa revelação, o fato é interessante devido às histórias que circulam sobre Hitler em sua época e ao que outras fontes documentais nos dizem sobre sua fisiologia.
Em 2015, historiadores descobriram um relatório médico datado de 1923 que afirmava que o ditador sofria de criptorquidia, ou seja, apenas um de seus testículos havia descido.
O documento, assinado pelo Dr. Josef Brinsteiner, foi encontrado escondido na prisão bávara onde Hitler acabou após a tentativa fracassada de golpe de Munique. Rumores sobre essa condição circulavam na época e, durante a Segunda Guerra Mundial, uma canção satírica chegou a se popularizar na Inglaterra, proclamando em um de seus versos: "Hitler só tem um testículo, o outro está no Albert Hall".
Para o Professor Alex, a ideia de que Hitler sofria da síndrome de Kallmann é muito mais do que uma mera anedota sensacionalista. Em sua opinião, trata-se de "uma descoberta crucial" que contribui para uma melhor compreensão de Hitler.
- "Isso ajudaria a explicar a dedicação incomum e quase absoluta de Hitler à política ao longo de sua vida, excluindo qualquer tipo de vida privada", explicou ele. - "Outros nazistas de alto escalão tinham esposas, filhos e amantes. Hitler é o único na liderança nazista que não tinha. Somente sob seu comando o movimento nazista conseguiu chegar ao poder."
O documentário oferece mais um vislumbre do passado de Hitler, um passado mais ambíguo e que se mostrou ainda mais controverso. Após análises, especialistas concluem que o líder nazista estava no percentual superior em termos de probabilidade de ter autismo, esquizofrenia ou transtorno bipolar.
Isso é um diagnóstico? Não. Apenas estatísticas. Uma predisposição, na melhor das hipóteses. De forma alguma uma prova conclusiva de como o ditador era (ou não era). Aliás, alguns especialistas que participaram do documentário enfatizam esse ponto.
Turi afirma que o documentário não busca “estigmatizar” aqueles que têm autismo ou transtorno bipolar e ressalta que é “raro” que esses indivíduos cometam atos violentos.
Essa não é a única ressalva em relação ao estudo. Sua retórica, algumas de suas afirmações e, principalmente, o fato das descobertas não terem sido publicadas em um periódico científico ou revisadas por pares marcaram a estreia do documentário.
A análise teria sido submetida como artigo a uma prestigiosa publicação médica, mas a produtora não quis esperar para lançar o documentário, uma decisão que também gerou críticas.
Enquanto aguardamos mais opiniões de especialistas, uma coisa é certa: "O DNA de Hitler confirma que o líder nazista (e todos os rumores que o cercam) continua a gerar fascínio no século XXI.
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Comentários
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