O mal do século

Depois de alguns dias de chuva o céu ficou limpo de repente nessa noite. Prenúncio de geada forte. Saí um pouco lá fora e apesar do ar frio incomodar fiquei olhando extasiada para cima, para um céu muito estrelado. A imensidão é fascinante e como estava tudo em silêncio pensei se em algum outro lugar da cidade mais pessoas estariam admirando a beleza do mesmo céu que eu e sentindo aquela paz, ou estariam em meio às suas frenéticas atividades desfrutando da solidão acompanhada...

Lembrei do vídeo abaixo, do educador, filósofo e palestrante Mario Sergio Cortella, de 2007, falando da arrogância. E arrogância é solidão enrustida. Vivemos em uma sociedade que se torna a cada dia mais superficial, consumista e entediante, sempre prejulgando pela aparência, situação econômica ou posição social.

A razão pela qual as redes sociais só aumentam é porque as pessoas cada vez mais têm interesse em amigos à distância, apenas para mostrar que tem amigos -que nunca são amigos inteiros- e para tentar convencer a si e aos outros que não estão sós. Aparências.

As pessoas tentam mostrar o quanto são importantes e amadas e tiram fotos na Europa rodeados de amigos sem contar que a viagem foi financiada em mil vezes e eram amigos só na hora da foto. Mostram a foto da melhor amiga de infância e de um namorado novo por semana. A amiga de infância que certamente acabou de conhecer e os novos amores que nunca demoram tempo suficiente para se tornarem amores reais.

Elas têm mil amigos no Orkut e nenhum pro cineminha de quarta à noite. Dão bom dia no Twitter e nem um sorriso de manhã para o vizinho no elevador. Através do Facebook dá para falar com gente do mundo inteiro, anuncia-se a própria morte iminente e ninguém sequer acredita.

Na verdade, a solidão é uma condição imanente ao homem, faz parte da vida. Estar só é um fenômeno interno, é impossível compartilhar o nosso centro, o nosso Ser, com quem quer que seja. Cada ser humano carrega dentro de si verdades que são invisíveis aos olhos dos outros e até de si mesmo. Descobrir essas verdades em meio à solidão é experiência desejável e salutar. É se descobrir. Só que por escapismo e dificuldade de aceitação própria a solidão se faz presente de maneira doída em alguns indivíduos que sem saber lidar com a sensação de abandono de si mesmos, como mecanismo de defesa, se tornam fúteis e arrogantes.

De volta ao céu estrelado... Estamos num Universo que contém entre várias galáxias a "nossa" Via Láctea. Dentro dela há um Sistema Solar e um dos planetas que o compõe abriga 3 milhões de espécies conhecidas, somos quase 7 bilhões de seres humanos, e ainda assim cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição.