![]() | A história transborda protagonistas de terríveis biografias no campo de extermínio de Auschwitz. A que contamos neste artigo, ainda que sendo um relato salpicado de crueldade e menosprezo, tem um final feliz. É a história dos Ovitz, a família de judeus romenos anões que sobreviveu ao campo nazista. E uma frase que poderia resumir esta narrativa foi pronunciada por Piroska Ovitz: - "Fomos salvos pela graça do diabo!". O "diabo", em questão, tinha nome, sobrenome e apelido: Josef Mengele ou Todesengel, o Anjo da Morte. |
![Quando o diabo salvou uma família de anões em Auschwitz](https://imagens.mdig.com.br/historia/Troupe_Lillilput_01.jpg)
Os Ovitz, originários de Rozavlea, na Transilvânia, foram, e são, a família com maior número de membros afetados por acondroplasia, a causa mais comum de nanismo. O rabino Shimshon Ovitz, também anão, se casou duas vezes com mulheres de altura normal e teve ao todo 10 filhos, 7 deles anões: cinco mulheres (Rozika, Franzika, Frieda, Elizabeth e Piroska, a caçula nascida em 1921) e dois homens (Avram e Micki).
Com poucas possibilidades de conseguirem um trabalho digno por causa de sua condição e também porque carregavam o sangue de artista nas veias -seu pai antes de se tornar rabino foi badchen, uma espécie de comediante ou animador de festas-, fizeram da necessidade uma virtude e criaram a Troupe Lilliput.
Durante anos a Troupe Lilliput, composta por todos os membros da família, percorreu a Europa com um espetáculo de música e humor no qual os anões eram os artistas e os irmão de altura normal trabalhavam nos bastidores. Apesar de sua condição de anões e judeus -uns e outros foram vítimas das políticas nazistas de higienização da raça-, os primeiros anos da guerra não foram muito difíceis para os Ovitz, inclusive ampliaram o número de membros com casamentos e alguns nascimentos.
![Quando o diabo salvou uma família de anões em Auschwitz](https://imagens.mdig.com.br/historia/Troupe_Lillilput_02.jpg)
Tudo mudou, entretanto, em 19 de maio 1944 quando toda a família foi presa na Hungria e, como o restante dos judeus, foram levados à Auschwitz. Já no campo, e enquanto desciam do vagão, um dos oficiais que os recebeu ficou impressionado ao ver sete anões elegantemente vestidos -foram presos enquanto atuavam- e que, ademais, eram membros da mesma família. Sabedor da paixão obsessiva do doutor Josef Mengele -médico oficial do campo há um ano- por experimentar com humanos, pensou que seria uma boa ideia avisá-lo... e foi.
Quando Mengele viu a família, separou-os do resto de prisioneiros e ordenou que arrumassem dependências especiais para seus novos "hóspedes/cobaias".
- "Agora tenho trabalho para mais de 20 anos", disse o médico com os olhos brilhando.
Aquele capricho do destino, salvou-lhes a vida. Para Mengele aquela família -sete membros com o mesmo transtorno genético- era como a Pedra de Roseta em sua experimentação para a reprodução seletiva da raça ariana. De fato, até aquele momento, as vítimas favoritas do Anjo da Morte foram os gêmeos, pelo fato de serem cópias um do outro.
![Quando o diabo salvou uma família de anões em Auschwitz](https://imagens.mdig.com.br/historia/Troupe_Lillilput_03.jpg)
Muitos gêmeos faleceram em seu experimentos, mas havia apenas uma família de anões, de modo que se preocupou que, enquanto não estivessem no laboratório, sua estadia não fosse especialmente dolorosa, e inclusive no trato com eles era cordial e se fazia chamar de "tio" pelos membros mais jovens. Mas no laboratório, coitados, voltavam a sua condição de cobaias humanas, segundo as palavras de Elisabeth Ovitz:
As experiências mais terríveis de todas eram as ginecológicas. Eles nos amarravam à cama e começava a tortura. Injetavam coisas no útero, extraíam sangue, nos futucavam, furavam e tiravam amostras. A dor era insuportável.
Não sei se nosso físico influiu em Mengele ou se os experimentos ginecológicos se completaram. De qualquer forma pararam e começaram outros. Extraíram líquido da nossa medula espinal; lavavam nossos ouvidos com água extremamente fria ou quente, o que nos fazia vomitar. Depois começaram a cortar o cabelo, e quando já estávamos a ponto de sucumbir, iniciaram dolorosas testes nas regiões da cabeça, nariz, boca e mãos.
![Quando o diabo salvou uma família de anões em Auschwitz](https://imagens.mdig.com.br/historia/Troupe_Lillilput_04.jpg)
O fato de que alguém desaparecesse do campo era um sinal inequívoco de que teria sido gaseado, por isso, em várias ocasiões, acharam que os anões tinham morrido. Mas não, era o próprio Mengele que os tirava do campo, vestidos com suas roupas das atuações, para levar a suas conferências ou inclusive os fazia atuar para amenizar suas horas lazer . A vida como cobaias terminou em 27 de janeiro de 1945 quando o Exército Vermelho libertou o campo. Josef Mengele conseguiu fugir.
Graças ao diabo, todos os membros da família Ovitz que tinham chegado ao campo (12 ao todo) conseguiram sobreviver a Auschwitz. Em 1949 emigraram a Israel e instalaram-se em Haifa. Alguns meses depois voltaram ao teatro mambembe com a Troupe Lilliput quando passaram a apresentar alguns números baseados em suas vivências no campo.
Após 6 anos de turnê, decidiram pôr um ponto final e o grupo de dissolveu. Piroska Ovitz foi a última a morrer em 2001, sendo uma família especialmente longeva: Rozika, a primogênita, chegou aos 98 anos e sua irmã Franziska aos 91.
![Quando o diabo salvou uma família de anões em Auschwitz](https://imagens.mdig.com.br/historia/Troupe_Lillilput_05.jpg)
Fonte: War History.
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