'Momijigari', de 1899, é o filme mais antigo do Japão

No início, os filmes simplesmente registravam eventos: um homem caminhando por um jardim, trabalhadores saindo de uma fábrica, um trem chegando a uma estação. O meio logo amadureceu o suficiente para acomodar o drama, o que para os primeiros cineastas significava simplesmente filmar o que equivalia a produções teatrais da perspectiva de um espectador na plateia. Nesse estágio, poderíamos dizer, os filmes ainda não haviam evoluído além dos simples propósitos documentais, ainda não tendo incorporado a edição.

Isso para não falar das outras qualidades que hoje consideramos caracteristicamente cinematográficas. Esta não era uma questão cultural, mas técnica, como evidenciado por "Momijigari", o filme japonês mais antigo que existe.

Filmado em 1899, "Momijigari" retrata quase quatro minutos de uma peça de kabuki envolvendo Onoe Kikugorō V e Ichikawa Danjūrō IX, dois famosos mestres da técnica na época. A ideia era preservar um registro de sua presença no palco, não importa quão aleatória ou por quão breve fosse, antes de se desfazerem desta vida mortal.

Certamente não foi cedo demais: ambos morreriam em 1903, ano da primeira exibição do filme. Sem apreço pela modernidade ocidental, Ichikawa havia estipulado que o filme seria exibido somente após sua morte, mas, na verdade, o filme foi exibido ao público em seu lugar, em uma apresentação na qual ele estava doente demais para comparecer, o que se estendeu por mais tempo em homenagem à recente morte de Onoe.

Como seus equivalentes históricos ocidentais, "Momijigari" retrata uma obra teatral. A peça Noh titular do século XVI, também encenada em versões kabuki e shosagoto voltadas para a dança, envolve uma mulher e sua comitiva em um passeio para observar folhas de bordo -o significado literal de momijigari-.

Como todos os papéis femininos de kabuki, estes teriam sido interpretados sem exceção por atores masculinos, que eram, de qualquer forma, considerados mais capazes de transmitir feminilidade no palco.

A dama incita um guerreiro que passava a beber e, quando ele desmaia, é informado em seu sonho que ela é, na verdade, um demônio. Na cena seguinte, ela reverte à forma demoníaca e os dois lutam.

>O pioneiro cineasta japonês Shibata Tsunekichi encaixa uma quantidade surpreendente dessa narrativa em um tempo de execução muito breve, que também inclui a perda totalmente acidental de um fã. Ichikawa insistiu em filmar ao ar livre, mesmo em um dia ventoso, e não se pode simplesmente dizer não a um mestre de kabuki.

Em 2009, "Momijigari" tornou-se o primeiro filme a ser designado como Bem Cultural Importante, pela lei japonesa de Proteção de Bens Culturais.

O filme foi classificado, graças a uma cópia negativa em celuloide de 35 mm que possuía 107,3 metros de comprimento, projetada a dezesseis quadros por segundo e que teria uma duração de três minutos e cinquenta segundos. O filme está preservado no Centro Nacional de Cinema do Museu Nacional de Arte Moderna de Tóquio.