Na Era de Ouro da Cúrcuma, quem lucra e quem paga o preço?

A Índia é o maior produtor mundial de acafrão-da-terra (Curcuma longa) da família do gengibre. Ela responde por cerca de 80% da produção global. A Índia também é o maior consumidor e exportador de cúrcuma, mas embora a Índia domine o mercado, outros países também contribuem para sua produção, incluindo China, Mianmar, Nigéria, Bangladesh e Fiji. No entanto, a produção da Índia supera em muito a soma da produção de todas as outras nações do mundo.

Mas os agricultores indianos não estão muito contentes com sua curcuma e seu preço praticado no mundo, sobretudo quando comparado a herbácea fijiana, e eu já vou explicar o motivo.

A cúrcuma é usada em pratos básicos e na medicina herbal há milhares de anos na Índia. Mas, na última década, a especiaria ganhou vida no Ocidente, encapsulada em comprimidos e prensada em sucos.

Tudo isso graças à mais nova obsessão do mundo saudável: a curcumina. O composto é encontrado apenas na cúrcuma e é responsável pelos supostos poderes anti-inflamatórios e antioxidantes da especiaria.

Empresas de saúde nos EUA e na Europa hoje estão dispostas a pagar muito dinheiro para obter cúrcuma com um nível de curcumina acima de 5%.

Mas os agricultores indianos, que cultivam a maior parte da oferta mundial, não conseguem lucrar. A que eles produzem não é tão rica em curcumina: apenas cerca de 2%.

Enquanto isso, outros países, como Fiji, estão se intrometendo, cultivando mais cúrcuma com níveis mais altos do composto para os mercados ocidentais. Então, o que é preciso para fazer uma cúrcuma mais saudável e valiosa? E existe uma maneira de os agricultores na Índia lucrarem com a demanda ocidental?

A resposta é simples, mas a prática, em se tratando de indianos, é complicada. Para aumentar os níveis de curcumina na cúrcuma, os agricultores devem se concentrar em selecionar variedades de alto rendimento e alto teor de curcumina, otimizar o manejo do solo e dos nutrientes e implementar práticas pós-colheita adequadas, que não são realizadas hoje.

Além disso, métodos de cura pós-colheita, como a cura por micro-ondas em bicarbonato de sódio, podem aumentar ainda mais o teor de curcumina.

Especificamente, os agricultores podem considerar o uso de variedades como a cúrcuma Lakadong ou Pratibha, garantindo solo bem drenado com pH entre 4,5 e 7,5 e aplicando recomendações específicas de fertilizantes para os rendimentos desejados. Isso praticamente elimina 60% da lavoura existente hoje.

A característica principal do açafrão-da-terra é a forte cor amarela que a sua raiz transfere aos alimentos. Como condimento, foi amplamente usado para colorir e temperar refeições, ao longo da história no mundo oriental. Com efeito, é um ingrediente essencial para acentuar o sabor e dar cor a muitos pratos da cozinha indiana, principalmente o arroz.

No entanto, as alegações de seus potenciais benefícios médicos são no mínimo polêmicas.

A curcumina, que, juntamente com outros curcuminóides, foi estudada pela medicina para a prevenção e o tratamento de diversas condições médicas. Porém, a qualidade de muitos estudos e da interpretação dos resultados são muito contestados.

A culpa disso é da má conduta em pesquisas, que vai do plágio à falsificação de dados, que representa um sério desafio à credibilidade acadêmica da Índia.

Os potenciais benefícios alegados incluem: atividade anti-inflamatória, ação antioxidante, redução do nível de glicose no sangue em pacientes com diabetes, redução de fatores de risco associados a doenças cardiovasculares, tratamento do mal de Alzheimer e prevenção de câncer.

Apesar dos potenciais benefícios para a saúde, a curcumina é mal absorvida pelo trato gastrointestinal, sendo quase totalmente excretada nas fezes. Portanto o consumo por via oral produz apenas traços residuais da substância no sangue.