![]() | Ontem, deitado na rede da varanda, o sono bateu e não tive como evitar um bom bocejo. Na sequência imediata notei que a Erika, minha Dachshund, também bocejou profundamente e espreguiçou-se. Pode isso? Eu não sabia, mas pode sim, o bocejo é contagioso para muitos animais, incluindo espécies sociais e algumas solitárias, e pode até ocorrer entre espécies diferentes, como humanos e seus cães. De fato, é provável que todos os vertebrados bocejem espontaneamente para regular processos internos do corpo. |

Você já bocejou porque outra pessoa bocejou? Você não está especialmente cansado, mas de repente sua boca se abre e um grande bocejo sai. Esse fenômeno é conhecido como bocejo contagioso.
Embora os cientistas ainda não entendam completamente por que isso acontece, existem muitas hipóteses sendo pesquisadas atualmente, começando com duas hipóteses fisiológicas antes de passar para uma psicológica.
Nossa primeira hipótese fisiológica afirma que o bocejo contagioso é desencadeado por um estímulo específico, um bocejo inicial. Isso é chamado de padrão de ação fixo. Pense no padrão de ação fixo como um reflexo. Seu bocejo me faz bocejar.
Semelhante a um efeito dominó, o bocejo de uma pessoa desencadeia um bocejo em outra pessoa próxima que observou o ato. Uma vez que esse reflexo é desencadeado, ele deve seguir seu curso. Você já tentou interromper um bocejo depois que ele começou? Basicamente impossível!
Outra hipótese fisiológica é conhecida como mimetismo inconsciente, ou efeito camaleão. Isso ocorre quando você imita o comportamento de alguém sem saber, uma manobra de imitação sutil e não intencional.
As pessoas tendem a imitar as posturas umas das outras. Se você estiver sentado em frente a alguém que está com as pernas cruzadas, você pode cruzar as suas próprias pernas sem perceber.
Essa hipótese sugere que bocejamos quando vemos outra pessoa bocejar porque estamos inconscientemente copiando seu comportamento.
Os cientistas acreditam que esse efeito camaleão é possível devido a um conjunto especial de neurônios conhecidos como neurônios-espelho, um tipo de célula cerebral que responde da mesma forma quando realizamos uma ação e quando vemos outra pessoa realizar a mesma ação.
Esses neurônios são importantes para o aprendizado, a autoconsciência e a empatia. Por exemplo, observar alguém fazendo algo físico, como tricotar ou passar batom, pode ajudar a realizar essas mesmas ações com mais precisão.
Estudos de neuroimagem usando fMRI (ressonância magnética funcional) nos mostram que, quando vemos alguém bocejar ou até mesmo ouvimos seu bocejo, uma área específica do cérebro que abriga esses neurônios-espelho tende a se iluminar, o que, por sua vez, nos faz responder com a mesma ação: um bocejo!
Nossa hipótese psicológica também envolve o trabalho desses neurônios-espelho. Chamaremos isso de bocejo de empatia.
Empatia é a capacidade de entender o que outra pessoa está sentindo e participar de suas emoções, uma habilidade crucial para animais sociais como nós.
Recentemente, neurocientistas descobriram que um subconjunto de neurônios-espelho nos permite ter empatia com os sentimentos dos outros em um nível mais profundo. Os cientistas descobriram essa resposta empática ao bocejo ao testar a primeira hipótese que mencionamos, o padrão fixo de ação.
Este estudo foi criado para mostrar que os cães apresentam um reflexo de bocejo ao simples som de um bocejo humano.
Embora o estudo tenha demonstrado que isso é verdade, eles descobriram algo mais interessante.
Os cães bocejam com mais frequência com bocejos familiares, como os de seus donos, do que com bocejos desconhecidos de estranhos.
Após essa pesquisa, outros estudos em humanos e primatas também mostraram que o bocejo contagioso ocorre com mais frequência entre amigos do que entre estranhos.
Na verdade, o bocejo contagioso começa a ocorrer por volta dos quatro ou cinco anos de idade, quando as crianças desenvolvem a capacidade de identificar as emoções dos outros corretamente.
Ainda assim, embora estudos científicos mais recentes busquem provar que o bocejo contagioso se baseia nessa capacidade de empatia, mais pesquisas são necessárias para esclarecer o que exatamente está acontecendo.
- "O bocejo provavelmente surgiu com a evolução dos peixes com mandíbula, há cerca de 400 milhões de anos", afirmou Andrew Gallup, biólogo evolucionista do Instituto Politécnico da Universidade Estadual de Nova York, que passou anos tentando descobrir por que bocejamos.
Em um artigo publicado em 2022 na Animal Behavior, ele apresenta algumas evidências de como o bocejo contagioso pode ter evoluído para nos manter seguros.
Para começar ele diz que a antiga crença de que bocejar aumenta os níveis de oxigênio no sangue, é um mito.
- "Apesar da crença persistente, pesquisas testaram explicitamente essa hipótese e os resultados concluíram que a respiração e o bocejo são controlados por mecanismos diferentes", escreveu ele. - "Por exemplo, há casos realmente interessantes de bocejo em mamíferos marinhos, em que o bocejo ocorre enquanto o animal está submerso e, portanto, sem respirar."
Bocejar é um reflexo bastante complexo. É desencadeado em diversos contextos e alterações neurofisiológicas. Ocorre principalmente durante períodos de mudança de estado, geralmente após transições entre sono e vigília.
Há pesquisas que também sugerem que os bocejos são iniciados juntamente com aumentos na excitação cortical, portanto, os próprios bocejos podem funcionar para promover o estado de alerta. E há um crescente corpo de pesquisas que sugere que o bocejo é desencadeado por aumentos na temperatura cerebral.
Todos os animais bocejam da mesma maneira? Andrew realizou diversos estudos comparativos em larga escala, nos quais registrou a duração do bocejo em mais de 100 espécies de mamíferos e aves.
- "Descobrimos que, mesmo controlando o tamanho do corpo, existem relações positivas muito fortes entre a duração do bocejo de um animal e o tamanho e a complexidade do seu cérebro."
Como dizíamos, acredita-se que o comportamento contagioso do bocejo esteja ligado ao vínculo social e à empatia, e já foi observado em animais como chimpanzés, cães, elefantes e orangotangos.
De fato, o bocejo contagioso é comum em primatas altamente sociais, como chimpanzés e bonobos, onde é frequentemente visto entre familiares e amigos.
O estudo de Andrew afirma que os cães conseguem captar bocejos dos humanos, e o comportamento é mais frequente entre donos com quem eles têm um vínculo forte.
O bocejo contagioso também foi observado em outros animais sociais, como leões, lobos e até papagaios e periquitos. Eu duvido que você não boceje ao ver este vídeo.
O fenômeno do bocejo contagioso pode até cruzar fronteiras entre espécies. Foi observado entre humanos e cães, e entre humanos e chimpanzés, como uma maneira de construir e fortalecer laços sociais.
Embora o aspecto social seja bem estudado, a razão fundamental pela qual os animais (e os humanos) bocejam ainda é incerta. A hipótese mais aceita é que o bocejo aumenta o estado de alerta.
É possível também que a resposta esteja em outra hipótese que ainda não sabemos. Assim, da próxima vez que você bocejar, pare um segundo para pensar no que acabou de acontecer.
Você estava pensando em um bocejo? Seu cão ou alguém perto de você bocejou? Essa pessoa ou esse cão era um estranho ou alguém próximo? E você está bocejando agora? Eu bocejei o tempo todo enquanto escrevia este artigo.
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