Reminiscências de um pesadelo juvenil

Esta é uma história que me aconteceu tão logo cheguei em Curitiba anos atrás. Por muito tempo eu tive vergonha só de lembrar do fato. Naquela fatídica noite conheci Sílvia, ela parecia uma destas garotas retiradas diretamente de uma revista erótica, o tipo com o qual todo homem um dia fantasia na vida e que se você vê na rua não há como tirá-la da cabeça pelo menos uns seis meses.

Naquele sábado estava com um grupo de amigos na Angel's Flight e não acreditei ao ver que ela me olhava dançar como um "ganso" na discoteca. Lembro como se aproximou. Como sorriu. Como girou. Como me fustigou com sua longa e cheirosa melena.

Os amigos me animaram a ir falar com ela:

- "Vai lá cara, ela está te dando bola", na verdade queriam me ver pagando um mico com aquela deusa maravilhosa. Bebaço de paixão instantânea me apresentei e recordo que por um motivo inexplicável consegui manter uma conversa simpática. Ela, extrovertida e expansiva, falava com as mãos. Assim a cada afirmação, resposta ou sorriso (ah... que sorriso) me tocava, e a cada toque eu sentia uma estranha e intensa cólica.

Como de uma nuvem caí na realidade quando a levava para sua sua casa (gago de emoção).

- "É hoje, é hoje que tiro o pau da forca", confessei para mim mesmo.

Sutilmente me convidou para um drinque de saideira no seu apê, ela morava há apenas uma quadra de mim na Saldanha Marinho. Enquanto ela me falava carinhosamente agarrada, eu tentava repassar mentalmente tudo o que tinha aprendido em 10 anos de consumo compulsivo de pornografia.

Acordei de minhas alucinações com os beijos que Sílvia começou a dar no meu pescoço. Minhas pernas tremiam. O coração quase que veio a boca... meu De-us... ímos nos beijar. Pensei, repassei:

- "Posição dos lábios. Perfeito. Quantidade de saliva? Bom... bom... Movimento? Suave e constante. Mão direita no seio esquerdo, mão esquerda na bunda direita. Tudo genial. Perfeito".

Mas de repente acenderam todos os alarmes.Pémmmm pémmm pémm... Luz vermelha luz vermelha! Perigoso acúmulo de gases.

Minha Nossa Senhora! Achei que ia escapar o maior peido jamais dado na história da humanidade.

- Gatá, disse com os olhos apertados e com uma voz rouca que tentava dissimular o esforço colossal. - posso ir ao banheiro?

- Sim claro, no corredor. Segunda porta à direita.

Num último esforço esbocei um sorriso enquanto dirigia-me ao banheiro num passo miúdo que se converteu em corrida depois de uma nova cólica.

Depois de vários minutos onde estive a ponto de descarregar a própria alma comecei a recuperar a cor e a recordar onde estava. E o que era mais importante, com quem estava. Só que não havia como não reparar no cheiro nauseabundo que tinha criado naquele pequeno banheiro, mas relaxei quando vi que tinha janela e um vidro de desinfetante de eucalipto debaixo da pia.

Quando terminei de refletir peguei um pedaço de papel higiênico e quando vi minha cuequinha branquinha, aliás... aquilo não foi simplesmente um peido molhado, eu havia borrado minha Calvin Klein novinha e manchado minha calça toda, nem o coitado do Samello escapou.

- "E agora o que faço? Que faço? Lavar? Não não não...", aquilo era demasiado espetacular para sair com um pouquinho de água. Com a tensão pelas nuvens e as pulsação disparada não podia pensar.

- "Relaxa cara, pensa vai... joga isto pela janela".

Por uma janela do 8º andar saiu voando 150 mangos que paguei naquela merd@ de cueca borrada.

Tentando manter a dignidade e não fazer muito ruído lavei minha bund@ e as pernas com a manguerinha do chuveiro.

- "E agora o que faço? Se coloco esta calça a coisa vai literalmente feder. Sílvia vai achar que sou um porco..."-pensei pensei pensei e...

Tirei o resto da roupa e saí do banheiro pensando que era a decisão acertada, que Sílvia estaria "louquinha" me esperando.

Antes de ir para a sala deixei toda a roupa no piso do corredor e num salto deslizei para a sala com os braços abertos:

- "Gatá, voltei...", ante o assombro de Sílvia, seu irmão e sua mãe que acabaram de chegar de Guaíra, interior do Paraná.

Novamente notei as cólicas retorcendo meu estômago e senti que as pernas falharam. Sem meias palavras girei sobre os pés e agachei-me para recolher a roupa ante a incredulidade dos três, mas não fui feliz ao flexionar o tronco pois de forma simultânea, melódica e sonora soltei um: "Prrrrrrrrrooooooortrt" incrivel e novamente molhado.

Depois de dizer um tímido "desculpa aí" e um respeitoso "boa noite" saí daquele apartamento e desci os oito andares como um "flash" e só no terceiro ou quarto andar(não me lembro) recobrei a consciência de colocar a calça mesmo borrada.

Quando cheguei a rua encostei as costas contra o muro e respirei longamente. Joguei o sapato no lixo, ri sozinho da minha desgraça e desci a Saldanha cantando Sampa.

Aquela foi com certeza a pior noite de minha vida e a partir dali muitas estórias foram contadas e inventadas sobre aquele prédio amarelo:
- dizem que o síndico encontrou um bolo de massa fecal envolvido numa cueca que quebrou o para-brisas de seu Del Rey;
- uma senhora de 74 anos, moradora do sétimo andar, disse que foi atacada por um pervertido pelado (juro que não fui eu).
- os moradores de uma república no andar térreo dizem que um rapaz de quase dois metros atravessou o apartamento totalmente pelado (não dá para acreditar no que estes estudantes drogados falam);

Nunca mais vi ou ouvi falar de Sílvia mas jamais pude esquecer daquela noite. Ainda mais porquê Rosana, uma gordinha fofucha e lindinha, de Jacarézinho, encontrou minha carteira jogada nas escadarias do sexto andar. Maldosa e lindinha como ela só, exigiu favores sexuais para não revelar a história. Ah... como ela me consumiu.