Os cajus não são uma indulgência barata. Mesmo um saquinho de 100 gramas de castanhas de caju torradas pode custar perto de 35 reais nos Estados Unidos. O Brasil é o sexto produtor mundial de castanhas, mas mesmo por aqui o acepipe costuma ser raro e um pacotinho de 100 gramas custa em torno de 15 reais. A razão: toda empresa que oferece castanhas de caju verdadeiramente naturais tem que passar por um processo semelhante e demorado, que está diretamente relacionado ao custo. Os fatores que influenciam o preço da castanha de caju criaram um ambiente onde a castanha é vendida a um preço premium. |
A área mundial colhida de castanha de caju era de 7,1 milhões de hectares em 2020, com maior concentração na Costa do Marfim, Índia e Tanzânia. 99,7%, da cajucultura no Brasil está localizada na Região Nordeste. A estiagem de 2019, agravada pela ocorrência de pragas e doenças, ocasionaram elevado índice de mortalidade de plantas, com redução de grandes áreas, nos principais estados produtores.
Os cajueiros só podem ser cultivados em climas tropicais, o que exclui a grande maioria dos países do mundo. Os países sem climas tropicais devem importar cajus. Para complicar ainda mais a situação, são necessários dois a três meses para que um fruto de caju produza uma castanha adequada para consumo. Isto torna os cajus uma raridade em um mundo que os anseia.
A casca da castanha verde de caju contém ácido anacárdico, também conhecido como urushiol, que tem várias aplicações medicinais, mas este mesmo ácido pode causar erupção cutânea alérgica em contato com a pele dos trabalhadores responsáveis pelo processamento das sementes. A primeira vez que vi um cajueiro, meti o dente na castanha verde e no mesmo instante fiquei com a "buoca muole" e sem conseguir falar direito.
Torrar as castanhas de caju para destruir as toxinas também é perigoso, pois as toxinas são liberadas no ar. Após a remoção das toxinas, os cajus devem ser classificados e separados. Todo o processo é trabalhoso e perigoso, o que ajuda a explicar parte da razão pela qual os cajus são tão caros.
Além disso, a exposição repetida ao óleo da casca da castanhas destrói os equipamentos de proteção, que devem ser substituídos para segurança dos trabalhadores. Muitos países africanos minimizam ou negligenciam os equipamentos de proteção para os seus trabalhadores, acumulando um custo elevado em demandas trabalhistas e da sua qualidade de vida.
Uma das razões pelas quais as castanhas de cajus são populares em todo o mundo é, além de seu delicioso sabor, o seu valor nutricional. Vários estudos elogiam os cajus pelos seus efeitos, incluindo a redução do colesterol prejudicial, o fortalecimento do sistema imunológico e o fortalecimento dos músculos e nervos. Os benefícios das castanhas de caju para a saúde fazem deles um lanche popular mesmo em épocas de excedente.
O fruto do caju muitas vezes é considerado como sendo a parte suculenta e rico em vitamina C quando, na verdade, é um pseudofruto. O que entendemos popularmente como "caju" se constitui de duas partes: o fruto propriamente dito, que é a castanha, e seu pedúnculo floral, o pseudofruto, um corpo piriforme, amarelo, rosado ou vermelho.
Em alguns países, como Índia e Vietnã, o pseudofruto vai para o lixo. Na Índia, o pedúnculo é algumas vezes utilizado para preparar o fenim, uma aguardente rara. Não há registros históricos sobre quem e onde começou a destilar os sumos fermentados para produzir fenim, mas os primeiros relatos do método tradicional da pisa de cajus remontam a pelo menos 500 anos.
Nesse método, apenas os cajus amadurecidos que caíram no chão são coletados, retira-se então o fruto (castanha) e seu pseudofruto é separado para esmagamento na área de pisa. Esta área, semelhante aos lagares de azeitona e uva, é chamada localmente de collmi e geralmente é uma rocha cortada em forma de bacia ou um tanque de concreto. Os cajus são então pisados para liberar o suco.
O suco produzido por meio desse processo de extração é conhecido como niro e é o que nós conhecemos como suco de caju, mas só pode ser consumido até 24 horas porque começa a fermentar. O extrato é então transferido para um grande pote de barro chamado koddem, que é enterrado até a metade do solo e assim permanece vários dias fermentando.
O niro é destilado utilizando um alambique tradicional conhecido como bhatti. O uso de uma panela de barro como panela de ebulição agora foi substituída por panelas de cobre, ambas conhecidas pelo mesmo nome, bhann, que são seladas com terra de formigueiro.
O primeiro destilado do niro é conhecido como urrak, que tem cerca de 15% de álcool. O urrak é então misturado com mais niro e redestilado para criar uma aguardente chamada cajulo (40%). A tri-destilação entre o cajulo e urrak por fim rende o fenim com uma graduação alcoólica de 45%.
A verdade é que hoje a maioria dos pequenos produtores de fenim não fazem mais o uso da terceira destilação, já que o cajulo, por si só, é uma aguardente considerada muito forte para uma bebida alcoólica para consumo e comércio.
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Comentários
Moro no Piauí, o quilo da castanha de qualidade similar a premium é 56 Reais, apesar de a safra ter diminuído consideravelmente nos últimos anos ainda é muito abundante.