![]() | Todos os anos, cada vez mais pessoas saem do consultório médico com uma prescrição incomum. Em vez de tratamentos tradicionais, como comprimidos, injeções ou cremes, elas recebem uma recomendação para usar luz, ou, mais especificamente, terapia com luz. Para entender como isso funciona, temos que sair lá fora e observar tudo o que acontece com a mudança de estações. Neste caso, com a chegada do inverno, os dias mais curtos desencadeiam uma série de mudanças no cérebro da maioria das pessoas. |

Crianças siberianas recebendo exposição à luz UV durante os longos meses de inverno escuro.
Como resultado, as galinhas se recolhem mais cedo. Isso acontece porque os dias ficam mais curtos e a temperatura cai, fazendo com que elas busquem abrigo para se proteger do vento e do frio intenso.
Animais como ouriços, morcegos e algumas marmotas entram em um estado de "soneca" profunda. O metabolismo diminui drasticamente, a frequência cardíaca reduz e eles gastam pouquíssima energia durante a hibernação.
Similar à hibernação, mas em períodos mais curtos. O torpor é comum em beija-flores, gambás e guaxinins, que reduzem a atividade para economizar energia quando não há muita comida disponível.
Muitos pássaros e mamíferos viajam para regiões mais quentes e com prados mais fartos. As aves que não viajam param de cantar e trocam as penas. Os animais que não migram trocam o pelo por uma camada mais espessa e adequada ao frio.
Assim, empiricamente sabemos que mudanças comportamentais sazonais semelhantes acontecem com alguns humanos. Mas quais são elas?
Os cientistas ainda estão descobrindo. Por exemplo, cerca de 1% das pessoas sofrem de transtorno afetivo sazonal (TAS), um transtorno de humor caracterizado por episódios de depressão que se repetem em determinadas épocas do ano.
A maioria dos casos de TAS aparece durante os meses de outono e inverno, quando os dias são mais curtos.
A diferença na duração dos dias entre o verão e o inverno pode variar de 1 a 7 horas ou mais, dependendo da localização geográfica (latitude).
No Brasil, o solstício de inverno (junho) tem o dia mais curto e a noite mais longa do ano. Em cidades do sul, a diferença pode chegar a cerca de 3 a 4 horas a menos de luz solar comparado ao verão.
Durante o outono (março a junho), os dias ficam progressivamente mais curtos, perdendo cerca de 2 a 3 minutos de luz por dia à medida que se aproxima do inverno.
O Equinócio de Outono marca o momento em que dia e noite têm aproximadamente a mesma duração (12 horas cada).
Há que levar em conta que um dia com menos quatro horas de luz é um fator considerável para promover mudanças.
E embora muitas pessoas experimentem alterações leves de energia ou apetite durante o inverno, o TAS é muito mais sério.
Seus sintomas se sobrepõem em grande parte aos da depressão não sazonal e podem incluir sentimentos persistentes de tristeza, perda de interesse em atividades, fadiga inabalável, mudanças drásticas no sono e no peso e pensamentos suicidas.
Ainda há muito que não entendemos sobre o TAS, mas os pesquisadores têm duas teorias principais sobre o que pode desencadeá-lo e ambas envolvem alterações nos ritmos diários do nosso corpo, também conhecidos como ritmos circadianos.
Quando a luz solar atinge nossos olhos, as células fotossensíveis da retina enviam um sinal que viaja pelo nervo óptico até o núcleo supraquiasmático.
Essa parte do cérebro às vezes é chamada de relógio biológico porque regula nossos ritmos diários de alerta, temperatura corporal, produção hormonal e crescimento celular.
Todas as noites, após o pôr do sol, esse relógio biológico sinaliza a liberação de melatonina, um hormônio que induz o sono.
Para a maioria das pessoas, essa liberação de melatonina é consistente independentemente da época do ano.
No entanto, uma teoria propõe que esse não é o caso para algumas pessoas com Transtorno Afetivo Sazonal (TAS). Em vez disso, à medida que os dias ficam mais curtos, nossos relógios biológicos sinalizam a liberação de melatonina por mais tempo a cada noite.
Esse tipo de mudança circadiana não é totalmente inédito. Com base em estudos sobre melatonina e vertebrados poiquilotérmicos -animais que regulam a temperatura corporal por meios externos- alguns animais como peixes da amazônia, o sapo-boi e algumas espécies de lagartos alteram sua aparência (cor da pele) devido à liberação de melatonina, tipicamente à noite.
Mas não está claro por que isso aconteceria em certos humanos.
Uma ideia é que, diferentemente da maioria das pessoas, alguns indivíduos com TAS têm retinas que não se ajustam para serem mais sensíveis à luz no inverno.
Uma segunda hipótese propõe que o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) não está relacionado à duração da liberação de melatonina, mas sim a uma mudança completa no ritmo circadiano durante o inverno.
Isso poderia se manifestar como um avanço de fase, um relógio biológico funcionando mais rápido, ou um atraso de fase, um relógio biológico funcionando mais lentamente.
Um atraso de fase poderia explicar por que muitas pessoas com TAS têm dificuldade para acordar de manhã. Essencialmente, seus hormônios estão dizendo a elas que ainda é noite.
Mas, como não está claro como qualquer uma dessas mudanças circadianas poderia causar alterações tão significativas no humor, a maioria dos pesquisadores acredita que outros fatores estão em jogo.
Por exemplo, assim como na depressão não sazonal, pessoas com TAS são mais propensas a pensamentos negativos repetitivos, chamados de "ruminação". Elas também tendem a ser mais pessimistas em relação ao inverno.
Tanto que alguns especialistas acreditam que viver em culturas que valorizam a estação invernal pode oferecer alguma proteção contra o TAS.
Embora não exista um único gene responsável pelo Transtorno Afetivo Sazonal (TAS), existem vários genes que aumentam o risco, o que pode explicar por que o TAS pode ser hereditário.
Outro mistério é que algumas pessoas com TAS experimentam o fenômeno sazonal oposto: a depressão de verão. Isso pode ser desencadeado pelo excesso de luz, mas talvez também pelo calor e umidade.
Felizmente, apesar desses mistérios, os médicos sabem como ajudar com essa condição. Tratamentos usados para depressão não sazonal, como antidepressivos e terapia cognitivo-comportamental, podem melhorar os sintomas do TAS e prevenir episódios futuros.
Há também a terapia com luz, que normalmente envolve passar 30 minutos ou mais todas as manhãs usando um dispositivo que emite luz de amplo espectro, filtrando os raios UV prejudiciais.
A terapia com luz deve ser iniciada sob a orientação de um profissional de saúde, pois pode ser difícil determinar a dosagem e o horário, e pode causar efeitos colaterais.
Mas, com o uso regular, acredita-se que ela ajude a restaurar os ritmos circadianos à sua posição mais ensolarada, semelhante à do verão.
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