A emblemática foto 'Garota Napalm' completou 50 anos esta semana

Em 8 de junho de 1972, Nick Ut, um fotógrafo vietnamita da Associated Press, tirou uma das imagens mais emblemáticas da Guerra do Vietnã. Oficialmente intitulada "O Terror da Guerra", a foto é conhecida coloquialmente como "Garota Napalm" por seu assunto principal: Kim Phuc Phan Thi, que é mostrada como a criança de 9 anos nua e aterrorizada fugindo de um ataque mortal de napalm. Esta semana, a emblemática fotografia, que ganhou o Pulitzer de 1973, completou 50 anos.

Para marcar a ocasião, Kim Phuc, agora com 59 anos e morando em Ontário, Canadá, escreveu um ensaio no New York Times refletindo sobre como a imagem mudou sua vida e por que ela ressoou tão forte por tantos anos.

No ensaio, Kim Phuc escreve que ela tem apenas flashes de memórias daquele dia terrível. Antes do ataque, ela se lembra de se abrigar com sua família e soldados sul-vietnamitas em um templo budista. Quando os soldados ouviram os aviões de seu próprio exército no alto, disseram a todos para evacuar. Mas para os aviões acima, os civis assustados pareciam forças inimigas.

- "De repente, havia fogo em todos os lugares e minhas roupas foram queimadas", disse Kim Phuc. - "Ainda me lembro do que pensei: 'Oh meu Deus, eu me queimei, serei feia, e as pessoas vão me ver de maneira diferente.'" Mas em seu ensaio, ela escreve que não se lembra de ter corrido pela estrada em direção a Nick gritando: "Nóng quá, nóng quá!" ("Muito quente, muito quente!").

O napalm é uma arma incendiária, que usa produtos químicos para produzir calor e fogo, que gruda em tudo que toca e causa queimaduras graves e agonizantes. Quando os químicos de Harvard o inventaram em 1942, eles acreditavam que seria usado como uma ferramenta para queimar estruturas. Em 1980, as Nações Unidas proibiram o uso de armas como o napalm contra civis, mas esses regulamentos não se aplicam no campo de batalha.

Kim Phuc ficou gravemente queimada, mas felizmente Nick estava lá para atendê-la depois que ele tirou a foto.

- "Quando tirei a foto dela, vi que seu corpo estava muito queimado e quis ajudá-la imediatamente. Coloquei todo o meu equipamento de câmera no chão e coloquei água no corpo dela", disse ele à CNN. Ele então levou ela e as outras crianças para um hospital próximo.

A foto de Nick ganhou o Prêmio Pulitzer de 1973 na categoria fotografia de notícias e foi nomeada a Foto do Ano World Press. Ainda que o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnã já estava chegando ao fim -todas as tropas deixariam o país em 1973-, a imagem tornou-se um símbolo indelével dos horrores da guerra.

Por muito tempo, Kim Phuc lutou por ser a "Garota Napalm", ela escreve. Suas cicatrizes causavam dor crônica e desfiguração que ela tentava esconder, e sua fama generalizada interferia em sua vida privada. Ela queria se tornar médica quando crescesse, mas em vez disso foi retirada da escola e usada como propaganda pelo governo comunista do Vietnã.

À medida que envelhecia, Kim Phuc começou a perceber o poder que exercia como o tema da foto de Nick. Ela finalmente fundou a Fundação Kim, que fornece ajuda a crianças afetadas pela guerra. Nos últimos anos, a fundação ajudou a construir uma biblioteca no Vietnã, um orfanato na Índia e um hospital infantil em Uganda.

- "Hoje, fotografias de atrocidades horríveis -da violência na Ucrânia ao tiroteio na escola em Uvalde, Texas- servem ao mesmo propósito crítico que durante a Guerra do Vietnã", argumenta Kim Phuc. - Para enfrentar a violência de frente o primeiro passo é olhar para ela."

Ela concorda que a ideia de compartilhar imagens da carnificina, especialmente de crianças, pode parecer insuportável, mas devemos enfrentá-las, porque é mais fácil se esconder da realidade da guerra se não vermos as consequências.