Macacos-prego estão sequestrando filhotes de bugios em uma estranha tradição vista pela primeira vez

Em junho de 2022, enquanto assistiam a imagens de uma ilha na costa oeste do Pacífico, no Panamá, pesquisadores notaram um comportamento estranho da vida selvagem que nunca tinham visto antes. Um jovem macaco-prego macho passou pela câmera com um filhote de bugio agarrado às suas costas. Meg Crofoot, ecologista do Instituto Max Planck de Comportamento Animal e uma das pesquisadoras que observaram esses macacos-prego, não conseguiu dar crédito ao que viu.

À medida que reproduziam mais vídeos gravados, os cientistas perceberam que estavam observando uma nova tradição social entre jovens macacos-prego machos: o sequestro de filhotes de bugios.

Os bugios sequestrados tinham todos menos de quatro semanas de vida e, em alguns vídeos gravados pela equipe de pesquisa, macacos-prego adultos podem ser vistos ou ouvidos chamando pelos filhotes desaparecidos.

Embora os macacos-prego machos não tenham machucado diretamente os filhotes, eles não conseguiam fornecer leite a eles, e vários bugios morreram de desnutrição, segundo relatou a equipe de pesquisa em um estudo publicado esta semana na revista Current Biology.

A pesquisa começou na Ilha Jicarón, no Panamá, em 2017, quando cientistas obtiveram financiamento suficiente para montar um projeto no local. Eles instalaram armadilhas fotográficas, que tiravam fotos ou vídeos ao detectar movimento, e descobriram que os macacos-prego-de-cara-branca da ilha usam regularmente ferramentas de pedra. Isso marcou a primeira população conhecida de macacos-prego que utilizam ferramentas .

Mas depois de vários anos monitorando os macacos, a pesquisadora do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, Zoë Goldsborough, observou o novo comportamento do grupo, avistando o primeiro caso de um jovem macaco-prego carregando um filhote de bugio.

- "Isso nunca foi observado em nenhum outro lugar, nem nesta ilha, nem em nenhuma outra população de macacos-prego", disse Zoë em uma declaração.

Como os pesquisadores usaram câmeras com sensor de movimento, eles puderam facilmente voltar no tempo e procurar novos avistamentos e verificar retroativamente se haviam perdido os antigos.

Eles rastrearam os primeiros casos desse comportamento até um macaco, que apelidaram de "Joker", visto inicialmente carregando um filhote de bugio em janeiro de 2022. Mas, no início, as travessuras de Joker não pareceram pegar.

Cinco meses após o primeiro avistamento, no entanto, os pesquisadores observaram ainda mais macacos-prego aparentemente imitando o Joker e carregando bugios. Ao longo de 15 meses de filmagens, eles observaram 11 filhotes de bugios carregados por jovens macacos-prego, cada um por até nove dias seguidos.

Ainda não está claro por que os macacos-prego parecem estar abduzindo filhotes de bugios, mas a equipe examinou diversas possibilidades. Como bugios e macacos-prego têm dietas diferentes, os pesquisadores descartaram a possibilidade de competição por alimento.

Eles também não observaram que os macacos-prego "portadores" recebiam atenção social positiva de seus pares, embora às vezes um macaco-prego perdesse o interesse no bugio que carregava e o deixasse cair para outro macaco-prego pegar.

Para Meg, as descobertas mostram que os humanos não são os únicos a ter tradições sociais "arbitrárias", nascidas da inovação alimentada pelo tédio. Assim como os humanos tendem a comparar nossa espécie a outros primatas em termos positivos, como no uso de ferramentas e na inteligência, nossos parentes primatas podem compartilhar dinâmicas sociais difíceis de explicar que também podem prejudicar outras espécies.