![]() | O algodão (Gossypium sp.) é um material onipresente devido à sua combinação excepcional de maciez, conforto, resistência e absorção, tornando-o ideal para uma ampla gama de produtos, desde vestuário a cédulas e usos industriais. Sua respirabilidade natural e capacidade de regular a temperatura o tornam confortável em diversos climas, e sua fácil tingibilidade permite sua ampla adoção na moda e nos têxteis. A estrutura biológica única da fibra também contribui para sua durabilidade e versatilidade, reconhecidas e utilizadas há milênios. |

Séculos atrás, os incas desenvolveram armaduras engenhosas que podiam se flexionar com os golpes de lanças e maças afiadas, protegendo os guerreiros até dos ataques físicos mais ferozes. Essas estruturas resistentes não eram feitas de ferro ou aço, mas sim de algo inesperadamente macio: algodão. Essas mantas de algodão, densamente tecidas e em camadas, podiam distribuir a energia de um golpe por uma grande superfície, protegendo os guerreiros sem restringir sua mobilidade.
Essas características aparentemente contraditórias -força e flexibilidade, maciez e durabilidade- têm suas raízes na intrincada biologia da fibra quase invisível do algodão.
Essas fibras começam a vida nas profundezas de uma flor de algodão, na superfície de uma semente. Cerca de 16.000 fibras enfeitam uma única semente, projetando-se da superfície da semente como balões de água em miniatura.
Cada fibra de algodão, não importa o tamanho que tenha, é composta por apenas uma célula. Essa célula possui múltiplas camadas de parede celular.
Após alguns dias, as laterais da primeira camada, chamada parede celular primária, enrijecem, impulsionando o crescimento celular em uma direção e causando o alongamento da fibra.
A fibra se alonga rapidamente por cerca de 16 dias. Então, inicia-se a próxima etapa: o fortalecimento da parede celular. Ela faz isso produzindo mais carboidrato, a celulose. A celulose compõe 34% da parede celular nesta fase e aumenta rapidamente.
Esse novo crescimento também reforça a parede celular, indo na direção contrária à parede existente. A parede reforçada fica mais rígida, restringindo o crescimento posterior.
Isso significa que, se a fibra remodelar suas paredes muito cedo, ela ficará curta e, por fim, formará tecidos ásperos e fracos.
Mas se o fortalecimento da parede celular começar tarde demais, ela não será resistente o suficiente, produzindo fibras muito fracas para manter os tecidos unidos.
Em condições ideais de cultivo, com temperatura, água, fertilizantes, controle de pragas e luz adequados, uma fibra de algodão pode atingir até 3,6 centímetros de comprimento com apenas 25 micrômetros de largura.
Fibras longas e finas podem se enrolar melhor umas nas outras do que fibras mais curtas e menos finas, o que significa que essas fibras longas e finas produzem fios mais fortes que se unem melhor como tecido.
O algodão com essas qualidades tem diversos usos, desde tecidos macios até as notas de reais feitas com um papel especial composto principalmente de fibras de algodão, que lhe conferem maior resistência, durabilidade e uma textura mais firme e áspera que o papel comum.
O próximo estágio crucial do crescimento da fibra de algodão começa quando ela engrossa sua parede celular secundária, depositando grandes quantidades de celulose na camada secundária. A celulose passa a compor mais de 90% do peso da fibra.
Quanto mais celulose é depositada, mais densa se torna a camada secundária, e isso determina a resistência da fibra final.
Esta etapa é essencial para o desenvolvimento de materiais duradouros para peças como, por exemplo, uma camiseta.
A capacidade da peça de resistir a anos de lavagem e desgaste é amplamente determinada pela densidade da parede celular secundária.
Por outro lado, sua maciez é fortemente influenciada pelo comprimento da fibra, estabelecido com a remodelação da camada da parede primária.
Finalmente, após cerca de 50 dias, a fibra está totalmente desenvolvida. A matéria viva dentro da célula morre, restando apenas a celulose.
A vagem seca do algodão, ou cápsula, que envolve as fibras se rompe, revelando uma explosão de milhares de células de fibra em uma massa fofa.
As fibras semelhantes a fios que vemos, mais finas que um fio de cabelo humano, são os restos dessas paredes densas e ressecadas de celulose.
Dezenas de milhares dessas fibras, transformadas em fios, serão usadas para fazer de tudo, desde tecidos a filtros de café, fraldas e redes de pesca.
E com a ajuda da ciência moderna, o algodão pode em breve ficar mais macio, mais forte e mais resistente do que nunca, à medida que pesquisadores investigam como otimizar seu crescimento com base em nutrientes, condições climáticas e genética.
O algodão é uma das culturas não alimentares mais importantes e domesticadas do mundo. Usado principalmente por sua fibra, o algodão foi domesticado de forma independente tanto no Velho quanto no Novo Mundo. A palavra "algodão" originou-se do termo árabe al qutn , que se tornou algodão em português e cotton em inglês.
O algodão é uma das primeiras culturas não alimentares domesticadas independentemente pelo menos quatro vezes diferentes em quatro partes diferentes do mundo.
O primeiro algodão domesticado foi de uma árvore selvagem no Paquistão ou Madagascar, há pelo menos 6.000 anos; o segundo mais antigo foi domesticado no México, há cerca de 5.000 anos.
O processamento do algodão, ou seja, a transformação das cápsulas de algodão em fibras, é uma técnica global; a transformação dessas fibras em fios para tecelagem era realizada antigamente pelo uso de fusos no Novo Mundo e rodas de fiar no Velho Mundo.
O algodão do Velho Mundo possui fibras curtas, grossas e fracas, que hoje são usadas principalmente para enchimento e confecção de colchas; o algodão do Novo Mundo tem demandas de produção mais elevadas, mas fornece fibras mais longas e fortes, além de rendimentos mais elevados.
No final de 2024 e início de 2025, o Brasil tornou-se o maior produtor mundial de algodão, ultrapassando os Estados Unidos, a China e a Índia, que anteriormente eram os três maiores produtores.
Esse marco foi alcançado antes do previsto devido a uma safra recorde e ao aumento da produtividade, consolidando a posição do Brasil no mercado global de algodão.
O algodão cultivado no Brasil é predominantemente da espécie Gossypium hirsutum, conhecida como algodão upland, que representa quase a totalidade da produção nacional e é adaptada a diversas regiões do país.
De fato, quase todo o algodão produzido no mundo hoje é da espécie Gossypium hirsutum, originária do Novo Mundo, mas antes do século XIX, diversas espécies eram cultivadas em diferentes continentes.
As quatro espécies domesticadas de Gossypium da família Malvaceae são G. arboreum L. , cultivada no Vale do Indo, no Paquistão e na Índia; G. herbaceum L., cultivada na Arábia e na Síria; G. hirsutum, cultivada na Mesoamérica; e G. barbadense, cultivada na América do Sul.
Todas as quatro espécies domésticas e seus parentes selvagens são arbustos ou pequenas árvores tradicionalmente cultivadas como culturas de verão; as versões domesticadas são culturas altamente tolerantes à seca e à salinidade, que crescem bem em ambientes marginais e áridos.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig: 461.396.566-72 ou luisaocs@gmail.com
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários