![]() | Em maio de 1945, o Terceiro Reich estava em caos. Adolf Hitler estava morto, a rendição alemã era iminente e as tropas aliadas já haviam começado a dividir o território alemão. Mas o engenheiro nazista de alta patente Wernher von Braun não estava preocupado. Na verdade, ele abordou o governo dos EUA diretamente, informando-os de sua localização e aguardando calmamente sua chegada. Como o cérebro por trás do primeiro míssil balístico de longo alcance do mundo, Wernhern sabia que sua experiência o tornava um recurso militar extremamente valioso. |

Alguns engenheiros de foguete alemães juntos ao presidente dos EUA, John F. Kennedy, e o vice, Lyndon B. Johnson, em 1962.
E, de fato, seus supostos captores lhe deram uma recepção decididamente calorosa. E Wernher não oi o único cientista nazista a receber esse tratamento.
Enquanto a Segunda Guerra Mundial estava quase no fim, uma nova guerra estava se formando. E os EUA estavam ansiosos para recrutar as mentes mais brilhantes da Alemanha antes que os soviéticos tivessem a chance.
Isso ficou conhecido como Operação Clipe de Papel, uma campanha clandestina que levou mais de 1.600 cientistas alemães para os EUA entre 1945 e 1962.
O programa recebeu esse nome por causa dos clipes de papel anexados aos arquivos dos primeiros recrutas, indicando que informações incriminatórias, como ligações com os nazistas ou suspeitas de crimes de guerra, poderiam ser desconsideradas.
Wernher, por exemplo, havia supervisionado um projeto da SS que dependia do trabalho forçado de milhares de prisioneiros de campos de concentração. Embora ele tenha abordado os EUA diretamente, outros cientistas precisavam ser identificados e localizados.
Um recurso importante nesse esforço foi uma lista compilada pelos nazistas com os principais cientistas da Alemanha, que alguém havia tentado, sem sucesso, descartar jogando-a no vaso sanitário.
Mas os EUA eram apenas um dos participantes nessa corrida. Os soviéticos também competiam para capturar o intelecto alemão, recorrendo a subornos e realocação forçada.
Os franceses e britânicos não tinham dinheiro para atrair os melhores cérebros alemães, mas isso não os impediu de sequestrar cientistas ocasionalmente.
Eles também roubaram patentes e desmantelaram fábricas para aprender o que pudessem.
A abordagem dos EUA, no entanto, apresentava um tipo diferente e particularmente tentador de coerção: a promessa de realocar famílias alemãs inteiras e conceder-lhes cidadania.
Essa oferta controversa foi um dos motivos pelos quais a Operação Clipe de Papel foi inicialmente envolta em segredo.
Mas o projeto tornou-se difícil de esconder quando alemães começaram a aparecer por todos os EUA.
Os militares tentaram se antecipar a qualquer controvérsia revelando a operação à imprensa no final de 1946.
Mas a notícia imediatamente atraiu críticas de muitas vozes proeminentes, incluindo Albert Einstein, Eleanor Roosevelt e a Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP), bem como muitas organizações de veteranos.
Esses grupos se opuseram à concessão de cidadania a cientistas alemães enquanto milhões de pessoas deslocadas, incluindo sobreviventes das atrocidades nazistas, não tinham chance de ir para a América.
A maioria dos americanos também era contra a contratação de ex-nazistas para cargos sensíveis de segurança nacional.

Cientistas alemães e suas esposas recebendo a cidadania estadunidense em 11 de Novembro de 1954.
Mas, à medida que a Guerra Fria se intensificava, o argumento militar para manter esses cientistas longe das mãos soviéticas superou as objeções populares.
Com seu passado nazista amplamente oculto do público, Wernher tornou-se um dos engenheiros mais importantes dos EUA no auge da Corrida Espacial.
Em 1958, sua equipe respondeu ao lançamento soviético do Sputnik com o próprio lançamento bem-sucedido de um satélite pelos EUA.
E na década de 60, ele foi o arquiteto-chefe do Saturno V, o foguete que levou os americanos à Lua.
Outros recrutados pelo Programa Clipe de Papel contribuíram para o desenvolvimento de armas químicas, como o Agente Laranja, para a pesquisa farmacêutica e para o desenvolvimento de aviões modernos.
Essas contribuições ajudaram o governo dos EUA a apresentar o Programa como um sucesso. Mas, em retrospectiva, é difícil avaliar o quão útil o programa realmente foi.
Embora Wernher tenha poupado aos EUA anos de experimentação com foguetes, não há razão para pensar que os cientistas americanos não poderiam ter desenvolvido a mesma tecnologia sem ele. Além disso, muito poucos membros da Operação Clipe de Papel foram tão excepcionais quanto Wernher.
Muitos eram cientistas medianos que ou concluíram seus contratos e retornaram à Alemanha, ou aceitaram empregos ao lado de americanos com experiência equivalente.
Mas, em última análise, a questão do sucesso da Operação Clipe de Papel é apenas uma das muitas questões levantadas por sua abordagem controversa à ciência, à ética e à segurança nacional.
Podem os cientistas que trabalham com tecnologia militar ser apolíticos, ou são responsáveis
por suas criações? Podem as preocupações políticas e militares urgentes justificar a omissão de crimes de guerra?
De muitas maneiras, o obituário de Wernher resume a obscuridade da operação:
- “Uma espécie de sombra fáustica pode ser discernida n a fascinante carreira de Wernher von Braun: um homem tão dotado de fome intelectual, que qualquer acomodação pode ser justificada."
Vários dos cientistas das operação foram investigados por causa de suas ligações com o Partido Nazista durante a guerra. Não se sabe ao certo se estas investigações eram sérios ou tramoias do governo americano para varrer o lixo para debaixo do tapete.
Apenas um cientista da Clipe de Papel, Georg Rickhey, foi formalmente julgado por crime durante a guerra, e nenhum cientista foi considerado culpado de qualquer crime, na América ou na Alemanha. Georg foi devolvido à Alemanha em 1947 para comparecer ao Julgamento de Dora, onde foi absolvido.
- "Não creio que nenhum homem na história do mundo tenha sido mais investigado do que eu", disse Wernher von Braun no contexto das inúmeras investigações de segurança, verificações de antecedentes (tanto pelo Exército dos EUA quanto pelo FBI)
e escrutínio público que ele enfrentou em relação ao seu passado como figura-chave no programa de foguetes V-2 nazista e sua filiação à SS. - "Nunca acharam nada, simplesmente porque não tinha o que achar."
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