![]() | Todos precisam de um tempo para si mesmos, e a solidão tranquila tem benefícios para aliviar o estresse. Mas estar sozinho assume uma dimensão totalmente diferente quando surge sorrateiramente ou é imposto a você. Quando esse é o caso, os efeitos podem ser surpreendentemente extensos. E embora pessoas diferentes experimentem efeitos distintos em momentos diferentes, os sintomas tendem a se tornar mais graves e persistentes quanto mais tempo a pessoa fica isolada. |

Quando alguém é involuntariamente confinado a um espaço indefinidamente -por dias, semanas, meses ou até anos- sozinho e sem tarefas produtivas, seu corpo provavelmente passará por inúmeras mudanças. Vamos dar uma olhada no que pode acontecer e por quê.
No início, os hormônios do estresse podem disparar e, com o passar do tempo, esse estresse pode se tornar crônico.
Interações sociais e atividades significativas são essenciais para a estabilidade emocional. Isso pode ocorrer porque elas nos fornecem o que os pesquisadores chamam de "teste de realidade social",uma espécie de caixa de ressonância onde podemos avaliar o quão racionais são nossas percepções.
Portanto, quando alguém é privado desses tipos de comunicação e tarefas, seu senso de identidade e realidade fica ameaçado.
Seus pensamentos espiralam e seus impulsos tomam as rédeas, preparando o cenário para depressão, obsessões, ideação suicida e, para alguns, delírios e alucinações.
Com o tempo, essa agitação prolongada pode fazer com que o sistema límbico do cérebro, que regula o medo e o estresse, se torne especialmente responsivo e hiperativo.
Enquanto isso, o córtex pré-frontal, o centro do cérebro para o raciocínio e o julgamento moral, pode encolher, prejudicando o foco, a memória e a cognição.
De modo geral, o equilíbrio muda do pensamento racional para a emotividade. E, à medida que alguém permanece nesse estado, o desequilíbrio se arraiga, tornando-o mais propenso a crises de ansiedade, raiva e ações irracionais.
O isolamento também afeta outros aspectos da saúde da pessoa. Ela pode perder a noção do tempo e ter dificuldades para dormir. Ela é mais propensa a sentir palpitações cardíacas, dores de cabeça, tonturas e hipersensibilidade.
E também pode perder peso devido a problemas digestivos e falta de apetite induzidos pelo estresse.
Pode-se tentar lidar com a situação estabelecendo a rotina mais saudável possível nessas circunstâncias extremas, incluindo exercícios intensos, leitura e escrita. Mas isso tem um limite.
As Nações Unidas, muitas organizações de direitos humanos e especialistas classificam esse tipo de isolamento forçado e prolongado como tortura.
E, no entanto, é algo que pessoas presas em muitos países sofrem. Também chamado de "confinamento solitário" ou "moradia restritiva", a prática é mais comum nos Estados Unidos.
Em 2019, mais de 120.000 prisioneiros americanos viviam em confinamento solitário, passando de 22 a 24 horas por dia em celas, em sua maioria sem janelas, com cerca de 1,80m por 2,70m.
Grupos quakers introduziram a cela solitária nas prisões americanas no final do século XVIII, como uma alternativa ao castigo corporal, acreditando que ele poderia trazer reflexão e penitência, daí o termo "penitenciária". Mas a prática rapidamente enfrentou críticas, desde figuras públicas até a Suprema Corte.
Charles Dickens, por exemplo, condenou a solitária como "pior do que qualquer tortura do corpo". Seu uso diminuiu, mas então, na década de 1980, juntamente com leis mais punitivas e rigorosas contra o crime, a população carcerária dos EUA disparou.
À medida que as prisões ficavam lotadas, os incidentes de protestos, rebeliões e violência aumentavam, e as autoridades prisionais utilizavam cada vez mais o confinamento solitário para manter o controle.
Muitas pessoas foram colocadas em solitárias por infrações menores e não violentas, como responder aos guardas da prisão.
E o confinamento solitário é prejudicial a todos, mas muitos que o vivenciaram têm transtornos mentais preexistentes, que ele apenas agrava.
O confinamento solitário também parece ter efeitos duradouros que dificultam a readaptação à vida fora da cela.
Pessoas que passaram por solitárias têm três vezes mais probabilidade de apresentar sinais de transtorno de estresse pós-traumático.
E eles comumente relatam mudanças em suas personalidades, aumento da ansiedade e paranoia em situações comuns e dificuldade de concentração e conexão com outras pessoas.
Alguns estados restringiram o uso do confinamento solitário em casos envolvendo doenças mentais graves, filhos ou gravidez, e alguns adotaram limites de 15 ou 20 dias para todos.
Mas as leis que regulamentam o confinamento solitário nem sempre são aplicadas, e as autoridades prisionais criaram brechas.
No entanto, a cela solitária causa danos imensos que são contrários à reabilitação, ao mesmo tempo em que não reduz a violência nas prisões.
Enquanto isso, outros países têm focado em abordagens mais humanas. A Noruega, por exemplo, aprisiona muito menos pessoas per capita do que os EUA, enquanto gasta cinco vezes mais por prisioneiro em acomodações, aulas e programas de liberação do trabalho.
A Noruega também vê muito menos pessoas retornando à prisão após a libertação, com uma das menores taxas de reincidência do mundo, indicando que tendemos a melhorar juntos.
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