Estado americano da Louisiana está pagando 32 reais por cada ratão-do-banhado morto

Muita gente se confunde ao ver o ratão-do-banhado (Myocastor coypus), também conhecido por nútria, caxingui ou ratão-d'água, e achar que é uma super-ratazana. As diferenças básicas é que o ratão-do-banhado tem pelagem castanho-avermelhada, habita as margens de cursos de água e pode chegar a pesar nove kg; enquanto a ratazana (Rattus norvegicus) tem pelagem cinzento-acastanhada, habita galerias subterrâneas, canais de esgoto ou lixo e pode pesar no máximo 500 gramas, ainda que espécimes de quase 1kg já tenham sido encontradas.

O ratão-do-banhado é autóctone do sul da América do Sul e ocorre no Brasil de São Paulo ao Rio Grande do Sul. Devido a seus hábitos noturnos é de difícil avistamento, mas tais comportamentos mudam quando o roedor da família de echimídeos se torna uma espécie invasora, como é o caso do estado norte-americano da Louisiana, onde se tornou uma verdadeira praga nas regiões costeiras.

Desde 2002 foi estabelecido o Programa de Controle de Nútria Costeira (CNCP por suas siglas em inglês), que visa combater o ratão-do-banhado na costa da Louisiana. A meta do programa era remover até 400.000 animais a cada temporada da costa do estado para reduzir os danos causados nos pantanais induzidos pelas nútrias, que conseguem transformar áreas de solo firme em pura terra movediça.

Para tanto, o CNCP paga até 6 dólares (32,5 reais) por animal para caçadores registrados no programa. Você deve apenas levar o rabo aos pontos de coleta e ainda pode levar a caça para casa e fazer um "churrasquinho de rato", que, de fato, é uma comida de rua popular no Camboja.

Walter Heath, que nasceu e foi criado nesta região, diz que perdeu centenas de acres ao longo dos anos por culpa da nútria e por isso decidiu caçá-las. Ele afirma que não faz isso por dinheiro, mas só em 2020 ele ganhou em torno de 55 mil dólares, algo em torno de nada desdenháveis 297 mil reais.

O ratão-do-banhado está causando verdadeiros estragos nos ecossistemas do estado. Eles foram apresentados à Louisiana na década de 1930 como uma fonte renovada de peles. Mas quando o mercado de curtume entrou em colapso na década de 1980, as nútrias começaram a procriar descontroladamente.

Isso não seria um grande problema se não fosse por seus hábitos alimentares. Os ecossistemas dos pântanos na Louisiana dependem de plantas que não apenas fornecem filtragem natural da água, mas também mantêm a terra unida e podem ajudar a prevenir inundações.

A nútria gosta de comer as raízes dessas plantas e, quando o fazem, o pântano sofre erosão. Autoridades estaduais estimam que a nútria danificou cerca de 14.000 acres só no ano passado.

Diz-se que a carne tem o mesmo sabor da carne de leitão, mas os restaurantes locais não podem oferecer a iguaria devido a algumas regulamentações que proíbem a comercialização da carne de caça. Ademais as pessoas não se mostram muito animadas a comer um ratão ainda que, efetivamente, a única coisa em comum entre os ratos e a nútria é a ordem taxonômica dos roedores.

Como geralmente acontece com qualquer espécie invasora, que não tem um predador natural, dificilmente hoje conseguirão erradicar o ratão-do-banhado completamente na Louisiana, mas podem, no entanto, ser controlados através da caça. A temporada do programa vai de 20 de novembro a 31 de março.

O ratão-do-banhado também está causando problemas no Delta dos rios Sacramento - San Joaquin, na Califórnia, mas o estado adotou uma abordagem mais cirúrgica. Em vez de oferecer recompensas, eles incentivam as pessoas a tirar uma foto e relatar o avistamento para a Secretaria de Pesca e Vida Selvagem do estado. Então enviam para o local caçadores profissionais pagos e cães de caça para fazer uma varredura e eliminar a praga.