Qual é o problema com as gatas-quimera de rosto dividido?

Os gatos podem exibir uma infinidade de cores lindas, sendo algumas das mais raras o padrão roseta semelhante ao leopardo ou o lilás com tons de roxo. Os gatos-quimera de focinho dividido têm uma aparência particularmente incomum, com seus padrões de pelagem perfeitamente divididos e olhos com cores diferentes (heterocrom9ia)e. É natural se perguntar como esses felinos conseguem características tão marcantes. Isso é chamado quimerismo, que ocorre quando dois embriões se fundem durante os estágios iniciais da gestação e pode acontecer inclusive com humanos.

Como dizíamos no prefácio, as quimeras geralmente são formadas nos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, quando dois zigotos se fundem em um e a quimera resultante basicamente acaba sendo sua própria irmã gêmea fraterna, com todos os tipos de condições estranhas.

Em alguns casos ainda mais raros é como se a quimera fosse um casal de gêmeos fraternos fundidos em um que tem um ovário e um testículo, com informações genéticas diferentes.

Embora seja um fenômeno raríssimo, é natural e não é resultado de manipulação genética de ficção científica.

Um dos casos de quimerismo humano mais famosos ocorreu em 2002, quando Lydia Fairchild, grávida de seu terceiro filho, se separou do pai de seus filhos, Jamie Townsend. Lydia então buscou o apoio do sistema social de saúde, quando solicitaram evidências (prova por DNA) de que Jamie era mesmo o pai. Embora os resultados tenham indicado que Jamie era o pai das crianças, os testes de DNA indicaram que ela não era a mãe deles. Como assim?

Isso quase levou Lydia à cadeia. Elas foi processada por fraude ao reivindicar benefícios para os filhos de outro ou fazer parte em um esquema de falsidade ideológica. Registros hospitalares de seus partos anteriores foram desconsiderados. A promotoria pediu que ela perdesse a guarda de seus dois filhos, que deviam ser colocados sob guarda estatal.

Quando chegou o momento de dar à luz seu terceiro filho, o juiz ordenou que uma testemunha assistisse ao parto. Isso era para garantir que amostras de sangue, tanto da criança quanto de Lydia, fossem retiradas. Duas semanas depois, testes de DNA indicaram que ela não era a mãe dessa criança também. Com0 assim?

A explicação surgiu só quando um promotor encontrou um artigo em uma revisa científica sobre um caso semelhante envolvendo uma mulher chamada Karen Keeganm. Ele percebeu que o caso de Lydia também poderia ser causado por quimerismo.

Assim amostras de DNA foram obtidas de membros da família. O DNA dos filhos de Lydia coincidiu com o da sua mãe, na medida em que se espera de uma avó. Eles também descobriram que, embora o DNA da pele e do cabelo de Lydia não correspondesse a suas crianças, o DNA obtido a partir de um teste de papanicolau era coincidente.

Lydia possuía dois conjuntos diferentes de DNA, sendo que um desses era de sua irmã gêmea que morreu devido a um aborto espontâneo, a característica definidora do quimerismo.

Já o assunto de quimerismo felino ficou popular há uns 13 anos quando a internet conheceu Venus, a Gata de Duas Caras, cujo focinho é metade preto e metade vermelho malhado. Além disso, seus olhos são heterocrômicos, sendo o direito verde e o esquerdo azul.

Os veterinários começaram a descrevê-la como uma quimera, mas acontece que muito provavelmente não é. Estudos posteriores chegaram a conclusão de que suas marcas distintivas podem ser alternativamente uma questão de sorte, uma expressão incomum de mosaicismo, devido a incompatibilidade de seus cromossomos com o quimerismo.

O termo quimera vem da criatura mítica grega que cospe fogo, com corpo e cabeça de leão, cabeça de cabra crescendo em suas costas e cauda de cobra. Com o tempo, a palavra passou a ser usada para se referir a animais e pessoas que possuem mais de dois conjuntos de DNA.

Nem todos os gatos- quimera têm focinho dividido; alguns apresentam diferenças sutis na cor da pelagem. Outro ponto a ser observado é que gatas -dificilmente calicos são machos- também podem desenvolver as características de focinho dividido e heterocromia (caso das Vênus). No entanto, isso não significa que sejam quimeras.

Todos esses padrões de cores interessantes são geralmente encontrados em gatas, e não em gatos. Isso ocorre porque os genes que determinam a cor da pelagem dos gatos estão no cromossomo X. Como as fêmeas dos mamíferos têm dois cromossomos X, elas são muito mais propensas a apresentar esses padrões únicos.