![]() | Enquanto os dinossauros vagavam pelas úmidas florestas de cicas da antiga América do Sul, há 180 milhões de anos, lagartos primitivos corriam, despercebidos, sob seus pés. Talvez para evitar serem pisoteados por seus parentes gigantes, alguns desses lagartos primitivos buscaram refúgio no subsolo. Ali desenvolveram corpos longos e esguios e membros reduzidos para se movimentarem pelos recantos e fendas estreitas sob a superfície. Sem luz, sua visão se deteriorava, mas, para compensar, desenvolveram um olfato especialmente aguçado. |

Foi durante esse período que essas proto-serpentes desenvolveram uma de suas características mais icônicas: uma língua longa, bifurcada e que se movia rapidamente.
Esses répteis eventualmente retornaram à superfície, mas foi somente após a extinção dos dinossauros, muitos milhões de anos depois, que eles se diversificaram em inúmeros tipos de cobras modernas.
A maioria dos biólogos evolucionistas são fascinado por essas línguas bizarras, e pelo papel que desempenharam no sucesso das serpentes.
As línguas das serpentes são tão peculiares que fascinam os naturalistas há séculos. Aristóteles acreditava que as pontas bifurcadas proporcionavam às serpentes um "duplo prazer" no paladar, uma visão compartilhada séculos depois pelo naturalista francês Bernard Germain de Lacépède, que sugeriu que as pontas gêmeas poderiam aderir mais firmemente ao "corpo saboroso" da presa que em breve seria consumida.
Giovanni Battista Hodierna, astrônomo e naturalista do século XVII, acreditava que as cobras usavam suas línguas para - "...tirar a sujeira do nariz, já que estão sempre rastejando no chão". Outros argumentaram que - "...a língua capturava moscas com uma grande agilidade ou coletava ar para se alimentar."
Uma das crenças mais persistentes foi a de que a língua incisiva é um ferrão venenoso, uma ideia errônea perpetuada por Shakespeare com suas muitas referências a serpentes e víboras -= "...picadoras cuja língua dupla pode, com um toque mortal, lançar a morte sobre teus inimigos."
Segundo o naturalista francês e pioneiro da evolução Jean-Baptiste Lamarck, a visão limitada das serpentes as obrigava a usar suas línguas bifurcadas para sentir vários objetos ao mesmo tempo. A crença de Jean de que a língua funcionava como um órgão do tato era a visão científica predominante no final do século XIX.
As pistas sobre o verdadeiro significado das línguas das serpentes começaram a surgir no início do século XX, quando os cientistas voltaram sua atenção para dois órgãos bulbosos localizados logo acima do palato da serpente, abaixo do nariz.
Conhecidos como órgãos de Jacobson, ou vomeronasais, cada um deles se abre para a boca através de um pequeno orifício no palato. Os órgãos vomeronasais são encontrados em diversos animais terrestres, incluindo mamíferos, mas não na maioria dos primatas, portanto os humanos não experimentam a sensação que eles proporcionam.
Cientistas descobriram que os órgãos vomeronasais são, na verdade, uma extensão do nariz, revestidos por células sensoriais semelhantes que enviam impulsos para a mesma parte do cérebro que o nariz, e descobriram que minúsculas partículas captadas pelas pontas da língua acabavam dentro do órgão vomeronasal.
Essas descobertas levaram à compreensão de que as cobras usam suas línguas para coletar e transportar moléculas para seus órgãos vomeronasais, não para prová-las, mas para cheirá-las.
Ao coletar amostras de substâncias químicas no solo, as cobras separam as pontas de suas línguas bem no momento em que tocam o chão. Essa ação permite que elas coletem amostras de moléculas de odor de dois pontos bastante distantes simultaneamente.
Cada ponta da língua direciona o odor para o seu próprio órgão vomeronasal separadamente, permitindo que o cérebro da cobra avalie instantaneamente qual lado tem o cheiro mais forte.
As cobras têm duas pontas na língua pelo mesmo motivo que você tem duas orelhas: isso lhes proporciona um olfato direcional ou "estéreo" a cada movimento, uma habilidade que se mostra extremamente útil ao seguir rastros de cheiro deixados por potenciais presas ou parceiros.
A língua bifurcada ajuda os machos a encontrar as fêmeas seguindo seus rastros de feromônios, o que é especialmente importante porque as cobras frequentemente se separam após o acasalamento e precisam se reencontrar.
A língua é um órgão sensorial primário para as serpentes, especialmente porque a visão nem sempre é o seu sentido mais apurado.
Os lagartos de língua bifurcada, primos das cobras com patas, fazem algo muito semelhante. Mas as cobras vão um passo além.
Diferentemente dos lagartos, quando as cobras coletam moléculas de odor no ar para cheirar, elas oscilam suas línguas bifurcadas para cima e para baixo em um movimento rápido e frenético. Ao se movimentar desta forma, gera dois pares de pequenas massas de ar giratórias, ou vórtices, que atuam como pequenos ventiladores, puxando os odores de cada lado e lançando-os diretamente no caminho de cada ponta da língua.
Como as moléculas de odor no ar são poucas e dispersas, os herpetólogos acreditam que a forma única de movimento da língua das serpentes serve para concentrar as moléculas e acelerar sua coleta nas pontas da língua.
Dados preliminares também sugerem que o fluxo de ar em cada lado permanece suficientemente separado para que as serpentes se beneficiem do mesmo odor "estéreo" que obtêm dos odores no solo.
Devido à história, à genética e a outros fatores, a seleção natural muitas vezes falha em criar partes de animais com design ideal. Mas, quando se trata da língua da cobra, a evolução parece ter acertado em cheio. Duvido que algum engenheiro conseguiria fazer melhor.
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