![]() | Na década de 1980, o mundo enfrentou um enorme problema: havia um buraco na camada de ozônio em rápida expansão. Se você nasceu no final daquela década ou no começo da próxima deve estar ciente do que aconteceu. Muitas pessoas nem sequer sabiam do que se tratava, mas o assunto era tão onipresente em noticiários e jornais que chegava a encher o saco. Falava-se tanto no buraco que ele acabou tornando motivo de uma série de piadas de quinta série. Mas, 40 anos depois, o que aconteceu? E ele ainda está lá? Para melhor contextualizar vamos voltar ao início. |

O Sol torna a vida na Terra possível, mas a exposição excessiva à sua radiação UV danifica o DNA de plantas e animais. Felizmente, cerca de 98% dessa radiação é absorvida pelas moléculas de ozônio dispersas na estratosfera, que são continuamente quebradas e reformadas nesse processo, mantendo um equilíbrio delicado e complexo.
Mas, no início da década de 1970, dois químicos, Mario Molina e Sherwood Rowlnd, demonstraram que produtos químicos amplamente utilizados, chamados clorofluorcarbonos, ou CFCs, poderiam perturbar esse equilíbrio.
O CFC foi desenvolvido na década de 1920 por três empresas americanas como refrigerantes para geladeiras. Ao contrário das alternativas existentes, como amônia ou cloreto de metila, o CFC não era inflamável nem tóxico, o que fazia que não explodisse em chamas nem causava vazamentos fatais de gás.
Ele também produzia excelentes propelentes, agentes espumantes e retardantes de fogo. Os CFCs logo encontraram seu caminho em uma variedade de itens do dia a dia e se tornaram uma indústria multibilionária por ano. Uma nova descoberta da roda
Na baixa atmosfera, o CFC não se decompõe nem reage com outras moléculas. Mas Mario e Sherwood mostraram que, na estratosfera, eles são decompostos pela luz UV, liberando átomos de cloro.
Estes então reagem com o ozônio, destruindo-o mais rápido do que ele pode ser reposto. Um único átomo de cloro pode destruir milhares de moléculas de ozônio antes de finalmente reagir com outra coisa e formar uma molécula estável.
Percebendo a ameaça aos seus lucros, a indústria do CFC reagiu para desacreditar os cientistas, acusando-os até de trabalhar para a KGB.
A indústria dos CFCs reagiu agressivamente contra a pesquisa e assediou os cientistas, atrasando por anos a tomada de medidas contra a destruição da camada de ozônio. A indústria gastou milhões para desacreditar suas descobertas, que ligavam os (CFCs à destruição da camada de ozônio.
Eles financiaram seus próprios estudos científicos publicados em revistas compradas e lançaram campanhas de relações públicas para contestar as conclusões e lançar dúvidas sobre a ciência.
Estimativas iniciais mostraram que, em 60 anos, os CFCs poderiam reduzir as concentrações de ozônio em 7%. Mas, em 1985, ficou claro que a destruição da camada de ozônio, especialmente sobre a Antártida, estava acontecendo muito, muitro0 rápido.
Ali, as temperaturas extremamente baixas e a estrutura única das nuvens antárticas aceleraram a perda de ozônio. Cientistas alocados na Antártida notaram uma queda maciça no ozônio aéreo ocorrendo a cada primavera.
Dados de satélite revelaram a vasta extensão dessas perdas e testes químicos confirmaram que a causa era, sem dúvida, os CFCs. A NASA logo divulgou visualizações, que foram transmitidas para todo o mundo e chamaram a atenção do público.
Se a destruição da camada de ozônio continuasse, as taxas de câncer de pele disparariam. A fotossíntese seria prejudicada, tornando as plantas e plantações, incluindo arroz, trigo e milho, menos produtivas e mais suscetíveis a pragas. A produção agrícola global despencaria e ecossistemas inteiros entrariam em colapso.
Mas muitos políticos, ocultos atrás dos lobbies da gigante Dumont, ponderando preocupações econômicas imediatas em detrimento das de longo prazo, discordavam sobre o que fazer.
A luta para proibir os CFCs encontrou dois aliados improváveis na política: o presidente dos EUA, Ronald Reagan, e a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher.
Apesar de sua oposição geral à regulamentação governamental, Reagan, que havia se submetido a tratamento para câncer de pele, e Thatcher, que era química de formação, reconheceram a necessidade de ação imediata.
Os EUA e o Reino Unido, juntamente com Canadá, Noruega, Suécia e Finlândia, lideraram os apelos pela proibição internacional dos CFCs.
Em 1987, representantes assinaram o Protocolo de Montreal, exigindo a rápida eliminação gradual dos CFCs e a criação de um fundo para ajudar os países do Sul Global a obter alternativas acessíveis e que não destruíssem a camada de ozônio.
Devido a preocupação com a pujante indústria de linha branca de então, o Brasil demorou três anos para aderir ao Protocolo de Montreal em 19 de março de 1990. A promulgação no país foi oficializada pelo Decreto n.º 99.280, de 6 de junho de 1990 assinado por Fernando Collor,quatro dias após sua posse.
Posteriormente, o tratado foi ratificado por todos os países da Terra, o único tratado na história a alcançar esse objetivo.
Em 1995, Mario, Sherwood e seu colega holandês Paul Crutzen foram agraciados com o Prêmio Nobel de Química.
Com a diminuição do uso de CFCs, o buraco na camada de ozônio começou a diminuir e a previsão é de que desapareça completamente até 2066. Mas ainda não estamos fora de perigo.
Embora a proibição tenha sido uma vitória para o clima, visto que os CFCs são potentes gases de efeito estufa, as alternativas que os substituíram, os hidrofluorcarbonetos, ou HFCs também são.
Embora geralmente menos potentes que os CFCs, os HFCs ainda retêm mais calor do que o dióxido de carbono e estão contribuindo para as mudanças climáticas.
Para resolver isso, em 2016, a Emenda de Kigali foi adicionada ao Protocolo de Montreal, prevendo uma redução de 85% nos HFCs globais até 2047. Só isso poderia evitar até 0,5°C de aquecimento global até o final do século.
Eu resolvi voltar a esse assunto agora para mostrar que esforço internacional para eliminar gradualmente o CFC oferece lições importantes para o combate aos combustíveis fósseis, mas também destaca diferenças críticas.
O bem-sucedido Protocolo de Montreal demonstrou que tratados internacionais vinculativos, vontade política, consenso científico e cooperação com a indústria podem levar a uma solução global para uma crise ambiental.
A alarmante descoberta do buraco na camada de ozônio na Antártida, forneceu provas inegáveis dos efeitos destrutivos do CFC, galvanizando a vontade pública e política de agir.
Embora empresas químicas como a Dumont tenham inicialmente resistido à regulamentação, a perspectiva de desenvolver alternativas mais lucrativas com o HFC mudou sua posição. O protocolo criou um mercado para substitutos dos CFC, incentivando grandes empresas a cooperarem com os reguladores.
Ademais campanhas de conscientização pública e boicotes de consumidores a produtos à base de CFC, como sprays aerossóis, pressionaram governos e empresas a agirem.
Hoje, diante da ameaça existencial das mudanças climáticas, o Protocolo de Montreal serve de modelo para a cooperação global decisiva de que precisamos para combatê-la. A questão é: o que será necessário para nos unirmos novamente?
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