![]() | Por milênios, pessoas ricas e a realeza se cercaram das coisas mais valiosas que puderam ter em mãos. Ouro, prata, diamantes e esmeraldas foram procurados por reis e rainhas desde que eles existem. Mas, surpreendentemente, a ametista também foi. Claro, a ametista é bonita, mas hoje em dia, é mais provável encontrá-la na lixeira de uma loja de presentes de museu do que na caixa de joias de uma pessoa rica. Então o que aconteceu? O que está por trás da queda em desgraça da gema roxa? |

Há um mito de que o deus grego do vinho, Dionísio, estava tentando cortejar uma bela donzela, cujo nome era Ametista. Mas Ametista não queria nada disso, então apelou à deusa Ártemis para mantê-la pura diante dos avanços de Dionísio.
Ártemis a protegeu... transformando-a em quartzo puro e transparente. Não sei se era isso que ela tinha em mente, mas foi eficaz! Aparentemente, em respeito ao sacrifício de Ametista, Dionísio derramou vinho sobre o quartzo, manchando-o de roxo e criando a única gema de ametista.
Assim como Dionísio, os humanos amam a ametista pelo menos desde a época dos gregos antigos. O nome vem de uma palavra grega que significa "não bêbado", pois acreditavam que a pedra poderia proteger uma pessoa da intoxicação.
Não há evidências que sugiram que isso seja verdade, mas a verdadeira história da ametista tem algumas facetas surpreendentes. Como sugere o mito, o mineral é uma forma de quartzo que foi colorida de roxo. Mas a mancha vem de concentrações de ferro espalhadas pela estrutura cristalina.
Dependendo da quantidade de cada elemento, a cor da ametista pode variar de um delicado lilás pálido a um impressionante roxo azulado profundo.
Ela é normalmente encontrada entre rochas ígneas, cristalizando-se em espaços vazios para criar geodos.
E essas coisas podem ficar grandes. O maior geodo de ametista já encontrado tem mais de 5,5 metros de altura e pesa 20 toneladas (foto acima)!
Conhecida como "A Caverna Encantada" ou "A Imperatriz do Uruguai" este geodo colossal foi formado aproximadamente 120 milhões de anos. Ela foi encontrada há cerca de 100 anos, no norte do Uruguai, dentro de uma bolha gigante que se desenvolveu dentro de um fluxo de lava derretida.
Com o tempo, a lava esfriou e água rica em minerais infiltrou-se na rocha endurecida, depositando minerais que formaram lentamente os cristais de ametista. O geodo está atualmente localizado no Crystal Castle & Shambhala Gardens em Byron Bay, Austrália, tendo sido transportado do Uruguai.
Mas, surpreendentemente, só recentemente os cientistas conseguiram entender como essas belas pedras preciosas se formaram. Alguns acreditavam que elas se cristalizavam a partir de líquidos hidrotermais quentes, da mesma forma que muitos veios de quartzo. Outros sugeriram que elas se formaram a partir da água da chuva que percolava em temperaturas mais baixas.
Em 2024, cientistas que estudavam a ametista do Uruguai descobriram que os fluidos que formaram esses cristais tinham as mesmas características químicas das águas subterrâneas próximas e que a ametista havia se cristalizado a temperaturas tão baixas quanto 15 graus Celsius.
Assim como a água que passa pelo calcário pode dissolver e redistribuir o carbonato de cálcio para criar elaboradas formações de cavernas, a água da chuva que escorre pelas rochas ígneas pode, às vezes, dissolver e recristalizar quartzo e ferro, formando ametista. Mas isso é apenas parte da história.
Aprendemos que há outro fator crucial na formação da ametista: a radiação. As rochas ígneas são naturalmente radioativas, com isótopos instáveis
de urânio, potássio e tório decaindo ao longo de milhões de anos e liberando sua radiação nos minerais circundantes. E agora acredita-se que essa radiação seja o que cria a bela cor roxa da ametista.
A radiação natural ioniza o ferro aprisionado no quartzo, criando átomos carregados que refletem luz roxa. A radiação também pode continuar a afetar a cor da ametista após ela ser trazida à superfície.
A gema pode desbotar se exposta a muita luz UV ou ter sua intensidade aumentada artificialmente por meio de tratamento com radiação de raios X.
Como a ametista ainda é fundamentalmente quartzo, ela tem a mesma dureza e durabilidade que o mineral comum formador de rochas. Isso a torna ótima para uso em joias e até mesmo em objetos práticos, como louças.
Mas, na verdade, é a cor com a qual todos se importam e o que torna a ametista a forma mais valiosa de quartzo. De fato, durante grande parte da história documentada, a ametista foi uma das pedras preciosas mais valiosas de todas.
