![]() | Estamos na Europa Medieval, onde cavaleiros fedem mais que seus próprios cavalos e empunhando espadas comem carne podre, pensam que a Terra é plana, defendem donzelas usando cintos de castidade e torturam seus inimigos com dispositivos macabros. O povo é tão ignorante quanto pedra: uma multidão vil e analfabeta presa por tiranos, demagogos, clérigos, santarrões e toda classe de superstições. Só que não! Isso tem mais de ficção do que fato. Então, de onde vêm todos os mitos sobre a Idade Média? E como eles realmente eram? |

A "Idade Média" se refere a um período de 1.000 anos, que se estende da queda de Roma no século V ao renascimento italiano no século XV. Embora tenha sido aplicado a outras partes do mundo, o termo tradicionalmente se refere especificamente à Europa.
Um equívoco é que os povos medievais eram todos ignorantes e sem educação. Por exemplo, uma biografia de Cristóvão Colombo, do século XIX, supôs incorretamente que os europeus medievais pensavam que a Terra era plana.
Claro, muitos estudiosos medievais descrevem a Terra como o centro do universo, mas não houve muito debate quanto à sua forma. Um texto popular do século XIII chamava-se literalmente "Sobre a Esfera do Mundo".
E as taxas de alfabetização aumentaram gradualmente durante a Idade Média, juntamente com o estabelecimento de mosteiros, conventos e universidades. O conhecimento antigo também não foi "perdido"; textos gregos e romanos continuaram a ser estudados.

A ideia de que os povos medievais comiam carne podre e usavam especiarias para disfarçar o sabor foi popularizada na década de 1930 por um livro britânico. Ele interpretou erroneamente uma receita medieval e usou a existência de leis que proibiam a venda de carne podre como evidência de seu consumo regular.
De fato, os europeus medievais evitavam alimentos rançosos e tinham métodos para conservar carnes com segurança, como curá-las com sal. As especiarias eram populares. Mas muitas vezes eram mais caras do que a própria carne.Portanto, se alguém pudesse comprá-las, também poderia comprar comida intocada.
Enquanto isso, o historiador francês do século XIX, Jules Michelet, referiu-se à Idade Média como "mil anos sem banho". Mas mesmo cidades pequenas ostentavam ter casas de banho públicas bastante utilizadas.

As pessoas se ensaboavam com sabões feitos de coisas como gordura animal, cinzas e ervas aromáticas. E usavam enxaguantes bucais, panos para escovar os dentes com pastas e pós, além de especiarias e ervas para um hálito fresco.
Então, e os instrumentos de tortura medievais? Na década de 1890, uma coleção de supostas "relíquias terríveis de uma era semibárbara" saiu em turnê. Entre elas: a Dama de Ferro, que fascinava os espectadores com suas portas pontiagudas, mas foi fabricada, possivelmente apenas algumas décadas antes.
E não há indícios de que as Damas de Ferro realmente tenham existido na Idade Média. A "Pera da Angústia", por sua vez, existiu, mas provavelmente mais tarde, e não poderia ter sido usada para tortura. Pode ter sido apenas um esticador de sapatos.

De fato, muitos dispositivos de tortura supostamente medievais são invenções bem mais recentes.
Os procedimentos legais medievais eram, em geral, menos horríveis do que esses dispositivos sugerem. Eles incluíam multas, prisão, humilhação pública e certas formas de punição corporal.
Tortura e execuções aconteciam, mas punições especialmente violentas, como esquartejamento, eram geralmente reservadas para crimes como alta traição.
Certamente os cintos de castidade eram reais, certo? Provavelmente não. Eles foram mencionados pela primeira vez por um engenheiro alemão do século XV, provavelmente em tom de brincadeira, juntamente com piadas sobre peidos e um dispositivo para invisibilidade.

A partir daí, tornaram-se temas populares de sátira que mais tarde foram confundidos com a realidade medieval.
As ideias sobre a Idade Média variaram dependendo do interesse daqueles em épocas posteriores. O termo, juntamente com o pejorativo "Idade das Trevas" foi popularizado durante os séculos XV e XVI por estudiosos com preconceito em relação aos períodos Clássico e Moderno que o antecederam e o sucederam.
E, enquanto os pensadores iluministas celebravam sua dedicação à razão, retratavam os povos medievais como supersticiosos e irracionais.
No século XIX, alguns pensadores nacionalistas europeus românticos, bem... romantizaram a Idade Média. Eles descreveram sociedades isoladas, brancas e cristãs, enfatizando narrativas de cavalaria e maravilhamento.
Mas os cavaleiros desempenharam papéis mínimos na guerra medieval. E a Idade Média testemunhou interações em larga escala.
Ideias fluíram para a Europa pelas rotas comerciais bizantinas, muçulmanas e mongóis. E comerciantes, intelectuais e diplomatas de diversas origens visitaram cidades europeias medievais.
O maior mito talvez seja o de que o milênio da Idade Média equivale a um período distinto e coeso da história europeia.
Originalmente definida menos pelo que eram do que pelo que não eram, a Idade Média se tornou um campo de ideias conflitantes, alimentando mais fantasia do que fatos.
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