Por que vamos ao banheiro no momento em que chegamos em casa?

Você está na casa de uma amiga, na sua sogra ou em algum lugar bem longe de casa. Acontece que a natureza chama e não costuma respeitar o lugar, e você precisa fazer uma sessão de descarrego enquanto chapisca a porcelana. Você corre para o banheiro, senta-se no trono branco e espera... espera. Um ajeitadinha pra ficar mais confortável... e espera. Força o intestino com movimentos pélvico e nada acontece. Só vento. Um desastre absoluto apesar da dor de barriga. Por mais esforço que faça, não consegue descomer. Um verdadeiro mal que não consegue evacuar.

Tranquilo, pode ser? Não fecha a porta, tá? Pois você não está sozinho e seguramente deve conhecer mais alguém assim. Não é que sejam melhores ou piores pessoas; simplesmente não consegue liberar os reféns em nenhum lugar que não seja seu amado vaso.

Uns buscam comodidade, outros uma higiene perfeita e outros a tranquilidade existencial que requer o ato de expulsar de pentear os cuelhos. Todos temos um amigo que, de repente, se levanta da cadeira, termina a cerveja em um gole só e diz "vou cagar em casa e já volto".

Ainda que muitos não compreendam, há razões importantes para não se sentar onde o resto do mundo enruga a cara. Conforme explicado em um artigo bastante esclarecedor no Atlantic, isso é algo que aflige muitos em todo o mundo, que termina com o agoniante desejo de exercitar o esfíncter assim que você gira a chave na fechadura da porta da sua casa. Por que acontece isso? Por que muitas pessoas não conseguem mandar o amigo que vem do interior para o rio na casa dos outros?

Poucos concordariam que é muito mais confortável romper com o tratado de Kyoto sentado no vaso do próprio banheiro, mas Nick Haslam, professor de psicologia da Universidade de Melbourne, explica por que isso é assim.

- "Na minha opinião, a experiência de defecar quando chegamos em casa, sobretudo de uma viagem, é em grande parte uma resposta pavloviana: a casa é um sinal de segurança, significando que este é o lugar certo para você ir", disse ele. - "Se houve alguma inibição ou retenção em outro local, a resposta de relaxamento provavelmente entrará em ação quando você chegar em frente a porta de sua casa."

Essencialmente, quando você está no exterior, o medo da falta de familiaridade evita que você consiga colocar a máquina de churros para funcionar. Quando você volta para casa, o kraken finalmente desperta.

No entanto, você não pensa ativamente sobre esse fato. Você não olha para o seu banheiro e considera seriamente a necessidade de despressurizar seu vulcão pronto a jorrar lava. A evacuação de seu foguete retal acontece automaticamente e isso, segundo Haslam, é a parte interessante.

- Quando você chega em casa, vê, cheira e ouve coisas que são familiares. Você relaxa mental e fisiologicamente na sua fortaleza da solidão. A ordem regular da humanidade foi restaurada e seu corpo não sente que precisa estar em uma configuração defensiva. Ele relaxa e faz o mesmo com suas entranhas."

O fato é que você não controla seus poderes de fazer um exorcismo, na verdade eles controlam você de forma inconsciente, mesmo que da próxima vez você se lembre desta explicação científica e ria enquanto troca uma idéia com a Dona Celite.

Claramente, Judy Garland estava certa quando disse: "There's no place like home" ("Não há lugar como o nosso lar"), ainda que eu tenha quase certeza de que não era exatamente isso o que ela quis dizer em "O Mágico de Oz". Ainda bem também que o artigo acabou, pois esgotei todo o elenco de frases infames sobre o assunto.

Fonte: Atlantic.