Juntamente com o diamante, o rubi, a safira e a esmeralda, era considerada uma gema dita "cardeal", valorizada acima de todas as outras por sua cor intensa, significado religioso e raridade.
Dentre elas, a ametista era de particular interesse para a realeza por ser roxa, uma cor muito difícil de ser encontrada na natureza ou sintetizada artificialmente. Assim, tornou-se um símbolo das pessoas mais ricas e poderosas que conseguiam obtê-la.
Essa obsessão pela cor roxa remonta aos antigos egípcios. Evidências arqueológicas mostram que a ametista era extraída em um local chamado Wadi el Hudi, no deserto oriental do Egito.
Inscrições do Império Médio, entre 2000 e 1700 a.C., descrevem forças de trabalho de até 1500 homens partindo em expedições para encontrar e extrair a gema preciosa.
Mas, como a cor do mineral desbota à luz do sol, algo abundante no deserto, as rochas não seriam visíveis em a superfície. Teria sido necessário muito trabalho, tentativa e erro, para encontrar veios e bolsas delas.
Apesar disso, as pedras de ametista aparecem com frequência em sepultamentos reais desse período. E o amor dos egípcios pelo cristal roxo continuou até o fim da era dos faraós.
Cleópatra supostamente usava um anel de ametista durante seus relacionamentos com Marco Antônio e César, o que pode ter inspirado a elite romana a adotar também essa gema roxa de poder.
Ao mesmo tempo, os gregos realmente se inclinaram à ideia de que a pedra poderia afastar a embriaguez.
Eles esculpiam taças de vinho em ametista e seguravam os cristais na boca enquanto bebiam, na esperança de se manterem sóbrios e sérios. Mas era mais do que apenas um remédio para ressaca.
A ametista também foi encontrada na tumba de um guerreiro micênico da Idade do Bronze, sugerindo que também era considerada valiosa por si só.
Continuando até a Idade Média, na Europa, padres e bispos frequentemente usavam ametista como símbolo de fé e piedade, embora essa associação com poder provavelmente também não tenha passado despercebida em suas congregações.
E durante o reinado de Catarina, a Grande, na Rússia do século XVIII, ametista escura de alta qualidade foi descoberta nos Montes Urais. Consta que Catarina coletou o máximo possível da gema roxa e mandou engastar milhares de peças em joias.
Claramente, nosso amor pela gema roxa resistiu ao teste do tempo. Mas, há cerca de 200 anos, a ametista subitamente se tornou uma gema que todos podiam aspirar a possuir.Um dos fatores que tornaram a ametista tão valiosa foi sua raridade.
Isso mudou por volta de 1820, quando imigrantes da Alemanha colonizaram o extremo sul do Brasil.
Ao construírem seus assentamentos no Rio Grande do Sul, descobriram enormes depósitos de ametista no leito rochoso basáltico.
Há cerca de 130 milhões de anos, a lava inundou o que hoje é o sul do Brasil. Essa lava basáltica se solidificou em uma densa rocha negra, rica em ferro e com muitas bolsas de gás aprisionadas em seu interior, o que provou ser o local perfeito para o crescimento da ametista.
Os colonos extraíam a ametista com ferramentas manuais e, posteriormente, com maquinário pesado. Eles enviavam os cristais para a Alemanha, onde eram limpos e vendidos.
Com o tempo, a cidade de Ametista do Sul, no Rio Grande do Sul, se tornou o maior produtor de ametista do mundo. A região agora exporta cerca de 400 toneladas do cristal por mês. Este não é o único lugar no Brasil que vem despejando ametista no mercado.
Na parte norte do país, outro depósito de ametista data de quase 2 bilhões de anos, mas só foi descoberto na década de 1980. E alguns dos melhores cristais de ametista do mundo foram encontrados em depósitos fluviais brasileiros, escavados nas montanhas.
A história conta que essas gemas foram descobertas durante uma caçada a javalis em 1979. Depois que o javali desapareceu em uma fenda na rocha, os caçadores começaram a cavar em sua perseguição, mas logo encontraram um prêmio muito melhor: um grande cristal de ametista.
Graças a esse enorme influxo de ametista do Brasil, bem como a outras descobertas no Canadá, Zâmbia e Uruguai, o mineral roxo foi rebaixado de gema preciosa e cardinal para pedra semipreciosa.
Ela continua tão bonita quanto sempre foi, mas não tão rara a ponto de ser proibitivamente cara. Mas os grandes geodos que os mineradores escavam ainda podem custar muita grana.
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