![]() | O universo é tão grande e complexo que meros humanos só conseguem perceber uma pequena parte dele e entender ainda menos. Claro, nossa inteligência relativa e capacidade de compreender conceitos abstratos é o que nos separa de outros animais, mas isso não significa que entendamos a natureza do que chamamos de realidade. E se tudo o que conhecemos for apenas uma simulação construída por outra pessoa? A possibilidade já foi considerada ridícula, mas agora estamos no ponto em que podemos ver como isso aconteceria. |

Lembro-me que em 2003, o mundo riu do filósofo Nick Bostrom quando propôs a "hipótese da simulação", que sugere que se uma civilização se torna capaz de criar simulações conscientes, ela poderia gerar tantos seres simulados que uma entidade consciente escolhida aleatoriamente quase certamente estaria em uma simulação.
Apesar do nome, a "hipótese da simulação" não argumenta diretamente que os humanos vivem em uma simulação, senão que apresenta um trilema de proposições aparentemente improváveis:
- A fração de civilizações de nível humano que atingem um estágio pós-humano, ou seja, capaz de executar simulações ancestrais de alta fidelidade, é muito próxima de zero.
- A fração de civilizações pós-humanas que estão interessadas em executar simulações de sua história evolutiva, ou variações dela, é muito próxima de zero.
- A fração de todas as pessoas com o nosso tipo de experiência que estão vivendo em uma simulação é muito próxima de um.
Como vemos, o trilema aponta que uma civilização "pós-humana" tecnologicamente madura teria enorme poder computacional. Se mesmo uma pequena porcentagem de "simulações de ancestrais" fosse realizada, isto é, simulações de "alta fidelidade" da vida ancestral que seriam indistinguíveis da realidade para o ancestral simulado, o número total de ancestrais simulados, ou "Sims", no universo (ou multiverso , se existir) excederia em muito o número total de ancestrais reais.
Nick usou um tipo de raciocínio antrópico para afirmar que, se a terceira proposição for uma das três que é verdadeira, e quase todas as pessoas vivem em simulações, então os humanos estão quase certamente vivendo em uma simulação
O canal do Youtube Kurzgesagt descreve esse paradoxo explicando o quão perto estamos de criar universos simulados e inteligência nós mesmos. O que poderia dar errado?
Isso pressupõe que a consciência não está exclusivamente ligada aos cérebros biológicos, mas pode surgir de qualquer sistema que implemente as estruturas e processos computacionais corretos.
Então, se alguém tem plena consciência de ser uma simulação, consegue se comunicar com seu eu do mundo real? Ou, inversamente, se uma pessoa não tem consciência de ser uma simulação de si mesma, isso anula sua realidade? As suposições são imensas, principalmente na era dos videogames e da inteligência artificial. Vsauce3 analisa a questão ainda mais a fundo.
A hipótese foi precedida por algumas versões anteriores, como, por exemplo, que somos personagens de um videogame jogado por um nerd alienígena. Isso se deve aos jogos de simulação de mundos onde você constrói um império abrangendo períodos históricos, cenários futuristas e até mesmo de fantasia, oferecendo estratégias aprofundadas em combate, economia e diplomacia.
Variações da ideia também foram apresentadas na ficção científica, aparecendo como um dispositivo central de enredo em muitas histórias e filmes, como o romance "Simulacron-3" (1964), Matrix (1999), e mais recentemente foi explorado no episódio "Extremis" da décima temporada de Doctor Who quando o Doutor pede ajuda ao Doutor real.
A verdade é que a hipótese da simulação reflete um debate filosófico milenar sobre a natureza da realidade e a limitação da percepção humana.
A ideia de que "só conhecemos o que percebemos" e que "nunca saberemos tudo" é sustentada por pensadores como Immanuel Kant, que postulou a existência de uma realidade última (a "coisa-em-si") inatingível para nós, ao passo que a realidade que experimentamos é uma construção mental baseada nas nossas sensações e no funcionamento do nosso cérebro.
Essa visão é reforçada por descobertas científicas que mostram como a nossa percepção é limitada e construída, como o caso das cores, que são apenas interpretações de comprimentos de onda de luz, e não qualidades intrínsecas dos objetos.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig: 461.396.566-72 ou luisaocs@gmail.com
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários